Um Dia de 8 Segundos

UN DIA DE 8 SEGUNDOS

Parecia uma manhã como as outras. Levantei-me. Era outra como sempre, entretanto, senti falta do barulho costumeiro dos dois compressores que funcionavam ha vários meses na obra em frente a minha casa. Bem! (pensei comigo): O martírio vai começar mais tarde! Não é que o barulho me pertubasse tanto, porque saio para o trabalho e quando volto ele já terminou, todavia, incomoda aos que ficam em casa com seus afazeres diários. Fiquei admirado quando fui informado pelo porteiro, que a fiscalização estadual tinha finalmente tomado providências.

Uma vez ou outra costumo ir para a cidade de carro, evito fazê-lo , dada a situação inervante do trânsito, mas nessa manhã resolvi usar o automóvel. Engraçado! Ao avançar as primeiras esquinas e ao percorrer os primeiros quilômetros, senti uma sensação diferente no próprio ar, no era o fato de ser uma manhã linda, ja tinha visto muitos dias assim reinava uma certa paz, tranquilidade, sei lá o que,era diferente de todos os dias que eu já tinha vivido.Todos dirigindo com cautela, não havia ninguem com pressa, os sincronismos dos sinais eram perfeitos, impressionante. Mas, interessante também, que não havia aquele excesso de fumaça tão costumeiro. Quando passava por um carro ou um onibus, eu via na fisionomia dos seus ocupantes um ar de felicidade, parece que naquele dia todos tinham saido com tempo suficiente para não perder o ponto no emprego, e o mais incrível ainda não havia ninguem em pé dentro dos onibus.E a cortesia do motorista ao esperar que aquela senhora atravessasse! Bem,lá em dado momento, com tanta coisa diferente, fiz uma bobagem, e esperei logo pela bronca do motorista do carro que eu havia dado uma pequena fechada, apressei—me em me desculpar e ouvi o que me estarreceu: “Deixa pra lá moço, isto acontece!” Parecia até comprimento, me deu vontade de fazer uma outra barberagem. Quando eu já estou lá pela rua Humaitá, foi a que eu tive vontade de parar. Não é verdade, o que estou vendo! Sem engarrafamento, sem buzinas estéricas e sem gente estérica também.

Mas, quando me dei conta, eu comecei a sentir algo também,não com o que estava em volta de mim, mas eu também tinha mudado. Eu estava calmo, sorrindo, feliz! Poucos minutos depois chegava ao estacionamento, era normal naquela hora existirem vagas, mas o que não era normal, era existirem vagas no estacionamento que fica a um quarteirão do meu escritório, não acreditei! E mais do que depressa coloquei o carro numa vaga, e, perguntei ao guardador - “Pode-se parar aqui ou estão rebocando ?”

—Com uma cortesia de fazer inveja a Rainha da Inglaterra, o guardador solicito, tirou um talão e disse que estava tudo bem e que aquele era um estacionamento permitido, que eu não me preocupasse.

Caminhei ao trabalho, e pensei comigo: “Duvido que lá também tenha havido alguma mudança” Engraçado!Todos os elevadores no terreo !Puxa, há quanto tempo eu nâo via isso!”. Depois os cumprimentos normais que fazemos sempre aos colégas que encontramos, entretanto, pareciam mais auténticos aqueles: - Bom dia!

Cheguei a minha sala, iniciei os meus trabalhos, derrepente, comecei a ouvir uma música que eu não sabia de onde vinha. Gente eu morri! Por isso e que está tudo tão diferente! Era música funcional, tinham sido instalada na noite anterior, de volume regulável em cade sala.

Naquele dia, eu tinha uma reunião importante com a nossa chefia, estava preocupado com o assunto que seria tratado.A calma, a tranquilidade e sei lá mais o que partia dos meus funcionários, como se estivessem todos voltando das férias,e me deixaram bastante confiante.

Fui para a reunião, e ai que meu queixo caiu. Realmente, a minha chefia sempre foi bastante compreensiva, mas o que eu estava vendo era quase inacreditável, no houve um só momento em que alguem falasse com a intuição de fazer valer a sua força hierarquica, ou motivado pelas suas neuroses, até aqueles que eram um pouco do contra, estavam a favor, confesso que lá existia um que eu não ia muito com a cara dele, vocês sabem que isso é normal, mas, ele estava tao simpático que eu me senti envergonhado do meu passado. A reuniao correu tão bem, houve tanta compreensão, paz, tanta objetividade, que eu acho que nem lá na ONU, em que o objetivo é a paz do mundo, se via tal coisa.

Vindo a hora do almoço, procurei o restaurante costumeiro, pensando cá comigo, nos efeitos de uma comida cara e mal feita. Chegando lá o preço tinha sido reduzido de 50%,entretanto, só fui observar tal fato na saida, quando fui pagar a conta.

Sentei—me, pedi um dos pratos que mais gosto, que aliás, nunca tinha e contrado no “menú” de lá. Que comida gostosa, leve, e o bife? Hum! Macio e soculento. Na saída, quando perguntei a razão do preço ter sido reduzido,o que aliás você também fcaria admirado, disse-me o gerente com um sorriso: “Já era tempo de ajudarmos o governo, e o sindicato resolveu como medida salutar baixar os preços, melhorar a qualidade das refeições, graças aos impostos federais e municipais terem sido diminuidos pelo governo, e, compra única de todas as lojas do ramo, e como o senhor sabe, a nossa inflação anda na ordem de 0,5% ao ano. Positivamete, pensei que estava louco.

Passei pelo Fundo onde eu tinha feito um investimento a pouco tempo, para ver como é que as coisas iam. Nossa! disse ao rapaz que me atendeu quan do viu o valor do meu Fundo. Hi! O computador errou mesmo! Eu pensei E o funcionário repondeu-me: A cota do Fundo valorizou 200%, o senhor no sabia? Era demais! Já não podia conter o meu espanto, eu deveria ter ficado, alguns séculos congelado, tinha sido descongelado e não sabia. Sei lá, estava tudo tão confuso que eu não acreditava no que via.

Passando pela banca dos jornais, vejo as seguintes manchetes:

“Descoberta a cura do Cancer, graças ao esfoço conjunto das duas nações irmãs Russia e Estados Unidos da América do Norte.

“Recentes estatfsticas mundiais comprovam que não existem mais sobre a face da terra nenhum homem pobre.”

“O conselho mundial de saúde informa que após o último levantamento, não existe nenhuma informação de que alguem tenha morrido por doença.”

“Os homens mais ricos do mundo unem suas fortunas para um gigantesco programa de amparo a infância e a velhice.”

Muitas e muitas notícias agradáveis, eu tomava conhecimento naquela tarde, não só através do jornal mas, das conversas. Havia em todos uma compreensão tão grande, uma ausência, que eu diria total, de sentimentos como egoísmo, vaidade e maledicência. Palavra que fiquei mesmo admirado quando vi aquele sujeito, extremamente mercenário, se expressar com tanta boa vontade em relação a alguem que, por um desses infortúnios, morreu sem lhe pagar vultosa quantia.

Ainda no escritório, pude ouvir a conversa entre colegas de trabalho (moças que sempre vi criticando as outras) combinarem uma forma de ajudar aquela colega recém admitida, acanhada e não muito brilhante profissional. Presenciei também que realrnnte, existia uma interação entre todos os funcionários. Uma coisa que muito me impressionou, foi a cooperação. Todos queriam ajudar a todos. Não ouvi nem uma vez aquela expressão: “Isso não é comigo!” ou outras como: “Estou cheia desse chefe!” ,”Aquela pequena pensa que é a tal, só porque se arruma muito bem!” ou ainda “Com quem será que ela saiu essa noite!”.

É, realmente, parece que havia sido banida a maldade. Todos eram simples, autênticos e bons!

Não eram apenas as notícias quanto as coisas materiais que me espantavam,mas sim o comportamento de cada um. È claro que eu também mudara. Via o mundo com os olhos cheios de amor.

Meu Deus, que barulho esse ensurdecedor?! Ué, o que isto? Nãââo! Eu. estou aqui em casa na cama! É o comprensor. Puxa, sonhei tudo isso!Sim, realmente, eu tinha em 8 segundos, quem sabe, vivido as melhores 8 horas de sono de minha vida.