O mago, o tapete e o espelho de prata.
Um mago encontrava-se sentado, meditando, sobre um tapete persa velho e cheio de fiapos em uma sala onde ficava de frente para um espelho de cristal com molduras de prata.
Acabando de sair de um estado profundo de concentração, ele se voltou para os dois objetos e disse:
-Tive uma visão profética, meus caros objetos mágicos. Terei que me livrar de um de vocês. Aquele que for o instrumento menos sábio que eu tiver poderá me levar a perdição ou a loucura.
Ao dizer estas palavras, o velho saiu da sala e deixou que ambos pensassem.
-É claro que eu serei o escolhido. Eu sou o objeto mais caro e mais bonito que o mago tem, ao contrario de você, tapete.
O tapete se calou ao comentário e somente disse:
- Amanhã veremos meu caro, amanhã.
Com a chegada da alvorada do dia nascente, o mago se dirigiu novamente para a sala onde meditava e perguntou:
-Então, já estão prontos? Espero que mostrem bons argumentos.
-Mestre, O senhor deveria ficar comigo, pois sou o seu objeto mais raro e mostro todos os dias o seu rosto, o que tu és. - Disse o espelho de prata.
-E você, tapete, tem algum bom argumento?- Perguntou o bom velho.
-Meu bom e amado mestre. Só tenho uma coisa a dizer: Tenho dado o melhor de mim todo este tempo que permanecemos juntos. Se esta chance me for dada, tentarei ser o melhor até o ultimo momento de minha longa vida, mesmo sendo comido por traças.
O homem parou e analisou a situação.
-Parece que tenho meu escolhido. - disse olhando para o espelho.
O espelho muito feliz começou:
- Mestre...obrig...-O velho deu um basta com as mãos antes que o espelho completasse a frase.
-Tenho meu escolhido sim, que por sinal não é você, espelho.
-Mas por quê? Por que não eu? Revelo-te a face todas as manhãs, para que vejas como és. Sou teu bem mais valioso...
-O dinheiro não é tudo nesta vida, caríssimo. Existem outros valores que ainda valem mais a pena. Na verdade você não me revelava como eu era de verdade. Era só o lado exterior. O tapete sim me revelava como eu era, pois era em cima dele que eu meditava e aprofundava mais ainda alem no meu ser. O seu valor, a sua utilidade, caríssimo espelho, não passavam de coisas materiais.
O tapete foi considerado então o mais sábio entre os dois e permaneceu com o mago até o ultimo dia de sua vida. O espelho, tampouco fora quebrado. Sua punição fora ter sido doado para a mulher mais feia e morfética da cidade, para que refletisse e sentisse em sua superfície a imagem dela, Coisa da qual nunca poderia se gabar.