I M A G I N E . . .

Olha só, eu, um tênis velho, após a grande vitória da Copa de 70,

calçando com orgulho os pés do Rei, a desfrutar dos comovedores e

merecidos aplausos pelo grande título conquistado, suado, mas muito

merecido mesmo. Ou seria dando conforto e apoio ao consagrado

"cestinha do Brasil", Oscar Smith, na inesquecível final Brasil x Cuba,em

1997, no Ginásio do Ibirapuera?

As ilusões, tantas vezes desilusões, nos fazem sonhar ... momen-

tos de glórias; a torcida, o lance, ... os aplausos! Mas delírios nos es-

capam por entre os dedos. A realidade retoma.

E eu, sim, um tênis velho, calçando os pés suados e sonhadores

de um garoto torcedor do Botafogo, na geral do Maracanã: coração

apertadíssimo, suspirando enquanto seu time, aos 40 do 2º tempo,

numa canseira danada, perdia por 2 x 0 para o rival Santos.

Não estava tão mal assim. Não sou torcedor de nenhum time! Só

incomodava mesmo mais um pouco quando meu dono, quer dizer, o ga-

roto que me tomara emprestado, esperneava, se esgoelando e aos sal-

tos, por causa de algum lance que eu não entendia nada, até mesmo

porque, apesar de não gostar de jogo e sendo um modelo apropriado

para outros tipos de esportes, não conseguia ver nada: era gente que

não acabava mais.

Se já não bastasse aquela enfadonha partida, ao saírmos do

Estádio fomos abordados por alguns vagabundos que, levando alguns

poucos pertences de meu companheiro, no momento ainda zoaram com

a minha cara - se é que tenho cara - falando com indiferença do meu

modelo e da minha idade. Mas, graças a Deus, só nos empurraram, em

seguida, indo embora.

É difícil a vida de tênis, e ainda por cima ter que aguentar gabo-

lices de quem não entende nada de durabilidade, resistência e discri-

ção. De nada me importa, só sei que ... moda, aparência, preferência,

... já vivi e dividi muitas aventuras: muro, árvores, corrida livre ... até

polícia já deixei para trás.

Agora, já estou velho - e ainda não estou cansado - somente ve-

lho, e gostaria sim de ter uma boa aposentadoria, descansar meus

gastos cadarços, esfriar minhas palmilhas escurecidads e amarrotadas

devido a ação do suor e do trabalho árduo do dia-a-dia. Não iguais as do Rei, que devem ser bem cheirosas, com o perfume do caríssimo produto antisséptico e do amaciante da máquina de lavar.

É, bem que poderia ter sido as chuteiras do Rei! Mas não reclamo

não. Devemos nos conformar com o que somos, até porque somos fe-

lizes pelo que somos, e não por aquilo que gostaríamos que fôssemos.

Ailton Clarindo
Enviado por Ailton Clarindo em 06/03/2010
Reeditado em 03/04/2010
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