Coisas de gente. Ou de gato?...

Pufi era um gato fofo, gorducho, que gostava de fugir para a casa da vizinha Adelina porque ela fazia muita comida gostosa e, apesar de a casa dela viver cheia de gente, sempre sobrava alguma coisa para ele. Agora, então, que a menina Júlia chegou para passar as férias com a avó, mais tempo ele passava por lá, entretido com as brincadeiras e os agrados da menina. Era um gato satisfeito com a vida e achava que para ficar melhor ainda só faltava a sua dona, a bela Mariana, alegrar-se mais. Pufi enroscava-se em suas pernas, pulava em seu colo, assistia às novelas junto com ela, mas Mariana estava meio triste. Quem sabe seria por causa de uma tal de solidão, da qual ela falara tantas vezes? Ele, um gato feliz, não entendia essas coisas de gente, não! Se tem comida boa, água fresca e lugar quentinho para dormir, ficar triste por quê? Fitou seus olhos azuis em sua dona e pensou: _ Gente é criatura complicada mesmo! Recebeu um afago displicente enquanto sentia um cheiro delicioso vindo da casa da vizinha. Subiu no sofá, pulou a janela e num instante estava lá, de barriga cheia, esparramado no tapete como se estivesse em sua própria casa. Então viu Mariana chegar e abraçar carinhosamente a dona da casa e a menina Júlia, enquanto ralhava com ele:

_Mas que gato folgado! Garanto como já comeu bastante! Não é à toa que está tão gordo!

Dona Adelina sorria, dizendo que ali também era a casa de Pufi. Não demorou muito e mais uma visita chegou. O gato olhou preguiçosamente e viu que era José, o sobrinho da dona da casa. Moço simpático! _ pensou. Nem ouviu direito o que diziam, pois o que chamava a sua atenção era a maneira como o rapaz e Mariana se olhavam. Ele já tinha visto aquele jeito de olhar em algum lugar, mas não se lembrava de onde. Pensou, pensou até que descobriu: foi na novela da televisão! O casal se olhava do mesmo jeito! E depois de uns tempos a moça entrava numa sala bem grande, cheia de pessoas bem vestidas, ela com um vestido branco e comprido, levando flores nas mãos e nos cabelos! O moço, lá na frente, sorria feliz! _ Coisas de gente, pensou Pufi. Espreguiçou-se no tapete, pensando em Mariana com flores nas mãos e nos cabelos. Fechou os olhos querendo tirar uma soneca porque mais tarde, na hora do pôr do sol, verá aquela gatinha de pelos negros e brilhantes que mora lá na rua de trás. O encontro será nos galhos de uma árvore que está cheia de flores amarelas... coisas de gato!...