De Barriga Para Baixo
De cúbito ventral estava ele na calçada
Fazia frio naquela madrugada
Ele com certeza sentia uma fome terrível
Olhei aquele ser estendido
Imune às intempéries do tempo
Enquanto eu me dirigia para a esbórnia
Ia bebericar e me deliciar com os afagos das mundanas
numa casa de tolerância dos arredores
Me vi ali, bebendo comendo e protegido do frio do calor e embebido de amor
Eu era todo prazer, de repente me veio à memória
aquela imagem do corpo exposto na rua, abandonado.
Corri porta a fora, e me deparei com o féretro rijo, gélido, duro de frio... não, duro de morto.
Era tarde, era muito tarde, e eu morri, morri socialmente, mas eu continuo bebendo e me deliciando com as mundanas das Casas de Tolerância da vida.
Eu só não tenho sido tolerante.