Perdido na Floresta
Esta é uma aventura ocorrida no extremo norte do país, um lugar chamado Amapá, mas poderia se chamar terra do encanto, da fartura, da beleza natural e por que não terra do verde esplêndido. Tudo começou quando fui passar umas férias na capital deste Estado maravilhoso, Macapá, lá no norte do Brasil é um lugar de clima muito úmido e quente, mas apesar disso é lindo.
Meu nome é Jânio, mas os mais chegados me chamam de jirau, não sei bem dizer por que, mas ouvi dizer que foi por conta de uma queda que levei quando ainda era criança e estava brincando em cima de um “jirau” e na queda bati a cabeça e fiquei repetindo “foi o jirau, foi o jirau” daí pegou o apelido, então vou me identificar como “jirau” e nossa aventura têm muito a ver com este carinhoso apelido e que por conta dele até posso dizer que fui muito agraciado e recompensado.
PERDIDO.
Certa vez passando umas férias na casa de uma tia avó que mora no interior do Amapá, me envolvi numa aventura de arrepiar os cabelos, mas não era aquele arrepio de medo não e sim de felicidade, devo lembrá-los que ainda não conhecia aquele Estado muito menos seu interior, mas sei dizer que foi muito gratificante viajar para lá, onde tudo é muito lindo, tem um rio enorme na frente da cidade e um forte construído com pedra nas margens deste rio, tem belas mulheres e um povo muito hospitaleiro que te chama de “mano”, a culinária local é muito diversificada e de um sabor sem igual e o que me deixou maravilhado foi saber que Macapá é a única capital brasileira cortada pela linha do Equador acho que é justamente por isso que lá é muito quente. Como já havia dito minha tia mora no interior e lá me arrisquei numa aventura dentro da floresta, fui só, pois não sabia o quanto pretendia demorar e nem para onde iria. Então me preparei para esta aventura repentina e sem planejamento. Quando cheguei no local escolhido para adentrar a mata relutei um pouco, mas acabei criando coragem então entrei.
A PRIMEIRA IMPRESSÃO
Logo de cara achei que tinha feito uma burrada, mas logo me dei conta de que seria bom, de uma forma ou de outra. Fui entrando...entrando...passando por igarapés...trilhas...vales e cada vez mais andando sem direção, não tinha a menor idéia de onde poderia estar, foi ai, que me dei conta da burrada que tinha feito. Então parei, comecei a refazer o caminho de volta, mas qual era o caminho? É, estava mesmo perdido, não podia entrar em desespero, tinha que colocar os pensamentos em ordem e não entrar em pânico, pois a calma seria a melhor maneira de me concentrar, então relaxei e me sentei encostado em uma grande árvore, acho que acabei adormecendo por alguns instantes. Ao acordar estava mais tranqüilo e tudo parecia diferente, o lugar que a pouco era desolado e escuro tinha sido tomado por um verde esplendido, uma claridade que parecia que o sol entrava naquela mata e refletia no chão de tão claro que estava por um momento pensei estar sonhando, mas não, estava acontecendo mesmo, sei por que me belisquei e a dor foi forte, já que o fiz com bastante força.
Nossa, como é lindo este lugar, pensei, será o paraíso? Será que estou mesmo na terra? Será uma floresta encantada? Não tinha resposta, já não me sentia tão aflito, tudo parecia ser reconfortante e aprazível, o canto dos pássaros o uivo do vento ao passar pelos galhos e pelas folhas das árvores, andei mais um pouco e ao longe escutava o som de água caindo, andava e o som ficava mais próximo a cada instante, então de repente me deparei com uma linda cachoeira que caia em forma de cascata, rodeada por uma vegetação exuberante e logo abaixo uma lagoa de água cristalina.
Neste instante comecei a me dirigir até a tal cachoeira, pois precisava me refrescar e quem sabe encontraria alguém por ali, só que me refrescar até consegui e que maravilha esta cachoeira, mas não encontrei ninguém, ou seja, continuava perdido, porém, tranqüilo, relaxei esperando a noite chegar, pois sabia que teria que passá-la ali mesmo, na mata e este seria o lugar mais apropriado para repousar, então a
noite chegou, mas o sono não, já que não estava tão bem, pois a fome e um pouco de medo começou a tomar conta de mim, isso se dava por não comer nada a horas e como não pretendia demorar na mata, acabei por não levar mantimentos suficientes para tão longo período e o medo era por não conhecer os perigos que aquela floresta poderia oferecer.
As horas foram passando e de repente peguei no sono, o dia amanheceu, os pássaros começaram a sua sinfonia e logicamente acordei como se no paraíso estivesse, mas continuava perdido e com fome, não poderia continuar naquela condição, pois não tinha a menor noção de quanto tempo poderia agüentar, a fome era minha maior inimiga naquele momento, o que iria comer? Não tinha a menor idéia do que procurar e nem onde procurar para saciar minha fome, é, agora sei o que é passar fome, naquele instante me veio à mente o que o povo de certos lugares no Nordeste do Brasil e em algumas regiões Africanas passa quando chega a seca e eles ficam longos períodos sem um alimento descente e muitas das vezes sem alimento nenhum – mas não é isto que interessa agora e sim a minha condição de perdido e faminto. Só me restava em primeiro lugar me apegar a Deus, pois ele nos socorre de qualquer perigo, para isso basta pedirmos com fé e confiança, foi o que fiz por um longo período, me apegar a Ele.
Então andei alguns passos e à beira da lagoa, abaixei-me e peguei um pouco d’água com as mãos e lavei o rosto e a boca, bebi um pouco também, a água era limpa e fresca, senti-me mais aliviado então comecei a procurar alguma coisa que fosse comestível, uma fruta ou até mesmo uma dessas larvas que se esconde embaixo das cascas de arvores podres “turus”, depois de muito procurar encontrei um pedaço de pau apodrecido e retirei sua casca, lá estavam alguns turus – que maravilha, comer aquilo me manteria alimentado por algumas horas, comi o que pude, pois não sabia quando iria comer novamente, então satisfeito e de barriga cheia recomecei minha caminhada sem rumo tentando achar uma saída daquela floresta.
Após andas por algumas horas me dei conta de que não havia tido progresso, pois, deveria estar andando em círculos, resolvi então subir em uma arvore para ver se podia alcançar com a vista alguma estrada ou habitação – não tive sucesso, não havia nem estrada nem habitação qualquer, então como estava próximo à lagoa que era formada pela queda d’água, resolvi dar um belo mergulho, nadei para as proximidades da queda d’água e dei outro mergulho – fiquei surpreso, pois por baixo da cachoeira havia uma entrada como se fosse uma caverna – voltei à superfície, tomei um fôlego maior e mergulhei nadando para o local onde tinha avistado a abertura, depois de nadar por mais ou menos um minuto e meio consegui emergir dentro da caverna – maravilhosa esta caverna, apesar de ficar em local isolado e submerso o local era de uma claridade espetacular, parecia que o sol nascia ali dentro, as paredes que formavam a caverna eram tão limpas que parecia habitada por seres humanos – relutei em sair de dentro d’água com medo de alguma surpresa desagradável, mas criei coragem e sai, imaginei que se tivesse algo ruim, não poderia ser mais ruim do que ficar perdido e com fome.
EXPLORANDO A CAVERNA.
Então comecei a explorar a caverna, andando um passo de cada vez e com muita cautela, até que me deparei com outra abertura, desta vez era de saída então percebi que estava ainda em uma floresta, só que esta era diferente, as árvores eram mais baixas e continha um colorido diferente da outra floresta, tinha frutas e o canto dos pássaros pareciam mais alegres e mais próximos de mim – apanhei uma fruta com as mãos sem ter que subir na árvore e devorei-a, a fome era tanta que nem me preocupei se a fruta poderia me fazer mal ou não, comi pelo menos umas cinco, então fiquei satisfeito e nem mesmo sede estava sentindo, já que a fruta era muito suculenta, após esta tão recente refeição resolvi sentar-me à sombra desta árvore e descansar, acabei adormecendo.
Ao acordar estava ao meu lado um garoto de pele morena e olhar espantado, ele falava alguma coisa que eu não entendia, fiquei na retaguarda, pois não sabia de quem se tratava e nem mesmo como aquela criança havia chegado ali – nos olhamos por alguns instantes, acho até que cada um estava avaliando o outro – então resolvi falar alguma coisa.
Quem é você? De onde tu vieste?
Ele logicamente nada respondeu.
Tornei falar – onde estamos? Você mora aqui por perto?
Nada de resposta.
Então pensei, ou ele não me entende ou é surdo.
Ficamos só nos olhando por mais algum tempo, quando de repente aparece outro garoto, desta vez maior um pouquinho que o primeiro – então este falou. Olá, o que lhe traz a este lugar?
Dei graças a Deus, alguém podia me ouvir e responder, quem sabe poderia me tirar daquele lugar.
-Meu filho que lugar é este? Como faço para sair daqui? Já estou perdido a pelo menos quatro dias e não tenho idéia de como vou conseguir sair daqui.
Se acalme homem, nos vamos ajudar voce, mas terá que nos ajudar também.
-Como posso ajudar vocês?
-Calma que jajá vai descobrir!
Então seguimos floresta a dentro e passamos por muitos lugares lindos e que exalavam um perfume maravilhoso, parecia que estávamos dentro de uma loja de perfumes, tinha todo tipo de cheiro, cada um mais agradável que o outro. De repente me deparei com uma vila de casas feita de palha desde a parede ate a cobertura, era uma comunidade como se fosse indígena, só que não eram índios, eram pessoas de porte pequeno e todos tinham mais ou menos o mesmo tamanho e os mesmos traços sendo que uns mais velhos e outros mais jovens, tanto homens quanto mulheres. Não tinha idéia do que fazer para ajudá-los, já que só me ajudariam se eu os ajudasse.
A REVELAÇÃO.
Logo que chegamos fui descansar, depois me serviram uma refeição quente e diferente de tudo que já havia comido antes, estranhei o tipo de comida servida, mas não fiz desfeita, comi tudo e ainda repeti satisfeito e lambendo os lábios e dedos, fui informado que o que eu havia acabado de comer era uma espécie de formiga, misturado com carne de lagarto que eles preparam para as pessoas que vão participar da prova.
Então perguntei:
-que prova?
-A prova de passagem, é como nosso povo faz sempre que recebe alguém de outro mundo.
-Outro mundo? Quer dizer que sou de outro mundo?
-Sim! o senhor veio do mundo de cima e aqui é o mundo de baixo, então o senhor tem que fazer a prova, e se o senhor passar pela prova vai poder nos ajudar, só assim poderemos mandar o senhor de volta para seu mundo.
Foi ai que me dei conta que eles tinham algo de diferente, eram pequenos, mas tinham o corpo avantajado de porte atlético e todos tinham a mesma cor, os cabelos eram lisos e na cor cinza – então percebi que os pés e as mãos tinham aquelas membranas entre os dedos como se fossem pés de pato, mas só apareciam quando eles abriam bem as mãos e os pés, não deixei que notassem que havia percebido este detalhe ou pelo menos acho que não perceberam que notei. Então perguntei sobre a prova, como seria e o que deveria fazer.
A PROVA
O líder que era chamado de “Mandumbé” disse:
É o seguinte, o senhor vai ter que participar de uma disputa com outros integrantes do povoado, essa disputa é feita em quatro etapas, uma prova de equilíbrio uma de resistência, uma de inteligência e outra de paciência, se o senhor se sair bem, ficará a seu critério o que o senhor receberá como recompensa, que pode até ser seu retorno ao seu mundo.
-E como vai ser esta prova?
No dia o senhor ficará sabendo, é importante que o senhor descanse, pois a primeira prova é a de equilíbrio e será daqui a três dias, logo que o sol raiar.
A PRIMEIRA PROVA
Como a primeira prova era a de equilíbrio, imaginei que seria fácil, então fui descansar e no dia seguinte comecei um leve treino de equilíbrio, tentei ficar o maior tempo possível equilibrando em apenas um dos pés sobre uma vara atravessada, o pessoal do povoado passava e riam de mim, não sabia por que, mas não me desanimei e continuei a treinar, até que na véspera da competição fui dormir cedo para acordar disposto no dia da prova que estava marcado para ter inicio logo que o sol raiasse então me levantei cedo e bem disposto, tomei um lanche reforçado preparado por eles e me dirige até o local reservado para participar da tal prova de equilíbrio.
A prova consistia em sair vencedor aquele que conseguisse permanecer o maior tempo de pé sobre uma tora de madeira roliça dentro do rio, ou seja, quase impossível manter o equilíbrio, foi ai que percebi que para cada participante havia dois ajudantes, estes segurariam a tora de madeira até que o participante pudesse manter-se equilibrado e dizer “solta” soltava-se a tora e o “atleta” tinha que se equilibrar pelo maior tempo possível. Neste momento lembrei-me dos peões de rodeio que tem que se manter em cima do touro por oito segundos e acreditem é muito difícil, mas não me desanimei então subi na tora e equilibrei-me como pude então disse:
-solta.
E foi queda na certa, acho que não demorei dois segundos, só que poderia se tentar até cinco vezes, certamente seria mais quatro quedas, mas mesmo assim falei:
-vamos lá, mais uma vez, quem sabe agora – tornei cair, demorei mais um pouco, mas caí e de novo até que na quarta tentativa consegui um equilíbrio melhor e disse:
- “valendo” foi ai que o tempo começou a contar, acreditem consegui ficar equilibrado rolando a tora para direita e para esquerda por mais ou menos uns 25 segundos, saí de lá vitorioso, pronto para segunda prova que seria após três dias.
A SEGUNDA PROVA
Esta consistia em demonstrar maior resistência física, nesta prova teria que carregar uma tora de madeira que pesa em torno de 60 kg por uma distancia aproximado de 100m, sendo que os outros concorrentes também carregariam uma tora idêntica pelo mesmo percurso, como eles já estavam acostumados com tal prova eu tive que ser o melhor possível, então tirei um esforço do fundo de minha vontade de retornar para casa, daí foi só um galope, corri sem parar até que alcancei a linha de chegada em primeiro lugar e sai vencedor desta prova, logo depois tive que ser socorrido, ainda bem que estes nativos são pessoas de boa índole e sabem reconhecer quando perdem.
-Você é um homem de coragem e honrado - falou o líder Mandumbé.
-Obrigado, vocês são todos corajosos e honrados também, obrigado por tudo.
A TERCEIRA PROVA
Esta prova seria a de inteligência, pensei: "como vão avaliar se sou ou não inteligente, na verdade deve ser lógica":
-Tudo bem vamos lá.
Então o líder me trouxe uma garrafa e dentro dela um objeto que parecia um pedaço de madeira, perguntei:
O que é isso dentro da garrafa?
Eles disseram:
É buriti.
E o que devo fazer?
Você tem que tirar ele daí de dentro sem tocar na garrafa e sem quebrar, não pode tocar de nenhuma forma, mas antes quem escolhe o lugar onde ela deve ficar é você e também pode escolher até três coisas que possam lhe ajudar a tirar o buriti daí de dentro, só não pode tocar na garrafa também depois de escolher não pode trocar e tem 15 minutos para completar a prova caso não complete, passamos imediatamente para outra prova, mas se completar descansa um dia.
Daí, escolhi um litro d’água, um pedaço de pau que era que nem um palito e um copo com café.
Coloquei a água dentro da garrafa o buriti boiou e eu o tirei com o pedaço de pau “palito”, daí o Mandumbé perguntou:
E o café? Pra que serve?
-Para eu beber ora essa!
findada a prova eles disseram:
-O homem é bom, ninguém nunca pensou em fazer assim.
A QUARTA PROVA
Esta seria a ultima prova, dependendo de seu resultado poderia voltar logo para casa, então o chefe da competição me disse que esta ultima prova era realmente uma prova de paciência e teria que ser muito paciente e ágil para vencê-la.
E no dia determinado ele me trouxe uma rede de pescador que media mais ou menos uns vinte metros de comprimento por cinco de largura, a tal prova era para eu desamarrar aquela rede todinha e deixar o fio dela como se fosse apenas uma linha reta.
Então eles me mandaram escolher qualquer tipo de ferramenta que eu precisasse, escolhi apenas duas agulhas de ponta curvada e um pedaço de buriti para enrolar a linha.
Sentei-me e comecei a desamarrar a rede, no inicio foi custoso, mas logo peguei a manha e daí em diante bastou mesmo muita paciência e controle nas mãos, pois a rede escorregava e tinham certos nós que estavam mais apertados que os outros, mas enfim consegui concluir a prova em uma semana, depois exigiram que eu descansasse por mais uma semana.
O DESEJO
Depois daquela semana de descanso o líder Mandumbé veio até mim e sem muita cerimônia me perguntou.
-Tu queres mesmo ir embora? Ficaríamos muito felizes se você pudesse ficar mais algum tempo conosco, o que você me diz de ficar mais alguns dias? Dez dias, que tal?
-Bem, é um caso a pensar, pode ser que sim, mas vai depender de todos vocês também.
-O que podemos fazer para você ficar?
-Primeiramente gostaria de conhecer o resto do território de vocês e também o povo todo e a cultura e gostaria ainda que me dessem autorização para poder escrever, fotografar e divulgar as maravilhas aqui encontradas, o que acham?
-Pensando bem isso tudo não será possível, até que conhecer o território o povo e a cultura tudo bem, mas para poder fazer foto você teria que ir e depois voltar e após sua saída não poderá haver retorno, se você quiser poderá até escrever e desenhar já que não tem equipamento de fotografo.
-É verdade, não tenho equipamento apropriado para tal tarefa, mas posso tentar desenhar, mas também não sou bom de desenho, o que faço?
-que tal ficar tudo só na tua mente? Fica por tua conta a história que você vai contar depois, se acreditarem e se você contar direitinho, aqueles que tiverem conhecimento de tua narrativa vão ficar curiosos e tentar descobrir este local, mas adianto logo, não será possível nos encontrar novamente, pois não foi você que nos achou, fomos nós que te achamos perdido, amedrontado e faminto.
-Isso tudo é verdade, também não gostaria que seu povo fosse encontrado, pois aqui vocês vivem tão bem e em completa harmonia com a natureza, o homem que se diz civilizado só destrói aquilo que Deus todo poderoso criou.
-Tomei uma decisão, não irei de maneira nenhuma descrever o caminho, vou falar apenas do que conheci e do que pude contemplar, deixando aos curiosos uma ligeira vontade de conhecer toda esta maravilha que eu conheci e que jamais me esquecerei, enquanto eu tiver vida e saúde mental, me lembrarei desta inesquecível aventura vivida no interior do Amapá no ano de 1986, nesta época eu contava apenas vinte e dois anos.
O RETORNO
Depois desta declaração passei mais quatro dias com eles e fui levado para um local muito bem protegido pela natureza e devido a “segurança” demos muitas voltas até que eles tiveram certeza de que eu não conseguiria retornar sozinho para o povoado, então pegamos uma trilha mais aberta e depois de quatro longas horas andando foi que descobri que havia outro lugar que dava saída daquele povoado, pois quando cheguei foi por uma caverna submersa e tive que nadar e agüentar sem respirar por pelo menos 90 segundos, então não me contive e perguntei:
Amigo Mandumbé, por onde estamos indo?Não foi por este caminho que aqui cheguei?
Então ele respondeu:
A saída é por outro lugar, você não pode voltar pelo mesmo caminho que chegou.
Foi ai que depois de mais alguns minutos chegamos a uma estrada de terra batida que dava num outro povoado, nos despedimos e fizemos promessas um ao outro, eu prometi que a partir daquele momento viveria em paz com a natureza e tentaria protegê-la de todas as formas de agressão, enquanto ele prometeu mantê-la intacta pelo menos naquele local habitado pelo seu povo.
Chegando ao povoado pude me comunicar com meus familiares que providenciaram meu resgate depois de mais ou menos trinta dias desde meu sumiço.
-"Deus, como tu és maravilhoso, como tu podes ter colocado tudo isso para ser desfrutado pelo homem, por este mesmo homem que destrói, corrompe e rouba a natureza criada por ti”.
Bert Noleto.
Obs* Foto do google imagens
Esta é uma aventura ocorrida no extremo norte do país, um lugar chamado Amapá, mas poderia se chamar terra do encanto, da fartura, da beleza natural e por que não terra do verde esplêndido. Tudo começou quando fui passar umas férias na capital deste Estado maravilhoso, Macapá, lá no norte do Brasil é um lugar de clima muito úmido e quente, mas apesar disso é lindo.
Meu nome é Jânio, mas os mais chegados me chamam de jirau, não sei bem dizer por que, mas ouvi dizer que foi por conta de uma queda que levei quando ainda era criança e estava brincando em cima de um “jirau” e na queda bati a cabeça e fiquei repetindo “foi o jirau, foi o jirau” daí pegou o apelido, então vou me identificar como “jirau” e nossa aventura têm muito a ver com este carinhoso apelido e que por conta dele até posso dizer que fui muito agraciado e recompensado.
PERDIDO.
Certa vez passando umas férias na casa de uma tia avó que mora no interior do Amapá, me envolvi numa aventura de arrepiar os cabelos, mas não era aquele arrepio de medo não e sim de felicidade, devo lembrá-los que ainda não conhecia aquele Estado muito menos seu interior, mas sei dizer que foi muito gratificante viajar para lá, onde tudo é muito lindo, tem um rio enorme na frente da cidade e um forte construído com pedra nas margens deste rio, tem belas mulheres e um povo muito hospitaleiro que te chama de “mano”, a culinária local é muito diversificada e de um sabor sem igual e o que me deixou maravilhado foi saber que Macapá é a única capital brasileira cortada pela linha do Equador acho que é justamente por isso que lá é muito quente. Como já havia dito minha tia mora no interior e lá me arrisquei numa aventura dentro da floresta, fui só, pois não sabia o quanto pretendia demorar e nem para onde iria. Então me preparei para esta aventura repentina e sem planejamento. Quando cheguei no local escolhido para adentrar a mata relutei um pouco, mas acabei criando coragem então entrei.
A PRIMEIRA IMPRESSÃO
Logo de cara achei que tinha feito uma burrada, mas logo me dei conta de que seria bom, de uma forma ou de outra. Fui entrando...entrando...passando por igarapés...trilhas...vales e cada vez mais andando sem direção, não tinha a menor idéia de onde poderia estar, foi ai, que me dei conta da burrada que tinha feito. Então parei, comecei a refazer o caminho de volta, mas qual era o caminho? É, estava mesmo perdido, não podia entrar em desespero, tinha que colocar os pensamentos em ordem e não entrar em pânico, pois a calma seria a melhor maneira de me concentrar, então relaxei e me sentei encostado em uma grande árvore, acho que acabei adormecendo por alguns instantes. Ao acordar estava mais tranqüilo e tudo parecia diferente, o lugar que a pouco era desolado e escuro tinha sido tomado por um verde esplendido, uma claridade que parecia que o sol entrava naquela mata e refletia no chão de tão claro que estava por um momento pensei estar sonhando, mas não, estava acontecendo mesmo, sei por que me belisquei e a dor foi forte, já que o fiz com bastante força.
Nossa, como é lindo este lugar, pensei, será o paraíso? Será que estou mesmo na terra? Será uma floresta encantada? Não tinha resposta, já não me sentia tão aflito, tudo parecia ser reconfortante e aprazível, o canto dos pássaros o uivo do vento ao passar pelos galhos e pelas folhas das árvores, andei mais um pouco e ao longe escutava o som de água caindo, andava e o som ficava mais próximo a cada instante, então de repente me deparei com uma linda cachoeira que caia em forma de cascata, rodeada por uma vegetação exuberante e logo abaixo uma lagoa de água cristalina.
Neste instante comecei a me dirigir até a tal cachoeira, pois precisava me refrescar e quem sabe encontraria alguém por ali, só que me refrescar até consegui e que maravilha esta cachoeira, mas não encontrei ninguém, ou seja, continuava perdido, porém, tranqüilo, relaxei esperando a noite chegar, pois sabia que teria que passá-la ali mesmo, na mata e este seria o lugar mais apropriado para repousar, então a
noite chegou, mas o sono não, já que não estava tão bem, pois a fome e um pouco de medo começou a tomar conta de mim, isso se dava por não comer nada a horas e como não pretendia demorar na mata, acabei por não levar mantimentos suficientes para tão longo período e o medo era por não conhecer os perigos que aquela floresta poderia oferecer.
As horas foram passando e de repente peguei no sono, o dia amanheceu, os pássaros começaram a sua sinfonia e logicamente acordei como se no paraíso estivesse, mas continuava perdido e com fome, não poderia continuar naquela condição, pois não tinha a menor noção de quanto tempo poderia agüentar, a fome era minha maior inimiga naquele momento, o que iria comer? Não tinha a menor idéia do que procurar e nem onde procurar para saciar minha fome, é, agora sei o que é passar fome, naquele instante me veio à mente o que o povo de certos lugares no Nordeste do Brasil e em algumas regiões Africanas passa quando chega a seca e eles ficam longos períodos sem um alimento descente e muitas das vezes sem alimento nenhum – mas não é isto que interessa agora e sim a minha condição de perdido e faminto. Só me restava em primeiro lugar me apegar a Deus, pois ele nos socorre de qualquer perigo, para isso basta pedirmos com fé e confiança, foi o que fiz por um longo período, me apegar a Ele.
Então andei alguns passos e à beira da lagoa, abaixei-me e peguei um pouco d’água com as mãos e lavei o rosto e a boca, bebi um pouco também, a água era limpa e fresca, senti-me mais aliviado então comecei a procurar alguma coisa que fosse comestível, uma fruta ou até mesmo uma dessas larvas que se esconde embaixo das cascas de arvores podres “turus”, depois de muito procurar encontrei um pedaço de pau apodrecido e retirei sua casca, lá estavam alguns turus – que maravilha, comer aquilo me manteria alimentado por algumas horas, comi o que pude, pois não sabia quando iria comer novamente, então satisfeito e de barriga cheia recomecei minha caminhada sem rumo tentando achar uma saída daquela floresta.
Após andas por algumas horas me dei conta de que não havia tido progresso, pois, deveria estar andando em círculos, resolvi então subir em uma arvore para ver se podia alcançar com a vista alguma estrada ou habitação – não tive sucesso, não havia nem estrada nem habitação qualquer, então como estava próximo à lagoa que era formada pela queda d’água, resolvi dar um belo mergulho, nadei para as proximidades da queda d’água e dei outro mergulho – fiquei surpreso, pois por baixo da cachoeira havia uma entrada como se fosse uma caverna – voltei à superfície, tomei um fôlego maior e mergulhei nadando para o local onde tinha avistado a abertura, depois de nadar por mais ou menos um minuto e meio consegui emergir dentro da caverna – maravilhosa esta caverna, apesar de ficar em local isolado e submerso o local era de uma claridade espetacular, parecia que o sol nascia ali dentro, as paredes que formavam a caverna eram tão limpas que parecia habitada por seres humanos – relutei em sair de dentro d’água com medo de alguma surpresa desagradável, mas criei coragem e sai, imaginei que se tivesse algo ruim, não poderia ser mais ruim do que ficar perdido e com fome.
EXPLORANDO A CAVERNA.
Então comecei a explorar a caverna, andando um passo de cada vez e com muita cautela, até que me deparei com outra abertura, desta vez era de saída então percebi que estava ainda em uma floresta, só que esta era diferente, as árvores eram mais baixas e continha um colorido diferente da outra floresta, tinha frutas e o canto dos pássaros pareciam mais alegres e mais próximos de mim – apanhei uma fruta com as mãos sem ter que subir na árvore e devorei-a, a fome era tanta que nem me preocupei se a fruta poderia me fazer mal ou não, comi pelo menos umas cinco, então fiquei satisfeito e nem mesmo sede estava sentindo, já que a fruta era muito suculenta, após esta tão recente refeição resolvi sentar-me à sombra desta árvore e descansar, acabei adormecendo.
Ao acordar estava ao meu lado um garoto de pele morena e olhar espantado, ele falava alguma coisa que eu não entendia, fiquei na retaguarda, pois não sabia de quem se tratava e nem mesmo como aquela criança havia chegado ali – nos olhamos por alguns instantes, acho até que cada um estava avaliando o outro – então resolvi falar alguma coisa.
Quem é você? De onde tu vieste?
Ele logicamente nada respondeu.
Tornei falar – onde estamos? Você mora aqui por perto?
Nada de resposta.
Então pensei, ou ele não me entende ou é surdo.
Ficamos só nos olhando por mais algum tempo, quando de repente aparece outro garoto, desta vez maior um pouquinho que o primeiro – então este falou. Olá, o que lhe traz a este lugar?
Dei graças a Deus, alguém podia me ouvir e responder, quem sabe poderia me tirar daquele lugar.
-Meu filho que lugar é este? Como faço para sair daqui? Já estou perdido a pelo menos quatro dias e não tenho idéia de como vou conseguir sair daqui.
Se acalme homem, nos vamos ajudar voce, mas terá que nos ajudar também.
-Como posso ajudar vocês?
-Calma que jajá vai descobrir!
Então seguimos floresta a dentro e passamos por muitos lugares lindos e que exalavam um perfume maravilhoso, parecia que estávamos dentro de uma loja de perfumes, tinha todo tipo de cheiro, cada um mais agradável que o outro. De repente me deparei com uma vila de casas feita de palha desde a parede ate a cobertura, era uma comunidade como se fosse indígena, só que não eram índios, eram pessoas de porte pequeno e todos tinham mais ou menos o mesmo tamanho e os mesmos traços sendo que uns mais velhos e outros mais jovens, tanto homens quanto mulheres. Não tinha idéia do que fazer para ajudá-los, já que só me ajudariam se eu os ajudasse.
A REVELAÇÃO.
Logo que chegamos fui descansar, depois me serviram uma refeição quente e diferente de tudo que já havia comido antes, estranhei o tipo de comida servida, mas não fiz desfeita, comi tudo e ainda repeti satisfeito e lambendo os lábios e dedos, fui informado que o que eu havia acabado de comer era uma espécie de formiga, misturado com carne de lagarto que eles preparam para as pessoas que vão participar da prova.
Então perguntei:
-que prova?
-A prova de passagem, é como nosso povo faz sempre que recebe alguém de outro mundo.
-Outro mundo? Quer dizer que sou de outro mundo?
-Sim! o senhor veio do mundo de cima e aqui é o mundo de baixo, então o senhor tem que fazer a prova, e se o senhor passar pela prova vai poder nos ajudar, só assim poderemos mandar o senhor de volta para seu mundo.
Foi ai que me dei conta que eles tinham algo de diferente, eram pequenos, mas tinham o corpo avantajado de porte atlético e todos tinham a mesma cor, os cabelos eram lisos e na cor cinza – então percebi que os pés e as mãos tinham aquelas membranas entre os dedos como se fossem pés de pato, mas só apareciam quando eles abriam bem as mãos e os pés, não deixei que notassem que havia percebido este detalhe ou pelo menos acho que não perceberam que notei. Então perguntei sobre a prova, como seria e o que deveria fazer.
A PROVA
O líder que era chamado de “Mandumbé” disse:
É o seguinte, o senhor vai ter que participar de uma disputa com outros integrantes do povoado, essa disputa é feita em quatro etapas, uma prova de equilíbrio uma de resistência, uma de inteligência e outra de paciência, se o senhor se sair bem, ficará a seu critério o que o senhor receberá como recompensa, que pode até ser seu retorno ao seu mundo.
-E como vai ser esta prova?
No dia o senhor ficará sabendo, é importante que o senhor descanse, pois a primeira prova é a de equilíbrio e será daqui a três dias, logo que o sol raiar.
A PRIMEIRA PROVA
Como a primeira prova era a de equilíbrio, imaginei que seria fácil, então fui descansar e no dia seguinte comecei um leve treino de equilíbrio, tentei ficar o maior tempo possível equilibrando em apenas um dos pés sobre uma vara atravessada, o pessoal do povoado passava e riam de mim, não sabia por que, mas não me desanimei e continuei a treinar, até que na véspera da competição fui dormir cedo para acordar disposto no dia da prova que estava marcado para ter inicio logo que o sol raiasse então me levantei cedo e bem disposto, tomei um lanche reforçado preparado por eles e me dirige até o local reservado para participar da tal prova de equilíbrio.
A prova consistia em sair vencedor aquele que conseguisse permanecer o maior tempo de pé sobre uma tora de madeira roliça dentro do rio, ou seja, quase impossível manter o equilíbrio, foi ai que percebi que para cada participante havia dois ajudantes, estes segurariam a tora de madeira até que o participante pudesse manter-se equilibrado e dizer “solta” soltava-se a tora e o “atleta” tinha que se equilibrar pelo maior tempo possível. Neste momento lembrei-me dos peões de rodeio que tem que se manter em cima do touro por oito segundos e acreditem é muito difícil, mas não me desanimei então subi na tora e equilibrei-me como pude então disse:
-solta.
E foi queda na certa, acho que não demorei dois segundos, só que poderia se tentar até cinco vezes, certamente seria mais quatro quedas, mas mesmo assim falei:
-vamos lá, mais uma vez, quem sabe agora – tornei cair, demorei mais um pouco, mas caí e de novo até que na quarta tentativa consegui um equilíbrio melhor e disse:
- “valendo” foi ai que o tempo começou a contar, acreditem consegui ficar equilibrado rolando a tora para direita e para esquerda por mais ou menos uns 25 segundos, saí de lá vitorioso, pronto para segunda prova que seria após três dias.
A SEGUNDA PROVA
Esta consistia em demonstrar maior resistência física, nesta prova teria que carregar uma tora de madeira que pesa em torno de 60 kg por uma distancia aproximado de 100m, sendo que os outros concorrentes também carregariam uma tora idêntica pelo mesmo percurso, como eles já estavam acostumados com tal prova eu tive que ser o melhor possível, então tirei um esforço do fundo de minha vontade de retornar para casa, daí foi só um galope, corri sem parar até que alcancei a linha de chegada em primeiro lugar e sai vencedor desta prova, logo depois tive que ser socorrido, ainda bem que estes nativos são pessoas de boa índole e sabem reconhecer quando perdem.
-Você é um homem de coragem e honrado - falou o líder Mandumbé.
-Obrigado, vocês são todos corajosos e honrados também, obrigado por tudo.
A TERCEIRA PROVA
Esta prova seria a de inteligência, pensei: "como vão avaliar se sou ou não inteligente, na verdade deve ser lógica":
-Tudo bem vamos lá.
Então o líder me trouxe uma garrafa e dentro dela um objeto que parecia um pedaço de madeira, perguntei:
O que é isso dentro da garrafa?
Eles disseram:
É buriti.
E o que devo fazer?
Você tem que tirar ele daí de dentro sem tocar na garrafa e sem quebrar, não pode tocar de nenhuma forma, mas antes quem escolhe o lugar onde ela deve ficar é você e também pode escolher até três coisas que possam lhe ajudar a tirar o buriti daí de dentro, só não pode tocar na garrafa também depois de escolher não pode trocar e tem 15 minutos para completar a prova caso não complete, passamos imediatamente para outra prova, mas se completar descansa um dia.
Daí, escolhi um litro d’água, um pedaço de pau que era que nem um palito e um copo com café.
Coloquei a água dentro da garrafa o buriti boiou e eu o tirei com o pedaço de pau “palito”, daí o Mandumbé perguntou:
E o café? Pra que serve?
-Para eu beber ora essa!
findada a prova eles disseram:
-O homem é bom, ninguém nunca pensou em fazer assim.
A QUARTA PROVA
Esta seria a ultima prova, dependendo de seu resultado poderia voltar logo para casa, então o chefe da competição me disse que esta ultima prova era realmente uma prova de paciência e teria que ser muito paciente e ágil para vencê-la.
E no dia determinado ele me trouxe uma rede de pescador que media mais ou menos uns vinte metros de comprimento por cinco de largura, a tal prova era para eu desamarrar aquela rede todinha e deixar o fio dela como se fosse apenas uma linha reta.
Então eles me mandaram escolher qualquer tipo de ferramenta que eu precisasse, escolhi apenas duas agulhas de ponta curvada e um pedaço de buriti para enrolar a linha.
Sentei-me e comecei a desamarrar a rede, no inicio foi custoso, mas logo peguei a manha e daí em diante bastou mesmo muita paciência e controle nas mãos, pois a rede escorregava e tinham certos nós que estavam mais apertados que os outros, mas enfim consegui concluir a prova em uma semana, depois exigiram que eu descansasse por mais uma semana.
O DESEJO
Depois daquela semana de descanso o líder Mandumbé veio até mim e sem muita cerimônia me perguntou.
-Tu queres mesmo ir embora? Ficaríamos muito felizes se você pudesse ficar mais algum tempo conosco, o que você me diz de ficar mais alguns dias? Dez dias, que tal?
-Bem, é um caso a pensar, pode ser que sim, mas vai depender de todos vocês também.
-O que podemos fazer para você ficar?
-Primeiramente gostaria de conhecer o resto do território de vocês e também o povo todo e a cultura e gostaria ainda que me dessem autorização para poder escrever, fotografar e divulgar as maravilhas aqui encontradas, o que acham?
-Pensando bem isso tudo não será possível, até que conhecer o território o povo e a cultura tudo bem, mas para poder fazer foto você teria que ir e depois voltar e após sua saída não poderá haver retorno, se você quiser poderá até escrever e desenhar já que não tem equipamento de fotografo.
-É verdade, não tenho equipamento apropriado para tal tarefa, mas posso tentar desenhar, mas também não sou bom de desenho, o que faço?
-que tal ficar tudo só na tua mente? Fica por tua conta a história que você vai contar depois, se acreditarem e se você contar direitinho, aqueles que tiverem conhecimento de tua narrativa vão ficar curiosos e tentar descobrir este local, mas adianto logo, não será possível nos encontrar novamente, pois não foi você que nos achou, fomos nós que te achamos perdido, amedrontado e faminto.
-Isso tudo é verdade, também não gostaria que seu povo fosse encontrado, pois aqui vocês vivem tão bem e em completa harmonia com a natureza, o homem que se diz civilizado só destrói aquilo que Deus todo poderoso criou.
-Tomei uma decisão, não irei de maneira nenhuma descrever o caminho, vou falar apenas do que conheci e do que pude contemplar, deixando aos curiosos uma ligeira vontade de conhecer toda esta maravilha que eu conheci e que jamais me esquecerei, enquanto eu tiver vida e saúde mental, me lembrarei desta inesquecível aventura vivida no interior do Amapá no ano de 1986, nesta época eu contava apenas vinte e dois anos.
O RETORNO
Depois desta declaração passei mais quatro dias com eles e fui levado para um local muito bem protegido pela natureza e devido a “segurança” demos muitas voltas até que eles tiveram certeza de que eu não conseguiria retornar sozinho para o povoado, então pegamos uma trilha mais aberta e depois de quatro longas horas andando foi que descobri que havia outro lugar que dava saída daquele povoado, pois quando cheguei foi por uma caverna submersa e tive que nadar e agüentar sem respirar por pelo menos 90 segundos, então não me contive e perguntei:
Amigo Mandumbé, por onde estamos indo?Não foi por este caminho que aqui cheguei?
Então ele respondeu:
A saída é por outro lugar, você não pode voltar pelo mesmo caminho que chegou.
Foi ai que depois de mais alguns minutos chegamos a uma estrada de terra batida que dava num outro povoado, nos despedimos e fizemos promessas um ao outro, eu prometi que a partir daquele momento viveria em paz com a natureza e tentaria protegê-la de todas as formas de agressão, enquanto ele prometeu mantê-la intacta pelo menos naquele local habitado pelo seu povo.
Chegando ao povoado pude me comunicar com meus familiares que providenciaram meu resgate depois de mais ou menos trinta dias desde meu sumiço.
-"Deus, como tu és maravilhoso, como tu podes ter colocado tudo isso para ser desfrutado pelo homem, por este mesmo homem que destrói, corrompe e rouba a natureza criada por ti”.
Bert Noleto.
Obs* Foto do google imagens