O verdadeiro "Efeito Borboleta"

Eugenius Von Kabessonius, eminente cientista austríaco radicado na Alemanha, incentivado pela pujança econômica, científica e tecnológica que o mundo inteiro experimentava então, em 1970 inventou a Máquina Para Viajar no Tempo.

Depois de testá-la com sucesso, utilizando objetos e pequenos animais para fazerem curtas viagens ao passado e ao futuro, resolveu pesquisar os possíveis efeitos que sua invenção teria sobre o organismo humano. Mais do que isso, queria descobrir se haveria a possibilidade de fazer viagens mais longas. Portanto, precisava de alguém que pudesse manejar os controles e ajustes necessários, de modo a operar a máquina no trajeto de volta, fosse do futuro, fosse do passado. Não encontrando quem se dispusesse a servir de cobaia, resolveu ele mesmo fazer a viagem.

Saudoso de seus pais e irmãos, todos já mortos há longa data, decidiu viajar para sessenta e cinco anos de volta no tempo e rever sua família. Para tanto, levou sua máquina até a cidadezinha no norte da Áustria onde havia nascido e se criado. Entrou na cabine, ajustou os controles e -- puf! -- encontrou-se subitamente estupefato...

Olhou em volta e se perguntou como fôra parar dentro daquela coisa esquisita... E por que cargas d'água estava vestindo aquelas estranhas roupas de adulto.

Livrou-se desajeitadamente das vestimentas, a muito custo logrou abrir a escotilha da estranha máquina e, nu em pêlo, correu de volta para sua casa o mais rápido que as suas perninhas de menino de seis anos permitiam, tiritando de frio.

Acontece que no percurso acabou encontrando-se com o seu pequeno vizinho, o Adolfinho. Menino estranho, aquele. Autoritário, brigão, arrogante, isolava-se de todos por longos períodos e, de repente, surgia dando ordens e se arvorando a líder da molecada. Mas os meninos se riam dele, todos eles -- o Isaaquinho, o Jacozinho, a Esterzinha, a Raquelzinha, o Aaronzinho, o Davizinho, a Sarinha...

O resultado disso é que o Adolfinho ia se isolando cada vez mais. E passou a perseguir todos os bichinhos que encontrava pela frente, torturando-os fria, cruel e lentamente quando conseguia pôr-lhes a sádica mãozinha em cima.

Aliás, naquele preciso momento estava perseguindo uma linda borboleta que esvoaçava por ali. Em sua concentração maléfica, sem despregar os olhos da inocente criatura, deixou de perceber um carroção que descia a rua em descontrolada carreira. E este teria sido o seu fim -- para alívio inconsciente do mundo todo, dali a trinta e quatro anos -- caso o pequeno Eugenius, inadvertidamente, não o tivesse distraído com sua desnuda correria.

Adolfinho, então, esqueceu-se instantaneamente da borboleta e, estacando na calçada, passou a rir-se do pobre vizinho pelado que vinha correndo rua acima. Neste instante, Eugenius percebeu o carroção que vinha descendo descontrolado e tentou pular para a calçada, no que foi barrado pelo pérfido garotinho.

E foi assim que, em vez de Adolf Hitler ter morrido aos seis anos de idade, morreu em seu lugar Eugenius Von Kabessonius. Além de uma linda borboleta.

Por Eugenius ter sido morto aos seis anos de idade, jamais cresceu, nem se mudou para a Alemanha, nem estudou nas melhores instituições, nem se tornou um eminente cientista, nem tampouco inventou a máquina do tempo.

Essa lambança histórica jamais pôde ser consertada. E deu no que deu...

>i<

Maria Iaci
Enviado por Maria Iaci em 06/01/2010
Código do texto: T2014855
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.