Lacreme Napolitane

Como descrever as sensações de aquecimento que me vieram a alma .Que foi que me levou aquele lugar?

Desço e sinto uma grande onda de alegria, fiquei estupefata, sem fala. O que ouço é pura mistura de sons e nas faces a alegria do retorno.

-Que bom! Voltaste, viestes para resgatares tua história.

Sinto que serei eternamente feliz aqui entre os que deixei a tanto tempo e que durante tantos e tantos anos choraram minha partida.Coisa que fiz também amargurada e sentida .

Cada música, cada entardecer e a cada onda do mar que aos meus pés chegavam.

Voltar , não estava nos meus planos , pelo menos conscientemente.Porém , as forças do universo se encarregam de providenciar o que precisamos.

Muita saudade!!!! Um calor imenso, sentir as pedras aquecidas pelos velhos passos através dos tempos.

Meu olhar não se deteve em nada, nem ninguém especial , mas a aura, a energia das coisas.

Triste e oprimida pisei em solo “sagrado”, vi luxo, opulência e dor. Seus mármores lavados de sangue,ouvi gemidos.

Sufoquei e fui pra rua caminhar e me nutrir de retorno .

Na saída, as velhas lembranças me perseguiram estou novamente fugindo numa noite bem escura, uma sombra na multidão.

Calma – pensei atordoada – isso foi ontem, respire e olhe à sua volta.

Percorra as ruas tranquilamente e aproveite para matar as saudades.

Emoção em estado puro e cristalino que coroaram meus dias da mais pura felicidade.

Agora eu tenho um lar, um lugar pra voltar e descansar.Onde possa passar o resto da vida e toda a eternidade.

Não é loucura tudo que sinto e tenho como certo.Houve um tempo em que lá estive e onde vivi com os meus.Rodeada de afetos e desafetos( esses sim me fizeram partir) numa colina, numa aldeia , casa simples onde via o mar. Sei que de lá fui arrancada, cheia de dor e pesar , os motivos não sei ao certo.Talvez a fome a miséria ou até mesmo o gosto pela aventura , a esperança por melhores dias . Motivos os mais diversos, hoje já não me importa mais.

O que fiz depois e pra onde fui, não sei. Ficou a marca tão forte da partida, da saudade,da separação que me fizeram ser hoje o que sou: nostálgica.

Aceito o que não posso mudar .Vou voltar com mais calma e rever cada detalhe.

Me deter por lá anos,meses não seria de todo mal .Ainda é muito difícil , por hora nada posso fazer,mantenho viva a certeza de que em breve lá estarei .

Por hora vou cantando :

...Quantas lágrimas nos custa esta América

a nós napolitanos

a nós que choramos o céu de Nápoli

como é amargo este pão...

Lacreme Napolitane (L. Bovio - F. Buongiovanni)

Tercia Medrado
Enviado por Tercia Medrado em 19/02/2010
Código do texto: T2095828
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