IMHOTEP e "O OLHO DE HORUS"

Imhotep levantou naquela manhã se sentindo muito mais animado que nos dias anteriores, era o equinócio de inverno e a agenda do dia estava lotada. Ainda não havia Sol quando ele se dirigiu ao pórtico do Leste onde o espetáculo se iniciaria, uma mesa de mármore o esperava disposta com frutas e sucos para o desjejum, ao lado, uma jovem serviçal aguardava pacientemente; ela viu quando Imhotep entrou no recinto e seu corpo sentiu um leve estremecer, o poderoso mago usava uma túnica branca de linho que realçava ainda mais seus olhos negros e penetrantes, seu andar era seguro e firme, como o andar das pessoas que sabem exatamente onde vão chegar. Ele olhou, de relance, para ela, o que a fez corar… -- Será que o mago estava pensando na noite que passaram juntos. Ela pensou e abaixou a cabeça envergonhada. O homem passou por ela e se sentou; a serviçal, lembrando de sua função naquele ritual que se repetia ano após ano, correu a servir o mestre. Ele estava calado aquela manhã, mas seus lábios esboçavam um, quase indefinível, sorriso de satisfação.

Outro vulto surgiu na porta, magnânimo, imponente, era o jovem Faraó do Egito que Imhotep ajudara a vir ao mundo num parto prematuro e complicado. O sumo Sacerdote não se levantou, os dois homens se cumprimentaram e aguardaram na sala onde fracas luzes desenhavam vultos na cerâmica branca do templo.

Aos poucos uma estrela surgiu na abertura do pórtico pouco acima do horizonte. Outros iniciados no “Olho de Horus” tomaram seus lugares na grande sala, a serviçal se retirou.

A estrela subiu devagar, trazendo consigo um pouco mais abaixo o Astro Rei, o gerador e mantenedor da vida no planeta, o Sol. Imhotep, o três vezes sábio, deu início aos trabalhos daquele dia especial. O rio Nilo, com suas águas lentas e majestosas, refletindo as luzes daquela manhã tranquila de inverno, assistia a tudo… impassível.

A serviçal descia rapidamente as escadas que levavam ao subterrâneo, seus pensamentos ainda estavam desfrutando dos momentos maravilhosos que havia passado ao lado do homem que amava. (Será que ele sentia o mesmo que ela?) – Não importa, pensava. O que importa são os momentos vividos, como ele sempre dizia. Ela sentia uma felicidade imensa que dominava todo seu ser a fazendo vibrar como notas musicais de um cântico celestial. A vida lhe sorria.

Na sala onde se desenrolava o ritual sagrado, o fogo anual fora aceso garantindo assim a benevolência dos deuses para mais um período. O povo estava seguro e satisfeito. Desde quando Imhotep acabara a construção do templo com sua magnífica pirâmide ao centro, as terras do Egito vinham desfrutando de colheitas cada vez melhores e maiores, o país enriquecia com suas transações comerciais. Os Deuses certamente estavam contentes com as oferendas e o progresso se tornava cada vez mais proeminente. O mundo inteiro esta de olho no Egito. O mundo olha desconfiado para a sociedade secreta que acabou de nascer… “O olho de Horus”

Imhotep está em pé na sala do ritual, aos seus pés estão os sacerdotes iniciados e o próprio Faraó formando um semicírculo à sua volta. Imhotep se tornou um imortal.