Rito de passagem
Uma menina. Um domingo.
Na casa do padrinho Amor, onde tudo é livre e permitido, brinca com as calungas da Rita, mexe o enorme tacho do queijo, solta as cabras do curral, cata os ovos da galinha e quebra as panelas do Tio Chico.
Embrenha-se nos mufumbos encantada com as cores dos pavões, apanha as frutas verdes e oleosas da oiticica e faz músicas com os chocalhinhos do gergelim. Colhe os trapiás e os melões-caetanos que pendem como brincos de ouro das densas latadas na cerca entre os pereiros.
Trepa-se no pilão da cozinha para ver os ovos no ninho de rouxinóis, penteia os cabelos de Júlia, a boneca de pano, dá banho no gato amarelo do Janúncio, come tripa de carneiro assada na brasa e embriaga-se fumando o cachimbo da tia Maria. Para curar-se, cheira o barro molhado da parede e adormece na grama macia às margens do riacho do Vô Joca.
Sonha.
Quando acorda, já é adulta.