Passeando na Praia
Camille andava descalço pela praia muito tranqüila e vagarosamente. Seis horas da manhã, fora de temporada, aquele imenso tapete de areia estava vazio, salvo algumas embarcações lá longe que começavam a ingressar no mar em busca do alimento. Eram pescadores solitários que cumpriam seu ritual diário;
Figuravam a praia naquele momento as velhas embarcações, gaivotas com seus vôos rasantes, alguns siris e é claro, Camille;
Camille estava desolada, triste, amargurada! Seu marido havia morrido recentemente e ela não suportava administrar uma tristeza sem estar caminhando na praia, no alvorecer do dia...
Caminhava a passos lentos, pois seu corpo já havia sido tomado pelas intempéries da velhice. Tinha setenta e seis anos, embora lúcida, estava velha.
A certa altura, percebeu que alguém se debatia na praia, mas estava distante e não conseguia identificar a pessoa. Chegou mais perto e pode ver que era um belo rapaz todo emaranhado numa grande rede de pesca.
O jovem agonizava e parecia estar à beira da morte, conseguiu em sussurros dizer:
- Por favor! Devolva-me para o mar!
Camille com muito esforço conseguiu fazê-lo até por que julgava ser um ato de caridade deixar que o jovem morresse na água, já que aparentemente o caso não tinha mais solução.
Uma vez na água, o jovem reviveu e imediatamente adquiriu toda a energia jovial dum garoto da sua idade. Voltou, jogou um colar com três pedras e disse:
- A senhora salvou minha vida e agora vou salvar a sua. A gente volta a se encontrar daqui a trezentos anos. - Disse isso e sumiu nas profundezas do mar.
Camille atordoada com a cena, pegou o colar com as mãos trêmulas e sem prestar muita atenção naquilo nem tão pouco no que o garoto disse. Continuou caminhando, olhava para o colar e caminhava.
Sentiu um leve aroma de hortelã naquela peça estranha e percebeu que se tratavam de três pedrinhas de bala. Embora vindas do mar e por se tratar de balas, poderiam perfeitamente estar derretida pelas águas, porém estavam intactas. Balas doces dessas que a gente compra no armazém.
Camille tirou uma das balas do colar e colocou na boca. Aquilo tudo havia deixado ela com secura e uma balinha até que ia bem.
Ao chegar em seu apartamento, abriu a porta e entrou. Sua neta, uma garota de quinze anos que estava sentada na sala conversando pelo MSN. Olhou para ela e disse:
- Quem é você!
Camille estranhou a pergunta e respondeu com outra pergunta:
- Você andou bebendo Veridiana?
- Acho que foi você quem bebeu garota! Nunca te vi na vida, aliás, como sabe meu nome?
Antes de responder mais algo, Camille viu sua imagem refletida no espelho da sala. Estava jovem, maravilhosamente linda e não passava de uma garota de 20 anos de idade.
- Desculpa moça! Enganei-me de apartamento - Camille disse isso e saiu sem rumo certo.
Tinha toda uma vida de trezentos anos pela frente!