BAILE DOS MASCARADOS
BAILE DOS MASCARADOS
Enquanto uma névoa branca turva o ar, rainhas, reis, baronesas, barões, corsários, dançarinas, libertinas, coronéis, pierrôs e colombinas misturam-se mascarados nas ruas em busca da emoção do carnaval.
Hoje quando acordei sentia dores de cabeça e decidi não ir às ruas para o carnaval. Contrariada, guardei minha fantasia, e tentei repousar, decidindo também que não iria mais ao baile. Difícil tomar uma decisão desta, pois há muito me preparo para o carnaval e trabalho as fantasias.
Sobre o sofá a fantasia de pirata com chapéu listrado da mesma cor da máscara, que fiz para meu marido sabendo que ele ficaria muito bem nela. Quando ele chegou do trabalho, eufórico para sair mascarado pelas ruas, titubeou vendo meu estado letárgico. Mas o convenci a ir sozinho pois ele certamente encontraria seus amigos e ficaria à vontade com eles. E ele foi usando a fantasia que confeccionei com carinho.
A noite foi passando e eu já me sentia bem melhor quando resolvi ir ao baile surpreender meu esposo com uma bela fada dourada. Lá chegando andei pelo salão e notei não haver outra fada dourada entre os foliões o que me fez sentir bem. No entanto o que veio em seguida me cortou o coração, deparei com uma cena deplorável: meu marido, o pirata, estava aos beijos com uma bailarina de cabaret. Senti muita dor, e um gosto enorme de vingança por aquela traição. Corri pelo salão até encontrar um folião desacompanhado e encontrei um discreto pierrô. Cortejei, sorri, e acenei para ele discretamente. Saímos para a varanda e trocamos engalfinhados beijos. Parecíamos antigos namorados, de bocas já conhecidas e apaixonados.
Madrugada já alta, consciência pesada eu resolvi partir sem me identificar. Deixei para trás a raiva e o mistério.
Em casa encontrei meu marido, sentado na poltrona do hall, à minha espera. Pisando duro entrei encarando-o friamente. Ao ver-me assustou-se e demonstrou tristeza. Pediu que eu esperasse, pois ele queria me contar como tinha sido sua noite. Eu não queria ouvi-lo, minha dor era grande e me fazia surda naquele momento. Mas sua voz doída arrastou-se para mim e me calou. Disse que não se sentiu bem indo ao baile sozinho e emprestou sua fantasia para o amigo Francisco que acabou por encontrar uma bela bailarina na festa. Contou sussurrando com voz sôfrega, que saiu do salão e foi para a casa de seus pais fazer uma visitinha, pensou em ligar para avisar-me, mas não quis acordar-me, jantou com eles e acabou adormecendo diante da televisão. Acordou assustado às três e quarenta e cinco da madrugada, e voltou cambaleante ao baile, pois estava com o carro do amigo Francisco e precisava leva-lo de volta para casa. À porta encontrou muita gente indo embora. Disse amargurado que o Geraldo, meu antigo namorado, vestido de pierrô, tinha bebido muito e gritava para todos que se apaixonou pela fada dourada com quem passou bons momentos no baile.
Chorei...