Cap 16 - A visita de Kyo
O inverno mostrava suas caras naquela cidade japonesa em que eu estava. A casa começava a ficar fria e precisava de aquecimento. Organizei tudo para me preparar para o inverno mais quente de minha vida. Verifiquei a calefação, o sistema de água corrente e aquecimento central.
Estava tudo ok. Menos meus pensamentos.
Há dias atrás eu tinha entrado em contato com mais pessoas sobre o evento de lutas que estava acontecendo. As semifinais do torneio KOF estavam se iniciando. Soube que todos os quais eu havia simpatizado estavam nas eliminatórias e que muitas coisas que eu não gostaria de ver ainda tinham que acontecer..
Sentei-me em uma almofada grande que havia na sala e me dispus a pensar em algo que pudesse fazer para evitar que Iori, Kyo e Chris se enfrentassem. Me dava ao luxo de imaginar mudando o destino deles.
Todas as possibilidades que me vinham na cabeça mostravam que não devia mudar os acontecimentos. Mas eu estava envolvida com aquela historia até meu pescoço. Tinha uma simpatia imensa pelo demônio que habitava o corpo de Chris. Ele não era tão mal assim. Afinal, foram humanos que o despertaram.
Iori havia me encantado .... mesmo com o ódio correndo em suas veias como fogo.
Tive raiva dos seres humanos tentarem controlar forças que estão além de suas habilidades. Passei minha mão pelos cabelos e deixei-os bagunçados. Agora eu pensava seriamente em Kyo.
Ele era o único em que eu não tinha tido contato serio. Aquilo me deixava aflita, pois eu sabia que havia conspirações contra ele.
Questionei-me dos porquês de todos que conheci, sobre os motivos de suas lutas, pelos motivos de estarem ali, sem ainda entender as possíveis respostas.
Me agasalhei melhor. Vesti uma blusa de lã fina por cima da lingerie que usava e coloquei uma calça de cotton branca. Fiquei a olhar a janela a procura de soluções, ou fugas para minhas preocupações.
A campainha suave da casa soou. Eu não acreditava em meus olhos. Pisquei olhando fixamente para o portão e para quem se encontrava nele. Fui até a porta, como quem não quer assustar um pássaro que pudesse voar de minhas mãos e falei completamente perplexa.
- Kusanagi? – eu devia estar com cara de susto naquele momento.
Reparei nas roupas que ele trajava.
Era toda negra com pequenos detalhes brancos nas mangas, bolsos e gola. Kusanagi estava elegante e confortável. Li um pouco sobre seus gostos e senti que ele tinha uma veia artística e poética forte. Sorri comigo mesma. Ali eu havia encontrado pessoas inusitadas que lutavam e eram sensiveis.
- Vejo que não sabia que eu viria – fez um gesto apontando para si mesmo. - Nisa, posso entrar?
Um lampejo de mil pensamentos passou em minha mente enquanto destravava o portão para que ele entrasse.
- Não imaginava visitas. Ainda mais sua! - abri o portão e pedi que entrasse com um gesto de mão. Pensei em voz alta: - Mas eu precisava que você viesse. Estava pensando em você.
Kyo entrava se questionando o que iria ouvir de mim.
- Pensava em mim? – virou-se para mim antes de passar pela porta da sala. - No que pensava, menina?
Eu olhava alegre para ele mas mudei de fisionomia logo. Sentei em um sofá e estendendo a mão para que ele sentasse noutro. Fecho a porta por meio de telecinese. Enquanto ele me olhava meio espantado e meio curioso.
- Preciso lhe falar sobre problemas com o campeonato.... – franzi a testa - e você pode se envolver.
Pensei se realmente eu podia falar com ele.
- Problemas no campeonato? Problemas Comigo? Até parece que não me conhece!
Olhei seria para meu visitante.
- Não seja tão dono de si Kyo –..... pois não o conheço muito bem.... só sei o que você fará.... ou faria em algumas situações.
A fisionomia serena e extrovertida de Kyo mudou. Ali, na sala, sentada, olhando séria para meu ilustre visitante, eu me questionava se falaria tudo que sabia para ele.
Respirei fundo, me levantei e caminhei até a cozinha preparar um chá de ervas frescas. Em alguns minutos volto com um par de xícaras fumegantes com liquido quente e aromatizante.
- Você sabe o porquê de vir até aqui me ver, Kyo? – perguntei de forma séria, sentando-me novamente na almofada que ficava em sua frente. Vi-o enrugar a testa para me responder:
- Sinceramente não. – bebericou um pouco do chá fazendo cara de que estava bom - Mas confesso que fiquei pensativo quando você me entregou seu endereço na ultima festa em que nos encontramos. – coçou de leve os cabelos, desarrumando-os um pouco e sorrindo.
Resolvi começar pelas beiradas.
- Você acha que algo pode dar errado nessas finais de campeonato, Kyo? – eu o olhava nos olhos.
- Não. – vejo seu cenho fechar mais um pouco. – Você sabe de algo que vai ocorrer nas finais do KOF?
Uma onda de tristeza invadiu meu coração e disse sim olhando fixamente nos olhos dele.
Pensei mais uma vez na possibilidade de mudar o futuro, ter Chris vivo e sem a personalidade que habitava em seu corpo. Pensei em ver Iori livre da maldição que ronda sua família.... queria ver todos bem e felizes porque, sem duvidas, todos ali mereciam isso.
Eu acreditei por instantes que revelando tudo a algumas pessoas confiáveis eu ajudaria os acontecimentos ruins mudarem para coisas boas.
Encarei Kyo com segurança e lhe contei todo meu trajeto até ali, aquele momento. Apenas parava para molhar a garganta com o chá (agora morno) da minha xícara.
Contei-lhe da viagem no tempo, do encontro com ele na luta contra algo inexplicável (mas não me referi os nomes de ninguém, preferi poupar as pessoas “envolvidas” na historia até que elas realmente se “envolvessem”).
Kusanagi me olhava boquiaberto.
Dei uma pausa para terminarmos a bebida. Falei de minhas habilidades de transmutação, de minha origem, de meu mundo, de meus desejos como não humana e de minha vontade de ajudar a todos que eu havia conhecido ali naquele lugar.
Com os olhos marejados, ofegante e atordoada, eu finalizei minha narrativa. E ele me abraçou, se ajoelhando ao chão a minha frente.
- Kyo, eu estou sozinha. E sei que você é uma peça chave nisso tudo. Preciso de sua ajuda. – toquei seu rosto e acariciei a franja.
Meu amigo sorriu e colocou a mão direita em minha cabeça dizendo entre lágrimas que brotavam no canto de seus olhos:
- Ajudo sim... – secou uma lagrima de meu rosto com as costas de sua mão - E para que não aconteça nada de mal nas finais, precisamos acompanhar todas as lutas.
Li sua mente. Por um segundo ele pensou em me apresentar a uma pessoa chamada Chizuru. Levantei-me, bati a poeira de meus pensamentos e aceitei sua proposta com o olhar e sorri.
Saímos em direção ao carro dele. Fomos ao ginásio em que aconteceriam as semifinais.
Já era noite e todas as luzes da cidade estavam acesas.
Alguma luz de esperança se acendeu em mim também.