A Trilogia da Menina das Borboletas
Hoje eu vou contar-vos a história de uma menina que tinha uma trilogia de borboletas, as elas ela sussurrava os seus sonhos, as suas emoções, eram as confidentes dos seus segredos, dos seus sentimentos, das suas ilusões. Eram parte das suas pedras preciosas, submundo do seu planeta, abrigo das suas batalhas e prateleiras das suas angústias e incertezas.
A sua irmandade era mais do que uma série de livros que se empilham numa estante era uma união de sentimentos, pessoas que na dor enxugavam as suas lágrimas, eram os seus eternos anjos, aqueles que cuidavam de si e que a todo o custo tentavam que o sorriso fosse uma constante na sua face. A Eles ela dizia dever as suas asas de sonhadora, o carinho e a mais profunda Amizade.
Constituíam parte do compêndio que a estimulava e orientava quando se sentia profundamente perdida e não sabia para onde ir. Quando as suas asas se ressentiam e ficavam frágeis e ela tinha medo de voar, eles cuidavam dela e abençoavam a sua tristeza para que ela voasse ainda mais alto que a mágoa.
No seu coração existia a irmã borboleta que seguia o seu caminho com o mesmo carinho que ela percorria o dela, o extraordinário ser que nas trevas e na Luz nunca a tinha abandonado, aquele que a Vida colocou na sua direcção para vencer todas as batalhas, pela certeza de que juntas iriam sempre mais além, mais longe, por terem aquilo que muitos ao longo da eternidade lutaram sem conseguir alcançar.
Para ela essa borboleta era um pequeno anjo e as palavras eram poucas, considerando ela que os acordes da sua existência eram diminutos para a descrever, porque a imensidão é maior do que a sua capacidade de definição. Definia-a como a mais querida das suas borboletas, aquela que constitui a sua praia e que ela guardaria sempre junto a si com enorme dedicação e doçura. A peça fundamental do meu xadrez e sem a qual jamais seria capaz de fazer Xeque-mate.
Tinha também a borboleta das palavras doces, dos poemas e da obra com que a honrava todos os dias. A escritora com folgo de mil vidas, que sofria, que sentia e que se preocupava. Que todo o dia se esforçava para tentar minimizar a sua dor e as suas lágrimas de saudade. Alimentava a sua faceta de escritora e incentiva-a, pedia bis a cada conto, a cada verso, protegendo a sua escrivaninha com garras de leão, consolando com a voz da esperança e dos sonhos.
E por fim tinha a borboleta companhia, que a tentava afastar das trevas com os seus sorrisos e gargalhadas, com os disparates e com as brincadeiras às quais ela não conseguia resistir sem rir. Ela tomava conta da menina quando as suas outras irmãs estavam longe e ela não as conseguia alcançar. Era sem dúvida o paredão do seu mar, o meu suporte da sua rotina, o levitar das suas lacunas.
Esta sua trilogia tinha o condão de ser única e admiravelmente bela, era a sua força e a sua fraqueza, um tesouro que de forma preciosa e mágica alimentava a sua essência.
Por isso um dia ela me pediu para escrever esta história, para que as suas borboletas soubessem o quanto eram importantes na sua vida, a forma como a magia das suas asas de mil cores alimentava a sua imaginação. Ela disse-me regista no papel o que está guardado no meu coração, preenche a brancura das tuas páginas com a nobreza dos seus sentimentos, essa será a melhor forma de lhes agradecer e de mostrar o que é a Amizade.
Foi ai que percebi que ainda havia efectivamente esperança, que existiam alguns ainda que poucos que resistiam à superficialidade, ao dia-a-dia frio e conturbado dos que em perfeito frenesim deixam de dar valor às pequenas coisas. A verdade é que no mundo ainda existia uma menina que tinha uma trilogia de borboletas e que para elas tudo podiam ser tão perfeito como o beijo doce numa flor a desabrochar na Primavera.