O Ano de 2020

Malena vivia em 2020. Ela me dizia que era o ano em que os hippies voltariam à ativa e fariam outro Woodstock. Ela também dizia que era o ano das roupas bregas voltarem à ativa. Eu não acreditava claro. A menina me dizia que vinha do ano 2020 para o ano 2007 em uma máquina do tempo feita por Goblins e Grifos - criaturas fictícias. Jurava com os pés juntos que era uma famosa treinadora de fadas e as ensinava a cantarem jazz. Bla, bla, bla! Ela achava que eu realmente acreditava em tudo que ela falava. Mas um dia ela me levou a um carro pequeno, verde e com um estilo muito avançado. Entramos e para a minha surpresa ele era aconchegante. Chave na ignição, um sorrisinho sarcástico e zoompt. Ela acelerou tanto que parecia mesmo uma viagem no tempo. Depois de alguns segundos ela diminuiu a velocidade, parou o carro e disse:

- Vai lá ver. Vai lá!

Saindo do carro eu comecei a me perguntar qual parte da cidade seria aquela, cheia de círculos feitos de sal rodeando as casas e um cheiro de grama molhada que eu nunca havia sentido. Me assustei e logo vi uma criatura pequena e com asas me olhando. Era uma fada? Não poderia ser! Eu estava sonhando e não me dava conta. Mentira! Ela me tocou, me cheirou e me reconheceu, acho. Ela riu com uma voz fina e aguda, de ensurdecer qualquer um. Não podia ser verdade, não era possível. Eu estava mesmo ali no ano de 2020 vendo os hippies rindo do nada e vendo criaturas fictícias. Não! Não poderia ser, não tinha razão pra acontecer aquilo comigo. Ela me fez um convite inusitado e inesperado:

- More aqui comigo, essa máquina permite a você ficar aqui pra sempre. (Ela disse com uma pequena esperança no olho esquerdo, pois o direito estava com um pequeno medo de eu dizer não.)

Eu não poderia morar lá, eu tinha uma vida em 2007. Uma vida boa com emprego fixo, moradia fixa e um amor, que já não era fixo, pois Malena havia despertado um sentimento bom e desconhecido em mim. Resolvi passar a noite lá. Eu já morava sozinho mesmo, que mal havia? Ela não saía dos meus olhos e nem da minha mente, ela havia me penetrado muito. À noite fomos a uma festa e eu nunca havia visto tanto hippie rindo à toa e tantos Grifos desajeitados para voar. Mas a bebida estava boa e a minha acompanhante era uma louca que adorava dançar. Ô Malena! Eu havia falado para ela não ser daquele jeito.

- Qual jeito? (ela me perguntou inocente)

- Aquele jeito que seduz e atrai qualquer pessoa. Aquele jeito inocente, mas maduro. Aquele jeito de menina-mulher. Resumindo, o seu jeito.

Ela riu bastante e depois disse:

- Não vê que estou tentando te conquistar? Você poderia facilitar e dizer que está gostando.

- Eu poderia não é mesmo? Mas sou comprometido Malena. E você está mexendo comigo de um jeito que mulher nenhuma mexeu. Um jeito de mulher decidida e extremamente apaixonada.

Ela me beijou no rosto e foi dançar. Acho que ela estava querendo mesmo me enlouquecer. Eu bebi muito e comecei a pensar na minha vida. Decidi que a Lisa poderia e queria ser só minha amiga. Eu queria ser feliz e queria que ela também fosse, mas não poderia ser comigo. Àquela altura nada mais era sensato. Como eu estava confuso e perdido. Mas eu tinha que me decidir. Quem eu realmente queria? Quem realmente tinha meu coração? Não dava para saber com o álcool agindo, então fui dormir e no dia seguinte quando acordei, reconheci a parede de frente e vi que tudo não passara de um grande sonho. Malena jamais existira. Pelo menos eu pensava assim. E eu? Havia me apaixonado por alguém que nem sabia se era real. Será que todos aqueles dias haviam sido apenas parte de um sonho? Bem, eu não poderia ficar deitado o dia inteiro. Levantei da cama e fui tomar café da manhã. Alguém batia à porta com leveza. Quem seria? Demorei a abrir a porta, estava meio sonolento ainda. Um susto, uma surpresa e dois destinos que se encontraram em sonho e realidade.

Era ela! Tão linda como sonhava, ela realmente existia. Eu perguntei:

- Como me achou?

- Depende! Já que eu vim entregar sua correspondência, acho que pelo seu próprio endereço, ora!

- Você está me seguindo, Malena?

- Malena? Mas eu me chamo Ana.

Eu estava doido. Ela era meu sonho-real, mas não me reconhecia. Peguei a correspondência, agradeci e entrei. Como era uma caixa muito grande, fiquei curioso. Tentei abrir o mais rápido possível. O embrulho era denso e eu demorei pra chegar à caixa mesmo, uma pequena que estava escondida em meio à tanto plástico. Outra surpresa e nem havia passado das nove horas da manhã ainda. Quando abri a caixa vi uma criatura pequena, com asas me olhando. Era uma fada. Corri à porta procurando por Ana, a minha Malena. Ela estava virando a esquina, mas eu comecei a correr e gritar para que ela parasse. Não poderia deixá-la ir assim novamente. Quando cheguei à esquina vi o carro verde e ela sorrindo. Ô Malena! Eu havia falado pra ela não ser daquele jeito. Sem reação eu disse:

- Te amo treinadora de fadas, menina amiga dos hippies de 2020, menina que conhece Goblins e Grifos. Eu te amo!

Ela parecia surpresa, mas ao mesmo tempo parecia feliz. Parecia não acreditar no que estava vendo. Então ela respirou fundo, abriu aquele sorriso e disse:

- Achei que não ia me reconhecer Josh. (Ela disse com uma pequena lágrima brotando no olho esquerdo, pois o direito estava preenchido com uma enorme alegria.)

Ju Druks
Enviado por Ju Druks em 16/03/2010
Reeditado em 24/09/2010
Código do texto: T2141442
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