Apagar ? ? ?
Outro dia, em um dos meus poucos momentos de bom humor, notei à fila do caixa do supermercado, que a demora devia-se ao fato da caixa estar trocando a bobina da impressora. A agilidade da operadora é sempre desproporcional à minha pressa, porém desta vez ignorei. Saquei meu celular - um aparelho antigo, motivo de chacotas dos meus colegas - e comecei a checar minha agenda telefônica.
Dentre os vários números, alguns já desatualizados, outros pertencentes a grandes esquecidos. Havia também um número não desprezível dos totais desconhecidos (mania tola de anotar o telefone de qualquer um). Naturalmente, dada a situação, me entretive limpando a agenda. De repente porém, deparei-me com uma combinação de letras que outrora associava à mulher da minha vida e que de fato, quase se tornou na da minha morte. Era um nome mágico que estremecia meu ser. Condicionei a ele minha alegria, mas pelo contrário, tornou-se uma usina constante de tristeza e dor. Lembrei-me rapidamente, dos momentos de extrema impetuosidade contrastados com picos de covardia devidamente temperados por uma grande porção de ilusão. Aquilo parecia não ter fim... Que época amarga! Revia curiosamente um filme que já me havia esquecido. Apenas agora me dava conta de que aquele círculo de dor havia finalmente acabado. E estava ali no visor para ser definitivamente excluído. Tranqüilamente, como se aquilo nada representasse, acionei o menu.
- “ Apagar ? “ – perguntou-me o aparelho.
Teclei sim.
- “ Tem certeza que deseja apagar definitivamente este número de sua agenda? “ – retrucou o celular.
Absoluta. Respondi intimamente apagando o número com o semblante esboçando um sorriso.
Neste instante porém levei um grande susto.
- “ Sua vez! “ Rosnou uma senhora batendo no meu ombro grosseiramente.
Desconcertado balbuciei.
- Desculpe-me senhora, acabo de acordar de um sonho ruim - e guardei o tijolão.