Toca do Coelho

Embora não seja de todo verdade, algumas histórias e até pequenos casos de corredor e cozinha escura – Despertam atenção tanto quanto uma toca de coelho para uma garotinha. Aquele lugar em especial, dava a impressão interna de um subterrâneo – Quente, como uma fornalha profunda, ou como qualquer um pensaria, um inferno, mas um onde se esco-lhia sair quando se quisesse sair. A fumaça acrimoniosa pairava em volutas na atmosfera noturna e mais uma vez com as narinas infladas – Ele ignorou. Talvez porque todos os outros estavam ignorando, ninguém ali cheirava algo de verdade, não cheiravam nem pensavam em algo de verdade, por mais sensíveis que fossem. Cada um se esgueirava da maneira que conseguia – Caminhando sempre na mesma direção... Como um rebanho de ovelhas negras. Sem se preocupar com os ruídos nos corredores, olhares indiscretos, mãos firmes em qualquer lugar e suspiros na cozinha tão escura quanto um celeiro.

Um flash e as silhuetas eróticas se escondiam nos cantos, movendo-se rapidamente cobrindo os rostos. Ninguém encobria os mastros besuntados de cuspe ou as babacas empapadas sob o látex – Não era uma prática aceita, uma certeza quase inconsciente... Corpos não importavam mais que um rosto reconhecido em fotografias, sabendo que alguém certamente veria ao se aco-corar em uma exposição onde "Reveladora" fosse a palavra seguinte a se usar. O corpo era o instrumento – Como a arma presa ao coldre ou o relógio do coelho apressado... Como a máquina de escrever dentro da pasta de couro que levava presa ao peito. Corpos que vestidos à luz do dia... Qualquer um seria incapaz de percebê-los. Mas não se engane, sobre a luminosidade, não que as lâmpadas em cada abajur perto do bar, deixassem de ter uma importância para alguns ou utilidade para outros. Pelo contrário, estavam ali para que as mãos que preparariam os drinques, as mãos e os corpos fossem vistas.

Olhares atentos procuravam o que passaria despercebido no escuro – Pagariam para tê-los esfregados ao redor da boca, ou para sugá-los sem deixá-los fugir. Atrás dos balcões nenhum deles tinha medo do escuro, mas também ansiavam por uma toca úmida e quente. Além dos olhares curiosos – e - Mastros solitários, havia o espetáculo da noite. A carne rosada que dançava esperando a coima junto ao corpo, carne que atrás das cortinas, seriam puxadas com a força dos lábios e ajuda dos dentes. Um chapeleiro não teria tempo de servir o chá – E talvez a lebre não começaria diálogos intermináveis quando colocada contra a parede... E talvez a menina Alice jamais pensasse em acordar fora da toca do coelho.

Jean Levi
Enviado por Jean Levi em 01/05/2010
Reeditado em 19/07/2010
Código do texto: T2231286
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