Migalha de Pão

Um dia, Alferes do Prado rico comerciante passeava com sua charrete ornada de ouro, quando ouviu um pipilar como nunca ouvira antes! Canto que lhe chamou a atenção, pois até então, nenhum pássaro gorjeara maravilhosamente igual à esse! Parou a charrete e seguiu o gorjeio até encontrar de onde vinha. Viu um pequeno pássaro no dedo de um garoto que sorria e exultava de felicidade. De tempos em tempos, o garoto o acariciava a cabeça do passarinho e este se punha a cantar mais e mais.

Maravilhado, o comerciante logo bradou: - Ei garoto! Quero comprar o seu pássaro! – o rico comerciante foi logo adentrando no quintal do menino com um punhado de moedas na mão.

- Mas esse passarinho não é meu. – respondeu o menino.

- Então ele é meu! – abruptamente o comerciante tomou o passarinho do menino e disse com um sorriso malicioso. – Passarinho, de hoje em diante, vais cantar só pra mim.

- Jamais cantarei só para o senhor! – respondeu o pequeno passarinho! Mas o que é isso!? Um passarinho falante? – indagou surpreso o comerciante.

- Sou do mundo e de todos. Não pertenço ao senhor. Solte-me, por favor!

- Nunca! Vamos negociar! Dou-te todos os dias, um pedaço de pão se cantar para mim.

- Eu canto por amor, não canto por comida. – respondeu o passarinho.

- Mas vais ter comida pro resto dos seus dias! - retrucou o comerciante.

- Lhe agradeço senhor. Sei que às vezes passo fome, mas como lhe disse, canto de alegria e isso me basta.

- Mas você nunca mais terá que se preocupar com comida, pelo resto dos seus dias!

- Sei que meu canto um dia findará, mas a minha melodia não. Sei que estou apenas de passagem por este mundo que nem sempre é justo e honesto, então eu canto enquanto meu dia não chegar! Raivoso com a resposta, o comerciante matou o pobre passarinho! - Que cantes então, nos quintos do inferno! – praguejou! Coube ao menino entre lágrimas, inutilmente tentar reavivar o pequeno amiguinho.

Irado com a recusa do pequeno passarinho, Alferes do Prado resolveu voltar para o seu casarão. Ele sabia que todos os seus problemas desapareciam quando era recebido com um grande abraço da sua pequena filha e, neste dia, não fora diferente. Mas nos dias seguintes a sua filha não mais o abraçava! Ele a encontrava sempre triste e cabisbaixa. Sensibilizado, perguntou à ela por que tanta tristeza, eis que ouviu uma resposta entre lágrimas: - querido pai, não mais o abraço, porque não quero. É que todos os dias, vinha à minha janela, um passarinho que cantava para mim com toda felicidade do mundo. E eu corria para o senhor para dividir a minha felicidade! Mas o passarinho nunca mais voltou... me perdoe, papai...

Às vezes... nossos atos são as nossas lições, aprendizados... as nossas atitudes... nossas conseqüências...