O Canto da Sereia
Esta história, foi me contada há muito tempo. Meu pai me contou, e a mãe dele contou pra ele. Segundo ela, aconteceu com o primo de uma amiga.
Há muitos anos, havia um rapaz, pescador, que vivia e trabalhava no rio São Francisco. Todo dia de manhãzinha, saia de casa e ia com seu barco para o rio. Só voltava quando o crepúsculo tingia o céu. Em uma de suas idas à cidade para vender os peixes, pôs-se a conversar com alguns companheiros:
- Alguém tem ouvido falar do Zé Maria? - perguntou um a certa altura
- Já faz mais de mês que não o vejo - comentou o rapaz
- Ouvi dizer que a Mãe-d'agua o pegou - falou um outro
- Isso é besteira! - falou rindo o rapaz - Não venham me dizer que acreditam? - perguntou incredulo
- Se é verdade eu não sei - argumentou o primeiro - Mas que faz tempo que ninguem tem noticias do Zé Maria, faz tempo. É melhor não arriscar.
- Poi eu acredito - falou o outro - E eu é que não passo nem perto da rio à noite.
- Voces são duas velhas supersticiosas! - ralhou bravo por seus companheiros acreditarem em lendas - Depois de homens feitos, acreditam em historias pra assustar crianças! - dito isso, se virou e foi embora.
Algumas semanas depois, numa noite de lua cheia, fez um calor imenso. O rapaz não conseguiu adormecer. Então, pouco tempo antes do sol, foi ao rio se refrescar. Chegando lá, viu o que menos esperava: uma linda moça, sentada numa pedra no meio do rio. Tinha pele branca, mas possuía feições indigenas. Seus lindos cabelos negros, se estendiam lisos até o meio das costas. Sua beleza era tão magnifica, mas não foi ela que mais chamou a atenção imediata do rapaz. Foram as pernas. Ou a falta delas: a moça tinha no lugar, uma grande cauda de peixe. A moça era dona de uma bela voz, e cantava quando o rapaz a encontrou. Seu canto se intensificou quando seus lindos e profundos olhos azuis se prenderam no rosto do rapaz. O canto o chamava para junto da moça. E ele não conseguia resitir a tamanha beleza. Quando estava dando os primeiros passos na água, em direção à bela moça, os primeiros raios de sol apareceram. Junto com eles, a moça interrompeu seu canto, e pulou na água.
Nesse instante o encantamento se desfez, e o rapaz, que nunca acreditou em lendas, acreditou que tudo não passou de um sonho. Na próxima lua cheia, houve outra noite de calor insuportavel. Dessa vez, o rapaz foi ao rio algum tempo antes. E reencontrou a donzela. Ela o viu no mesmo instante, intensificando ainda mais seu maravilhoso canto. O rapaz cedeu imediatamente aos encantos da moça. Foi em direção à ela, caminhando pelo rio, sem se importar que a qualquer momento poderia se afogar. Quando estava a alguns passos da moça, esta pulou na água. O rapaz apenas quis segui-la, e mergulhou atras dela.
Até hoje não se teve mais notícias dele. Mas corre por aquelas bandas, a lenda, de que ele, assim como Zé Maria, foi enfeitiçado e levado por Iara. Para o fundo do rio. Para um lugar, de onde, nunca, ninguem jamais voltou.