Tinta & Pena • 17

Tinta & Pena - Parte 2 - Capítulo Quatro

O Gunpix

Passou algum tempo e nem sinal de Lepernitor. Enquanto isso no q-pix de nossos amigos estava ocorrendo agora um belo banquete. Vinci trouxera a comida sulina, da Floresta Anã, feita por Galhopula (Bolos brancos brancos, compactos, levemente adocicados, enrolados em folhas de bananeiras), o que interessou os seus amigos do Norte - Nenian e Flecha. Nenian trouxera tortas de frutas, mel vermelho e frutos variados. Flecha trouxera bolachas, biscoitos, pães, e mais frutas - Ele era o menor dos três mas aparentemente carregara mais peso em sua viagem até a Terra do Gelo. A mesa, que antes só tinha uma flor azul, estava farta.

- Quem quer chá de maçã verde? - Perguntou Flecha, retirando um odre e xícaras de uma bolsa - revestida com palha para evitar o atrito.

Nenian e Vinci aceitaram de bom grado. Maçã verde era um fruto raro naquelas terras. O chá, para a surpresa de Vinci, estava quentinho.

- O que vocês acham que faremos? - Perguntou Vinci, sem aguentar mais de curiosidade, enquanto o, agradável, vapor quente envolvia seu rosto - Que tipo de missão?

- Como saber? - Disse Nenian passando o mel vermelho (que estava numa tigela adornada com uma asa de cada lado) para Flecha. - Não se sabe... ninguém sabe, nem mesmo o Antigo (Vinci achou que ela se referia a Lerpernitor). Só saberemos quando atravessarmos nossa Ingunpix.

Todos aqueles "pix's" estavam deixando Vinci meio confuso. Lembrava que Inpix, era como chamavam a porta que ele atravessou dando acesso ao corredor iluminado pelas tochas frias, e decorados com desenhos na parede. Lembrava que Onpix era como chamavam a bonita jóia com a forma de um cavalo-marinho envolto em ondas, que era também a chave que tinha aberto a porta - a inpix. O grupo que eles formavam agora chamava-se Gunpix, e para completar até o quarto tinha um "alguma-letra-pix", era o T-pix ou Q-Pix? Ou quem sabe D-pix? Agora tinha uma nova palavra "Ingunpix", (uma nova porta pelo que Nenian falara). Esta ele até achou mais fácil. Via-se claramente a junção das duas palavras "inpix" e "gunpix". A porta do grupo, foi a melhor "tradução" a que chegou. Ao pensar nisso lembrou-se que não estava mais só, o que era bom, e tinha ótimas companhias o que era muito bom. Iriam viver uma aventura o que era melhor ainda, talvez...

Apenas se a aventura fosse bem longe da guerra que evidentemente estava se formando... Ou a "missão" teria alguma coisa a vê com a guerra, com a situação atual do país?

Era nisso que ele pensava enquanto Flecha e Nenian conversavam sobre as coisas que tinham em comum, pois eram praticamente vizinhos e até já se conheciam, suas famílias tinham boas relações. Os nindanos (aos quais pertencia Nenian) trocavam seus trabalhos artísticos (as xícaras decoradas de Flecha, por exemplo, era trabalhos dos nindanos) por serviços braçais dos mongues.

Aliás, cabe aqui um pouco da história desses dois povos.

Ambos são pertencentes aos chamados Povos Antigos, aqueles que abitavam a terra, quando esta ainda chamava-se Dreamenim (como dissera Martha, a mothina), antes da queda dos homens (o Povo Livre) e a vinda deles para "As Terras Selvagens" como chamavam o continente que veio a ser Rivergard. Os nindanos são muito semelhantes aos humanos, em suas formas. A maior diferença (física) está em um membro que muito humanos sonham e sonharam ter: asas (Ícaro que o diga). Suas asas lhes rederam o apelido de Povo-Pássaro. Existiu uma antiga lenda que falava que os nindanos tinham bicos, punham ovos, e blá-blá, blá-blá-blá, blá, blá. Suspeita-se que essa lenda seja oriunda dos viajantes que vinham de Holigard (o continente natal do Povo Livre) que viajavam as Terras Selvagens. Avistando um nindano ao longe imaginava como seria aquela criatura, (assim como as sereias em nosso mundo, provavelmente surgiram de marinheiros que avistavam sirênios), e contava e o que via/imaginava para alguém que por sua vez "incrementava" o relato e lenda crescia . Mas eles, obviamente, não têm nada de pássaros. A não ser as asas e o fato de morarem em árvores. As asas dos masculinos são robustas e fortes como de águias, as femininas são delicadas como as do colibri. (A propósito, as asas de Nenian estava ocultas sob sua roupa nindana). Seus olhos são mais profundos que os dos humanos e sua sensibilidade é mais aguçada. Nas artes superavam os homens como um adulto supera uma criança na força física. Eram mais populosos antigamente, mas com a chegada do Povo Livre e o início das primeiras guerras, muitos desapareceram (para onde foram só os nindanos que ficaram podem dizer - mas eles não o fizeram, não o fazem e nunca o farão). Restava apenas uma morada deles conhecida em Rivergard naquela época. Era Solvim.

Solvim era uma cidade sobre uma única árvore. Idéia aparentemente absurda, claro, se levarmos em consideração as minúsculas árvores que restaram em nosso mundo, que são apenas mudinhas se comparadas com árvores como Landolimnadoram, a Árvore da Vida. Tão grande que as ruas das cidades eram seus galhos, a cidade inteira era abrigada na árvore, e ainda sobrava muito, muito espaço - naquela época. Suas casas podiam ser construídas sobre os galhos ou sob (cavadas nos trocos, ou nos galhos mais grossos). Suas casas eram talvez rústicas aos olhares humanos, pois eram de uma beleza simples. Um certo poeta, certa vez disse que Solvim tinha a beleza singela das folhas e flores. Está aí um fato interessante sobre a Árvore da Vida: a coloração de suas folhas, que são de acordo com a estação do ano... Mas espere aí... eu me alonguei de mais. Mas tudo bem, isso é comum quando fala-se de Landolimnadoran. Ainda temos os mongues sobre quem falarmos. Solvim fica para outra hora, caso nossos amigos tenham a sorte de passar por lá. (Torçamos por isso.)

Os mongues, simplificando, são mamíferos (animais) que possuem um "eu" - como eu e você. Assim como os boguinites (por exemplo os gameros, como galhopula, e as mothinas, como Martha e Maria) são insetos que possuem um "eu".

São numerosos (os mongues) e estam espalhados por toda Rivergard, a maioria no Norte, em pequenas ou grandes aldeias e vilas. Flecha vinha das Colinas Amigas ao Norte, que era uma grande, (pode-se dizer) cidade. O Rei Folhanovento de Outubro era o governante nas Colinas Amigas nesses dias. A moradia Real ficava no interior da Grande Casa (como chamavam a grande árvore que ficava no centro da Floresta do Orvalho, uma parente menor de Landolimnadoran). Eram muito bons em trabalhos com madeira e pedra. Excelentes agricultores e criadores também, os seus dingues eram apreciados como iguarias pelos homens.

Mas deixemos de conversa, embora seja de minha vontade também falar sobre esses lugares, precisamos voltar ao Gunpix de Vinci. Quem sabe eles não dão uma passadinha pela Colinas? (Torçamos por isso também)

- Seria maravilhoso enfrentar o exército maldito não acham? - Era Flecha, e não falava para impressionar ninguém.

- Eu não diria maravilhoso - era Nenian - é impossível atribuir esta qualidade a uma guerra. - Até aqui Vinci ouvia e concordava (balançando imperceptívelmente a cabeça) - Embora seria um honra imensurável defender nosso amado lar. - Aqui Vinci percebeu que era o mais "covarde" do grupo, e que era o único que realmente desejava estar a anos-luz daquilo que viu no horizonte de sua cidade.

- Jamais! - exclamou - Podem ficar com toda honra, eu não quero ver aquilo nunca mais, não existe nada pior...

- Não diga isso - Interrompeu Nenian - Você não viu "ele", embora você tenha, como disse, avistado as "hordas negras do vazio" ao longe, você não viu o próprio Vazio e os seus dois buracos-negro. Dizem que se ele olhar em seus olhos com eles você nuuunca mais vai ter inspiração, nem mesmo numa noite de Ornata. - Falava sussurrando. Lembrava uma menina contando uma história para assustar outras crianças.

Vinci que não sabia se alguma vez na vida tinha tido "inspiração", e não tinha certeza se sabia o que era "noite de Ornata", preferiu não dizer nada.

- Não deviam falar sobre isso neste local. - Disse uma voz jovial e, de alguma forma, real. Então entrou o dono dela: um jovem de longos cabelos loiros que chegavam a altura dos joelhos (estavam amarrados), olhos prateados, e orelhas em formato de folha. Era um findolino, mais um membro do Povo Antigo que, assim como os nindanos, já eram raros nesse tempo. Trajava trajes cinzentos e verde escuro e uma grande capa negra, tinha o capuz arriado. Era baixo e franzino mas com uma musculatura trabalhada. Sua onpix era a representação de uma cachoeira. Não tinha simpatia no rosto e falara seriamente.

- Um findolino! - Exclamou Nenian maravilhada - Que lindo! Você é de verdade mesmo? Sempre sonhei ver um... - Dizia enquanto o tocava principalmente nas orelhas, era notável como ela era mais alta que ele.

Ouviu-se um som metálico e uma pequena espada reluzente foi sacada pelo findolino.

Nenian que tinha reflexos apurados afastou-se rapidamente para trás derrubando a cadeira que estivera sentada.

- O que pensas que estais fazendo produto-da-terra? - Gritou ela com os olhos em chamas.

- Exatamente o que eu pensava em lhe perguntar "passarinha". Como ousa tocar nas orelhas de Lin Lestilote Folhäzul, filho de Lin Lestilote Folhämarela, Rei de Firödoin nas Cachoeiras dos Findolinos? Quem me desonra desta maneira merece a morte. Só não estais morta ainda por este ser um local sagrado, e por seres tu an-mãe. Se fosse um desses dois, principalmente este filho de Hulmatan (que hora me olha como se visse um dragão) , não respeitaria nem mesmo o q-pix, ou Lerpernitor.

Por mais incrível que possa parecer o primeiro pensamento de Vinci foi: "isso mesmo, Q-PIX... é claro, como pude esquecer...". E então "De onde saiu essa assombração? Ele me chamou de quê? Agora não falta acontecer mais nada na minha vida, sinceramente... ", mas sabia que faltava.

Faltava muita coisa ainda.

Não tinha nem começado.

Davyson F Santos
Enviado por Davyson F Santos em 06/05/2010
Reeditado em 05/12/2010
Código do texto: T2240652
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