Tinta & Pena • 20
Tinta & Pena - Parte 2 - Capítulo Sete
Cão & Canção
Foi como num sonho.
Num instante estava na Sala dos Espelhos na Terra do Gelo com sua Onpix encaixada no hexágono da Ingunpix - Uma luz azul-prateada circundou o desenho da porta e as inscrições:
Iminimun Nelita Gill
Umano Nell Pilän In Pix
Brilhando com a luz de Silan. No outro estava deitado de costas no chão. O sol do meio-dia atingindo seus olhos com os raios que escapavam entre as pétalas de muitos girassóis.
Estava numa trilha que passava por entre uma plantação deles. Nenhum sinal do Salão dos Portais. Nenhum sinal de seus novos amigos - isto é: Nenian e Flecha claro, Lin não seria nem um conhecido se dependence dele, mas não dependia.
Pássaros cantavam suavemente entre a plantação. Uma brisa acariciava as flores levemente. De um lado para o outro, de um outro para um lado. Era um Ballet de girassóis. O cansaço que sentia unido a calmaria do lugar (sem falar a posição que estava) fez com que em menos de cinco minutos Vinci já estivesse dormindo profundamente nas sombras dos girassóis.
- Ei Vinci... Acorda Vinci - Chamou uma voz fina.
- Ei seu lutan preguiçoso, acorda! - Falou uma voz mais firme.
[...]
[...]
- An... Estou indo pai, só mais quinze minutos por favor... - Murmurou Vinci virando-se de lado.
- Haha! Eis aqui o grande Donpix Vinci de Mastro Fraco. - Falou mais uma vez a voz mais firme.
Desta vez Vinci a reconheceu, era a o findolino Lin, ao perceber isso despertou imediatamente.
- Estava um pouco cansado mas já passou. - Disse ele sentando-se.
- Pudera! quase cinco horas dormindo... - Replicou Lin.
Vinci coçou os olhos e olhou em volta. Ali estavam eles. Os quatro. Todos eles tinham passado no teste e atravessado a Ingunpix e estavam agora ali (aonde??) próximo aos girassóis. Estava lá para cumprir uma (ou mais) missão (qual??).
Nenian estava mais distante, vinha subindo a ladeira da trilha e aproximava-se. Fora explorar o lugar enquanto Lin e Flecha "acordavam o Donpix dorminhoco".
- Não conheço os horizontes - Disse ela. - Mas tenho a ligeira impressão que ainda estamos em Rivergard pelo menos. Talvez no Oeste. Você, que chegou primeiro "Don"Vinci, conhece a região?
- Não, na verdade nunca vi flores tão estranhas em Mastro Forte, só tenho a leve impressão de tê-las visto na Lagoa de Narian na Floresta Anã. - Respondeu o "Don" Vinci - Estão olhando para o sol? (...) Bem tenho quase certeza de que não estamos perto de Mastro Forte. - Concluiu sabendo que ter QUASE certeza é o mesmo que nada.
- Não estamos no Nordeste com certeza - Afirmou Flecha (a voz fina).
- Nem perto das Anindolinas - Disse Lin.
Sim. Eles estavam perdidíssimos. E, nossa, como isso era legal! Era o que cada um deles sentia, secretamente, no coração. Longe de seus lares, numa terra estranha. Eram seus senhores ali, para desempenharem uma tarefa. Uma importante tarefa. Pelo menos isso estava bastante claro.
- Nunca ouviu falar nos girassóis Vinci? - Disse Flecha - Não conhece a Orla do Girassol?
E começou a cantar:
O girassol
Buscou o Sol
Sem medo de se queimar
Pois estava tão só
E queria se alegrar
[...]
O girassol
Seguiu o Sol
Teve que se virar
Foi de leste a oeste
Sem medo de se entortar
(Sábio:)
"O girassol é tolo
Pois não sabe o que buscar
O sol é muito longe
Nunca o vai alcançar
Fútil é o girassol
Veja o que quer encontrar!
O sol é deveras quente
Certamente o queimará [...]
Pobre girassol
É bem mais belo o luar"
(Girassol ao Sol:)
"Tolo é o Sábio
Pois teme se queimar
Não sabe que de longe
Eu o posso te contemplar
A beleza e o calor
Que me fazem acordar
Sua luz e esplendor emprestados ao luar"
A parte que o Girassol fala ao Sol, foi Nenian quem cantou. Vinci achou lindo. E apropriado ela fazer o papel da flor da canção. Mas não deixou de sentir um pouco de inveja deles. Ele (achava que) não sabia cantar, só ouvira cantigas infantis e esquecera a maior parte delas, aquilo que Flecha (e Bobby anteriormente) chamava de Orla era novidade para ele. Lin ficou indiferente a canção. O fato dela vim de Dol Sirim, Cidade do Povo Livre explica um pouco o fato.
As nuvens já estavam naquele tom róseo de fim de tarde.
- Dell Lina pintou as nuvens hoje - Disse Lin casualmente.
Um ditado que, Vinci achou (e estava certo) que só ele não tinha entendido.
- É, vai anoitecer. Precisamos de um abrigo - Disse Nenian olhando para as nuvens.
- Não existe abrigo melhor que o céu aberto, para viajantes corajosos como nós. - Disse Flecha, o tom de brincadeira mais evidente do que pretendia.
- Vi uma casinha a alguns metros daqui. - Disse Nenian - No topo de uma colina. Podíamos procurar abrigo lá e, de quebra, conseguir informações de onde estamos, o que acha?
Vinci viu que ela olhava para ele e lembrou-se que ser o líder significava tomar decisões.
- Sim, é uma boa idéia - Respondeu, quase que disse "Nenian" no fim da frase, mas ainda estava tímido. E, céus, ela estava ainda mais encantadora na mágica luz do crepúsculo entre os girassóis.
- Então é desarmar tenda! - Disse Flecha começando a descer a ladeira.
Desceram todos a colina em que estavam e contemplaram a vasta terra para onde a Ingunpix tinha os levado. O Sol escondia-se atrás de montes carregados de árvores. No Leste, para onde seguia a estrada, grupos pequenos de árvores, e vegetação rasteira, e muitas plantações colorindo o fim do dia. Olhando em frente, como falara Nenian, uma casa no alto de uma colina. Que fez Vinci pensar "por que é sempre no alto? Qual é o problema de construir uma casa no pé de uma colina?". Não havia sinal de luz na casa, apesar do adiantamento do cair da noite. Havia uma grande árvore fazendo companhia a moradia. Lembrava (e provavelmente era uma) a Toak, Vinci pensou, onde Elih morava com o Capitão. A casa se revelava velha a medida que se aproximavam.
- Imagino que passarás a noite inteira acordado Laipotem - Disse Lin - Depois de dormir como um lutan.
Vinci não levava bem a sério o que Lin falava, não ligava para os insultos. Mas se pergunta o que, dingues velhos, seria esse lutan que ele tanto falava.
A casinha não tinha cerca, muro ou nada parecido. Era feita de taipa, como era a casa de Elih, perto do Rio Sem Rumo. Havia uma rústica porta de madeira, parecida com a que eles viram no Salão dos Portais.
Pensamento de Vinci Laipotem, Donpix do Gunpix de Silan:
"Certamente seria aqui que eu sairia caso atravessasse aquela porta lá do Salão..."
Conclusão do Pensamento de Vinci Laipotem, Donpix do Gunpix de Silan:
"Que loucura... onde é que estou com a cabeça..."
- Olá, tem alguém aí? - Chamou Nenian que já seria capaz de ganhar um certificado de mais comunicativa do grupo.
Resposta: nada.
- Estamos vendendo jaboticabas! - Gritou ainda mais alto a fina voz de Flecha.
Todos olharam para ele.
- O que foi? - Retrucou - As vezes funciona.
- Só se for... - Ia dizendo Lin.
Mas funcionou. Algo ou alguém vinha correndo veloz pela lateral da casa. Era a mensagem que o som passava.
Nenian deu um grito e escondeu-se atrás de Lin. O que Vinci não deixou de notar. Ele, Lin, já puxara sua pequena espada, e estava em posição de batalha. Flecha, rápido como uma flecha (pegou), já tinha sua funda carregada (com uma noz) e mirada na direção que o barulho denunciava que vinha aquilo.
Era um cão. Na verdade uma cadela como perceberiam mais tarde. Por hora era um cachorro grande e peludo. E, como é costumeiro dos cachorros covardes (ou bonzinhos se preferir), não avançou nos nossos amigos. Se manteve a uma certa distância, em frente à porta, latindo. Latindo sem parar. Sim, latindo pra valer. Latindo praticamente sem intervalos. Era uma máquina de latir o bicho. Seu tórax contraía-se com a velocidade dos latidos. Não pararia de latir não importava o que falassem ou fizessem, e ameaçava avançar mas não cumpria.
- Acerta logo ele Flecha - Gritou Vinci para surpresa de todos e dele próprio. Gostava de latidos tanto quanto os gatos.
- Não seja covarde Laipotem - Disse Lin, com uma cara que também não estava gostando nem um pouco daquela peça musical canina. Com curtíssimo intervalos entre uma nota e ele de novo, sem variação de compasso. E continuava, era longa a peça.
Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul!
Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul!
Finalmente uma pausa para respirar, com a língua a mostra, e:
Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul!
- Aaaah, não aguento mais, vamos embora, é o jeito - Disse Nenian.
- É exatamente - dizia Flecha gritando para ser ouvido - isso... ( Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! ) que ele está dizendo insistentemente! (Uoaul! Uoaul! Uoaul! ) Como não obedecemos, ele continua. Intrépidos são os cachorros.
Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul!
- Por que, não fala com ele Flecha? - Perguntou Nenian.
- Não adianta... (mais uma pausa um pouco mais longa e: Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! ) ele não fala com ninguém estranho... (Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! Uoaul! ) e somos estranhos para ele, até que seu amo diga o contrário. - Disse Flecha que já não mirava a funda, sabia que ele não ia atacar.
- Estão vamos dar o fora daqui de vez! - Gritou Vinci novamente, seus nervos não aguentariam muito tempo.
- Aqui Mãe, Mãããe aqui Mãe. - Ergueu-se uma voz que não era de nenhum dos quatro.
Parou. Ufa! Que alívio para todos. Era como se a maior tempestade de trovões tivesse parado a um sinal. O silêncio era completo. Era delicioso saborear o silêncio. Podiam até ouvir os últimos chilros dos pássaros nos girassóis lá atrás.
O maestro, que tinha ordenado o fim da peça de latidos, era uma velha senhora. Trazia lenha nas costas e uma bolsa velha de lado - pouco cheia. A cadela, pois só podia ser tendo aquele ^ nome, balançava sua bandeira sem parar, lembrava a Vinci (e a todos nós) o Capitão de Elih.
- São nossos amigos os jovens aqui, Mãe. Olá como vão? - A voz rouca tinha um sotaque estranho aos ouvidos deles.
Mas falavam a mesma língua, uma que já um baita de um bom sinal, depois daquela história de Lepernitor sobre: "qualquer lugar de muitos universos".
Vinci temia estar em outro mundo (se é que aquilo era possível) a despeito da intuição de Nenian, deles estarem em Rivergard. Mais tarde antes de dormir ele repassaria esta pensamento e o corrigiria, o fato dela (a senhora) falar a mesma língua deles não provava que estavam em Rivergard. Afinal, o que impede de dois ou mais mundos (caso exista mais de um) falarem a mesmíssima língua, com os diferentes sotaques claro. O pensamento desceria ainda mais fundo. Quem teria criado as línguas, um Homem? Um Boguinite? Um Nindano? Um Findolino? Um Mongue? Um O-que-mais-que-fosse-produto-da-terra? Achava que não. Tinha certeza (e não quase) de que era o mesmo que criara as línguas que estavas nas bocas de todos os seres. Não desceria mais fundo que isso. Pararia ai (ainda com a idéia que estava enlouquecendo) e dormiria com a dúvida, esta fiel companheira de todos nós. Sonharia que estava em outro mundo aquela noite. Lembraria pouca coisa dele ao acordar e mais tarde menos ainda. Por fim sabia apenas que era "Um mundo onde as árvores eram raras e Sol queimava como fogo na pele". Mas ao acordar ia sentir-se melhor.