Voltando à Ativa
Pois é, sai daquela passividade morosa dos dias em que fiquei na casa da Puta (e do filho dela), onde só de vez em quando - e olhe lá! – recebia uns dois punhados de ração. O dono e a mulher tiveram que voltar mais cedo de Mallorca. Trouxeram na bagagem um negócio de porco qualquer... Ah, uma gripe! A gripe de porco! Ainda bem que não foi um espírito de porco, desses que se tem que trazer bem amarrado, dentro de um cofo(1) pro bicho não escapar. Esse aí, dizem, demora muito mais tempo pra se deixar tratar, e quando curado, carrega seqüelas gravíssimas, podendo até levar o paciente tratador desta para uma outra – e espera-se: muito melhor que esta aqui! - Quanto a isto há controvérsias... Sobre o quê?! Se a outra é melhor ou pior do que esta, oras! Eu, por exemplo,... Ah! outro dia conto como vim parar por aqui. Sim, tratado o porco e curada a gripe, o dono voltou à ativa no restaurante – e conseqüentemente: eu também - Ó vida marromenos... Todo dia show, toda noite show da vida. E eu lá, pra anunciar os entertainments. É cada uma que me acontece... Meu poleiro fica próximo a um aparelho de TV. É canal pra dedel, vice bichim?! Foi assim que aprendi a ler e entender várias línguas. Se bem que eu acho que só reativei a memória. Tenho uma impressão de que já sabia todas essas línguas. Estranho, muito estranho... Até parece que já fui humano. E essa sensação é pujante quando vejo uma dona bonita. Ah, minino, inda mais quando a dona se dana a querer brincar comigo e vem com aquela de dizer: “Dá o pé, loro! Dá o pé, loro!”. Êh-ê, se ela soubesse... Pois é, e o maître da cara caiada – só durante a noite, pois durante o dia (cara!) ele lava a cara – veio me dar de comer e mudou para um canal de notícias. Todo dia é uma briga no planeta dos macacos ignorantes... tsc... tsc... tsc... Os humanos só sabem brigar. O povo agora anda discutindo o uso de um tal de scanner nu... Diz que viajar de avião ficou muito mais perigoso. Se for para os estates, então, aí mesmo diz “Te arreda! Deus me livre! Nem P(h)odendo!”. Além do risco do bichão cair, que segundo os apresentadores do telejornal é um risco muito pequeno, que só de vez em quando acontece, há também o risco de morrer explodido por um terrorista. Por isso, nos aeroportos agora querem que todo mundo mostre suas ‘vergonhas’ – se é que alguém ainda as tem – para o pessoal da segurança. Ah, minino! Eu acho é pouco! Já pensou o vexamento?! Se o terrorista for isperto mermo... Pensando bem, essas medidas de segurança em aeroportos são todas fáceis de burlar. Já que o caboco decidiu morrer mermo, tanto faz onde ele carrega os explosivos, dentro ou fora do corpo, tanto faz. O problema é que com esse scan aí só dá pra ver o que vai por fora e... eu tinha que estar aqui pra ver a visão de raio-X do superman se tornando realidade... Ih, o maître mudou de canal! Ô cara caiada lavada, não tem nada melhor pra fazer não? Fofoca de celebridades... Vixo, tô fora! Tô fora! Humm, as meninas do espetáculo chegaram pra ensaiar... Deixa elas virem me pedir pra dar o pé, deixa... He he he he... “Currupaco! Papaco! Currupaco! Papaco!” Eita que eu adoro essa minha vida de papagaio...
1 Cofo – no Maranhão: cesto de palha usado para armazenar arroz, farinha e outros grãos, também para transportar frangos e outros animais pequenos em ônibus ou carroceria de caminhão. No Houaiss: definido como samburá (cesto de taquara usado na pesca), coisa que eu até agora desconhecia... Pois num é?! Vivendo, escrevendo e aprendendo!
Nota:
Este conto é parte do contexto de outros dois aqui publicados:
- No Restaurante – O Show da Vida (Contos/Fantasia)
- Pelo Nexo e Meio Sem Fim (Contos/Insólitos)
O que eu classifico como CONTO é ficcão, brincadeira. O que eu classifico como CRÔNICA ou ARTIGO tem relação com a minha realidade. POESIA e PENSAMENTO está no meio do caminho, ainda não consegui definir com clareza. Quanto a outras categorias, creio que está claro. :-)
Ultimo dia de 2009. Vendo-me com um pouco de tempo livre – Aleluia! - fui atacada por um comichão por escrever. Deu nisto aqui! :-)
Feliz 2010 pra você que leu e, em tempo: muito obrigada pela 'le-e-ência' e troca de idéias até aqui!
Um abraço fraterno.