QUANDO O VENTO BEIJOU A CHUVA

O BEIJO DO VENTO

Conta uma lenda do povo distante da ilha de Kejianka. Quando ainda só existia a natureza de Gaia, que o Vento beijou o rosto da Chuva e deu vida à Brisa, esta, carinhosamente agradecida, pediu ao Sol que fulgurasse sua luz para iluminar aquele encontro encantado, e assim seria toda vez que o Vento trouxesse a Chuva, era um presente para aquecê-la e quebrantar seu coração. Porém, o Sol, ao iluminar a face límpida da Chuva, revelando toda a beleza de seu esplendor, e as lindas cores do arco-íres, apaixonou-se perdidamente e, com seu garboso brilho de Astro-rei, exigiu o seu amor e ordenou que a Chuva abandonasse o Vento, ameaçando secar todos os Rios e Lagos, evaporar as águas, queimar toda a Terra, caso seu desejo não fosse atendido, pois dele a vida também dependia e tinha todas as riquezas do mundo. A Chuva, como fonte de vida conhecia a importância do Sol, teve medo de provocar sofrimento e cedeu aos caprichos do grande rei para salvar a Natureza.

O Vento, apaixonado e inconformado, culpou a Brisa pela separação de seu amor. Desesperado na sua imensa dor, sem consciência do que fazia, soprou ventanias e tufões, e a pobre Brisa congelou-se em vários cantos da Terra. Foi assim que nasceu o vento do Outono e os dias frios de Inverno. A Chuva, para esconder-se do Sol e enamorar o Vento, escurece as Nuvens, e enquanto o Vento passa, cada gota de Chuva é um beijo que ao Vento Vai, cada vez que o Vento vem é um beijo que trás.

Mas o Sol, com sua luz e esplendor, desconfia da traição da Chuva e resolve castigar a Natureza como prova de seu poder, reduzindo a vida em todo o planeta. Assim nasceram os grandes desertos que dominaram naquela remota época toda a Terra.

A Chuva, cada vez mais entristecida e aprisionada em seu coração, implora por remissão de seu castigo, deixasse ao menos uma vida ali florir como sinal de esperança para a Natureza, pois que toda a Terra sofria com a sua falta. Vendo o Sol que a Chuva morria de tristeza e com medo de perder a sua cativa para sempre, abre as portas das Nuvens, e a Chuva desliza longamente suas águas, umedecendo aquelas terras sem vida. Assim, surgiu a mais linda e exuberante de todas as flores, a flor-do-deserto, e em lindos campos, correram as flores da Primavera, e em outros as relvas das extensas savanas. E vendo o Sol que aquela criação era bela, liberta a Chuva de seu subjugo com uma única condição, que lhe desse em troca uma nova companheira, cheia de luz e glória, mas que fosse somente sua, e que, somente ele pudesse tocá-la com sua luz fulgurante e mais ninguém, esta era a sua palavra de rei, senhor de toda a luz da terra e de grande influência na vida.

A Chuva concordou, e unida ao Vento, abriu o mar e ali se formou um poderoso ciclone que durou cinco dias e cinco noites até chegar ao azul do céu, depois disso, uma imensa bola rochosa se forma no espaço, sem luz, sem brilho, completamente escura. O Sol, aborrecido, reclama seu pedido, pois onde estava o brilho da sua amada que a Chuva prometera? Esta lhe responde calmamente que, para a criação brilhar precisava da luz do Astro-rei, pois, como havia exigido, somente ele poderia tocá-la com sua luz fulgurante. Assim o Sol fez, e para sua surpresa a criação sumiu completamente, fora ofuscada por sua forte luz. Cada vez que o Sol tocava aquela massa celeste com seus raios brilhantes, ela sumia misteriosamente. A Chuva, vendo o desespero do Astro, aconselha-o a tocar a Lua somente à noite quando ela estivesse do outro lado da Terra para evitar sua ofuscação. Assim fez o Sol, e para seu encanto surgiu no meio do espaço uma linda bola brilhante e gloriosa que ilumina o céu todas as noites, a quem chamamos de Lua. Mas foi com tal surpresa e grande tristeza que o Sol descobriu que jamais poderia chegar perto da sua amada, pois toda vez que se aproximava, a Lua sumia ofuscada pela forte luz do Astro. E, tão longe e tão perto, como a noite e o dia andam de mãos dadas, sem se tocarem, o Sol espera pela noite para ver de longe brilhar a sua doce amada, sem poder jamais se aproximar.

Mortificado com tal situação de angústia, o Sol vai mais uma vez cobrar conselhos à Chuva para conquistar o amor da Lua. A chuva assim responde:

- Ó meu Astro-rei, tu exigiste algo inconcebível, pois de todas as coisas vivas tenho permissão de Deus para criar, porém, na tua arrogância e glamour fizeste-me tua prisioneira ao pretexto de levar-me amor, sem, contudo, importar-se com a minha grande dor e o meu vazio de sentimentos por ti. E o que me pedes agora não se cria, não se faz com as mãos, não se compra, não se conquista com grandezas e riquezas, pois isto que me pedes é a essência da vida, pois que isto é o amor que tu tanto queres, e este está dentro de cada um de nós, hás de descobrir este segredo por ti mesmo e mais ninguém, vai e te consolas em vê-la, pois que o teu brilho é tua própria vida e algoz, e que tua luz ofusca as janelas da tua alma, e eis que a escuridão habita dentro de ti, onde teu brilho não pode iluminar, assim é o teu eterno destino, fonte e ausência de luz, brilho e escuridão, ambos de mãos dadas, porém sem se tocarem.

E assim o Sol ilumina a Lua todas as noites na esperança de um dia ganhar o seu amor.

Leandro Dumont

28/03/2009

Leandro Dumont
Enviado por Leandro Dumont em 12/02/2010
Código do texto: T2083029
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