A Criança e o Demônio
Vagando no mundo dos sonhos, uma criança esbarra com um demônio, uma criatura de aparência vil e deformada, coberta com um manto negro e rasgado de estrema obscuridão.
a criança se aproxima cautelosamente do demônio e pergunta:
- Senhor, me desculpe mas, pra que essas garras tão grandes?
O demônio se vira, a criança consegue ver os olhos dele com um feixe de luz que entra por um dos buracos, são dois buracos negros, onde não se encontra compaixão ou piedade. O demônio fala:
- Isso, minha criança, é o que mata.
A criança sente um calafrio ao ouvir a voz ríspida do demônio. ela olha novamente para cima e vê duas asas negras grandiosas, ossudas e depenadas. em sua pura inocência pergunta ao demônio:
- O senhor é um anjo? Como foi que machucou suas asas?
O demônio olha para a criança e diz:
- Isto, doce ser à imagem do divino, é nada mais que o fardo que carrego devido a vida que levei. Anjo? Eu? nunca fui ou serei.
A criança, não podendo conter sua curiosidade pergunta:
- O que você fez para merecer isso?
O demônio, simplesmente estende a mão e segura o manto na altura do coração, quando ele o puxa para o lado, vê-se um buraco no lugar do coração. A criança se assusta e vai ao chão. Não conseguindo levantar, paralisada de medo. O demônio olha para a criança e diz:
- Não se assuste. Esse é o preço que paguei por ter amado. Amado tanto a ponto de ter tirado a vida do ser que eu mais admirava, minha alma gêmea, a pessoa que completava minha existência. Não podendo aguentar a dor que sentia por não tê-la ao meu lado matei-a, não aguentando a dor de perdê-la, arranquei meu próprio coração na esperança de poder reencontrá-la na vida após a morte. Embora eu não soubesse que o assassino fosse separado de sua vítima por forças além da compreensão de qualquer um. o ser foi para um mundo onde se tem amor e eu estou em um lugar de estrema e bárbara punição.
a criança entretida com a história pergunta:
- Que tipo de punição?
O demônio abaixa a cabeça e responde:
- física e sentimental. Minh'alma é molestada durante dias, meses, anos, séculos e depois sou enfim colocado de frente com minha amada, não posso tocá-la ou falar com ela. Eu posso vê-la, mas ela não pode me ver.
A criança enfim acorda e leva essa experiência consigo para a vida inteira, sempre lembrando do mar de rosas que é o amor: existem as pétalas, mas também existem espinhos. antes da criança conseguir compreender o sonho, ela o refletia toda a noite, tentando pegar no sono, na esperança de conversar novamente com o demônio, e esclarecer mais de suas dúvidas sobre o triste rumo que um amor pode levar.