A Feiticeira do Ar

A Feiticeira do Ar

Aguardava na sala do aeroporto o aviso para embarque, quando um “toc-toc” de sapatos chamou à minha atenção. Levantei a vista e vi uma mulher alta, de pernas bronzeadas. Com a força do meu olhar, ela virou-se e me encarou.

Seus olhos grandes, de cor verde-musgo tinham um brilho felino. O meu coração disparou. Não deixava de fitá-la e era correspondido. Num impulso, me levantei para ir ao seu encontro, mas perdi-a no meio da multidão. Ansioso, comecei a procurá-la entre as pessoas apressadas, quando ouvi o chamado para o embarque imediato.

Entrei no avião e surpreso, encontrei-a sentada numa poltrona antes da minha. Do meu lugar, podia ver seu perfil, movimentos e sorriso. Conversava gesticulando com as mãos. Pareceu-me uma mulher segura, livre e solta.

Tudo nela me interessava. Quando o jantar terminou, decidido me levantei. Fiquei de pé, propositadamente, olhando-a e sorri. Fui correspondido. Havia entre nós algo de mágico. Uma sinergia inexplicável fazia aquela mulher me dominar.

Bastaria um pequeno gesto e cairia nos seus braços. Desejava-a intensamente. Não houve palavras entre nós. Eletrizada, tentava se livrar dos falantes companheiros. Num impulso, levantou-se e seguiu para o fim do corredor.

Ao andar, balançava o corpo como as ondas do mar. Tinha cabelos avermelhados, caídos nos ombros. Usava uma saia curtíssima de “jeans” e blusa branca transparente. Os sapatos, cujo “toc-toc” foi abafado pelo carpete, eram pretos e altos. Olhava para suas pernas, uma loucura, queria beijá-las. Sem explicação, em vez de segui-la e abordá-la, voltei para o meu lugar.

Adormeci e não vi quando voltou. A corrente elétrica continuava. Sentia o seu calor, seu hálito, parecia que estava colada em mim. Levantei-me e fui ao “toilette”. Não sei se estava sonhando ou delirando.

Quando abri a porta senti que alguém me empurrava e entrava comigo no pequeno compartimento. Era a mulher. Nossas bocas se encontraram e foram esmagadas com fúria. Minhas mãos corriam céleres procurando-lhe os seios rígidos. Estava louco de desejo e era correspondido.

Ela, rapidamente abriu minha camisa e seus dedos leves como plumas alisavam o meu corpo, levando-me à loucura. O silêncio profundo e o bater dos nossos corações me assustava. Não sei o que aconteceu. Abrimos à porta e voltamos sem fazer ruídos.

Acordei como piscar das luzes anunciando a chegada no aeroporto internacional do Rio de Janeiro. Procurei mas não vi a mulher com quem fiz o mais louco amor de minha vida.

Quando desci, ainda atordoado, ouvi novamente o “toc-toc” dos seus sapatos. Ela parou um pouco adiante e tinha como escolta os companheiros de viagem.

Fui para a esteira e sem saber explicar, não falei com a estranha mulher que tanto prazer me dera. Segui-a com os olhos. Uma força misteriosa segurava os meus pés, impedindo-me de correr atrás. Não trocamos palavras nem cartões. Não sei quem era. No meu interior a chama do desejo ardia e eu estava disposto a cometer loucuras para ficar com ela e vivenciar uma grande paixão.

Voltei para casa naquele mesmo dia. Ela ainda continua dentro de mim. Que fazer para reencontrá-la? Impossível. Estou angustiado, não é uma mulher igual a tantas outras que passaram na minha vida.

Fecho os olhos e vejo-a por inteiro. Imagino-a nua caminhando pela praia, pernas bronzeadas, cabelos soltos ao vento. O meu desejo se acende. Faz três dias que não penso noutra coisa a não ser na feiticeira do ar e no “toc-toc” dos seus sapatos. Recife,nov/03.