O Preço de Um Amor

Em uma linda manhã de domingo, desperta no hospital Albert Einstein, depois de 3 anos de sono profundo, uma garota de 18 anos.

Maria Eduarda havia entrado em um estado de COMA, de uma forma completamente sem sentido. Vários médicos a examinaram e nenhum motivo para tão grave situação conseguiram encontrar.

Passada toda a confusão, exames, fisioterapias, chegou em fim o dia da tão esperada alta. Maria Eduarda se sentia um tanto angustiada e triste, pois desde que acordara não havia visto seu namorado a quem tanto amava. A esperança de vê-lo aumentava a cada segundo, enquanto, depois de uma recuperação surpreendente, arrumava seus pertences.

Foi então que as coisas começaram a fazer sentido para ela. Dentro de uma gavetinha do criado mudo ao lado da cama do hospital, Maria Eduarda encontrou um pequeno bilhete e um colar incrivelmente brilhante.

“Duda você foi a melhor coisa que já aconteceu na minha vida, foi o anjo que me fez respirar e ter vontade de viver, por isso hoje, troco minha vida pela sua, pois sem você, jamais poderia continuar vivendo. Peço perdão por não estar presente quando abrir seus lindos olhos azuis, porém o que faço, faço por ti. Este amuleto é para lhe proteger, não tema, pois com ele, nada mais ela poderá lhe fazer, até mesmo porque, ela já tem o que quer...

Te amo, lhe amarei por toda eternidade!

Fillipi”

O desespero atingiu de imediato o coração da jovem garota, que pouco entendia desta confusa história.

Ao sair, encontrou sua família e foi para casa, onde foi recebida com uma grande festa, com tudo de que ela mais gostava, porém, não deu importância, correu para seu quarto, e deitada na cama, chorava desesperadamente.

- Maria Eduarda, posso entrar? - Sua irmã Beatriz batia levemente à porta. - Sei porque está chorando, e acho que posso te explicar o que aconteceu.

Um quase sussurrado “Pode entrar” foi ouvido entre os soluços e as lágrimas de Maria Eduarda, que não disse nem mais uma palavra até sua irmã terminar de contar a quase inacreditável história por trás de seu COMA, que foi provada com um diário, entregue a ela por sua irmã. O diário, de uma garota que por anos se dizia sua amiga, mas que também não havia aparecido desde que a jovem acordara.

O diário de Fernanda relatava passo a passo sua história pelo caminho da Magia Negra, cada detalhe, minuciosamente explicado. Detalhes horrendos que faziam com que as lágrimas fossem trocadas por expressões de espanto e desapontamento.

As lágrimas a impediam de compreender o que de fato havia acontecido. Lendo o diário, página a página, pouco a pouco foi se deixando dominar pelo sono e adormeceu.

Em seu sonho, via seu amado Fillipi sendo tragado pelas chamas da morte, e suas lágrimas, ao invés de pedirem socorro, pediam pela vida de sua namorada, implorando a libertação de sua alma em troca da condenação eterna de sua própria alma. E para desespero de Maria Eduarda, as preces de Fillipi são atendidas, e aos poucos a imagem da linda face bronzeada, tão bem conhecida por ela, vai desaparecendo e se perdendo em meio à escuridão do vazio.

Maria Eduarda acorda desesperada e é atraída pelo brilho de seu amuleto, que iluminava algumas palavras do diário, servido de travesseiro por algumas horas para seu sono inconveniente, porém esclarecedor:

“Somente aquele que possui o Amuleto Ankh poderá transitar livremente entre o Reino da Vida e o Reino da Morte. Porém, se este perder a posse do amuleto, permanecerá preso ao reino onde se encontrar, seja ele pertencente ao Reino da Vida ou Reino da Morte, estando no Reino da Vida ou no Reino da Morte.”

Se enchendo de uma coragem sobre-humana, que nem mesmo ela sabia que possuía, Maria Eduarda aponta o amuleto em seu pescoço para a capa do diário, e deste surge um portal:

“O Diário é o portal e o Amuleto é a chave, para cruzar a fronteira entre os dois reinos é preciso ter a posse de ambos os objetos.”

Para sua surpresa, neste momento, surge em seu quarto a responsável por todo este dilema, Fernanda. Em uma fração de segundo, a amarga Feiticeira, se coloca entre sua amiga e o portal, apontando para Maria Eduarda seu anel de fogo, fonte da maior parte de seus poderes:

- Incrível! Quem diria! Quem esperaria tal ato de bravura vindo de uma simples criancinha indefesa? Como podes imaginar que mereces o amor de alguém tão especial? Ele deveria ter sido meu, seria meu, se você não tivesse se colocado em nosso caminho! Agora, graças a você, e este teu falso carisma, Fillipi está morto, perdido dentro deste labirinto que é a morte. O que queres? Ficar junto dele? Nem na vida, nem na morte! Se te pus adormecida era para tê-lo de volta para mim, e não para que morressem e ficassem juntos. Você não passará por este portal, nem que isto custe minha própria vida!

Acumulando toda sua força vital e seu poder mágico, mirou para Maria Eduarda um raio mortal, que jamais havia sido utilizado antes, certa de que, as custas de sua vida, prenderia Maria Eduarda entre os dois reinos e iria para o Reino da Morte encontrar-se com seu amado. Mas, algo deu errado, no momento em que o raio deveria atingi-la, o amuleto, que se encontrava no pescoço de Maria Eduarda, coberto por seu vestido azul, transforma-se em um escudo e manda o raio de volta para Fernanda, que sem forças, nem ao menos para se defender, é sugada para o espaço vazio existente entre os Reinos da Vida e da Morte. E Maria Eduarda mais do que depressa, atravessa o portal em busca de sua alma-gêmea.

Ao atravessar o portal, porém, Maria Eduarda encontra apenas um longo e tortuoso labirinto, cheio de espinhos pelas grossas paredes ilusórias, que preenchiam cada passagem possível de se caminhar. Em um ato de desespero por não saber o que fazer, a pequena jovem se põe a chorar, suas lágrimas eram brilhantes, reluzentes como diamantes: Lágrimas de sinceridade, fruto de um amor verdadeiro e incondicional, o Amor Eterno.

Ao abrir os olhos, enquanto enxugava as lágrimas, percebeu que como que por um milagre de amor, as paredes haviam sumido e tudo que ela podia ver eram Fernanda caída em um canto isolado e uma enorme porta, a porta que a levaria até seu verdadeiro amor. O brilho ofuscante e cada vez mais intenso de seu amuleto abriu os imensos portões por onde, corajosamente, a garota passou.

O lugar era escuro, completamente sem sinais de existência humana, cercado de uma interminável seqüência de lanças e grades em meio a uma neblina intensa. Foi ai, no meio do nada, que nossa heroína apaixonada, encontra vagando entre os vales do desespero, o dono do mais belo sorriso que já existiu. Em um longo e doce beijo, os apaixonados entram em um transe e com um último brilho do mais poderoso amuleto de toda a história da magia acordam no quarto de Maria Eduarda, Fillipi e Fernanda, abraçados, em meio a lágrimas e soluços.

Quanto a Maria Eduarda, ninguém mais ouviu falar dela, apenas a lua, e as estrelas de um céu infinito, que hoje é mais bonito, graças ao olhar mais doce e carinhoso que já existiu, que agora brilha no mais alto ponto visível aos olhos de seu eterno amado.