UMA HISTÓRIA DE NATAL

   A estrada estava tranqüila naquela tarde quente de dezembro. Representante comercial de uma empresa de artefatos, Ramon percorria as estradas rodoviárias de cidade em cidade no seu trabalho de representação. Voltava ele para casa após dias afastado do convívio familiar em detrimento do trabalho. Parava de vez em quando para jogar uma água no rosto e beber um cafezinho a fim de ficar esperto para prosseguir viagem.

   Passava das onze horas e a estrada de tão deserta que estava causava sonolência. Torporizado pela sinuosidade das curvas e pelo serpenteio das faixas de sinalização do asfalto, Ramon notou após uma curva um veículo parado a alguns quilômetros á frente. Ao aproximar-se, reduziu a velocidade visto que o automóvel estava parado no acostamento com o alerta ligado. Alguma coisa estava acontecendo e ao ultrapassar o veículo com velocidade reduzida, percebeu pelo vidro da porta que o motorista estava sobre o volante e parecia desacordado. Resolveu parar e verificar o que estava acontecendo.

   A caminhonete estava com os vidros fechados e revestidos por película. Mal dava para ver a silhueta do motorista. Ramon não percebendo nenhum movimento resolveu bater na porta do carro para ver se o motorista se mexia. Não houve resposta. Bateu mais uma vez e novamente ficou sem resposta. Indeciso sobre o que fazer resolveu abrir a porta que constatou não estar travada. Percebeu que o motorista estava inconsciente provavelmente acometido de algum mal súbito.

   Abriu a porta do carona e viu sobre o assento do carona uma pasta com várias notas fiscais em nome de uma instituição para apoio e tratamento de crianças especiais. Percebeu no banco traseiro, vários volumes de tamanho grande e em todos escrito o nome da instituição.  No quebra sol do carro encontrou um pedaço de papel com o timbre da instituição onde se lia inclusive o endereço e o telefone. Apressou-se a ligar para o número e do outro lado da linha uma senhora atendeu identificando-se como dona Elza, diretora da APAE, perguntando quem era. Ramon rapidamente narrou o ocorrido e que o motorista estava necessitando de socorro médico. A mulher revelou tratar-se do seu esposo que tinha ido a capital comprar brinquedos para presentear as crianças da instituição na festa de natal que iria acontecer naquela tarde e que todos estavam esperando por ele. Perguntou se Ramon não poderia conduzir o esposo dela até a cidade, pois até que fosse providenciada uma viatura de socorro demoraria algum tempo e poderia ser tarde demais.

   Ramon sem saber o que fazer optou por uma ação humanitária. Deixou seu carro trancado no acostamento da estrada e resolveu dirigir a caminhonete para a cidade próxima, local de destino do Adolfo, nome do motorista encontrado nos seus documentos. Com cuidado, colocou-o ainda inconsciente no banco do carona e pôs-se em movimento pela estrada dirigindo com cuidado.

   Os cinqüenta quilômetros pareceram uma eternidade. Ao chegar à cidade, informou-se onde ficava a Santa Casa de Misericórdia e seguiu para lá. Chegando, foi prontamente atendido por profissionais de plantão já previamente avisados pela diretora da APAE.  

   Dona Elza, a diretora, apresentou-se a Ramon e muito agradecida pelo que ele fez ofereceu sua casa para que ele pernoitasse e pudesse inclusive participar da festa de natal para as crianças. E a propósito disto, lembrou que alem da hospitalização do seu esposo, estava agora com outro problema. Olhou para Ramon e disse-lhe: “seu” Ramon, o sr. não entrou no caminho do meu marido por acaso. Estava traçado no destino. O sr. recebeu de deus duas missões nesta tarde: a primeira, já cumprida que foi socorrer meu marido e entregá-lo vivo na Santa Casa. A segunda missão será cumprida logo mais. O Sr. percebeu sua semelhança física com Adolfo? Sim, disse Ramon, mas o que te isso a ver com a missão que a senhora se referiu? Dona Elza disse: meu bom homem, há anos que o Adolfo se veste de Papai Noel e faz a alegria das crianças da nossa instituição distribuindo carinho e presentes àquelas crianças. Agora ele está hospitalizado, e o que será da festa de Natal das crianças? 

   Surpreso, Ramon perguntou: e o que a senhora quer que eu faça? Dona Elza disse: a roupa de Papai Noel está lá em casa pronta para ser usada. Dê-me a chave do seu carro que mandarei meu sobrinho ir de táxi para buscá-lo onde o senhor o deixou.

   Ramon acompanhou dona Elza e chegando a sua residência tomou um banho e vestiu a roupa de Papai Noel, sendo conduzido a APAE onde muitas crianças com seus familiares esperavam a chegada do bom velhinho. Renan que nunca havia imaginado aquilo viu-se vestido com aquela roupa vermelha alegrando a tantas crianças e seus familiares. Foi uma tarde incrível e ele sentiu-se recompensado apesar do cansaço pelo sorriso e brilho de alegria no olhar de cada criança. Após a festa retornou a residência de dona Elza que ofereceu pernoite para seu corpo cansado daquela incrível tarde.

   Na manhã seguinte, despedindo-se de todos entrou no seu carro para seguir viagem. Passando pela Santa Casa, parou para pedir notícias do Sr Adolfo e soube que ele havia sido acometido de uma crise hipertensiva e que já estava recuperado e aguardando alta para voltar para casa.

   Na estrada Ramon não parava de pensar em tudo que aconteceu na tarde anterior e na ironia do destino visto que desde criança nunca acreditara em Papai Noel e acabou sendo o bom velhinho para distribuir felicidades a tanta gente.  
 
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Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 23/12/2009
Reeditado em 24/12/2009
Código do texto: T1993265
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