A loura das joias

Não sei se era uma loura natural ou fabricada com oxigenador; o que importa é que era uma mulher muito bonita e que fotografava bem; tinha muita vontade de ser "alguém" na vida, portanto procurava levar uma vida que a fizesse encontrar alguém (!) Resolveu acompanhar os Árabes que vinham comprar pedras preciosas na Bahia de São Salvador; gostavam de se hospedar em hotéis de luxo, de preferência acompanhados de mulheres lindas, que pudessem contrastar com suas características raciais. Ficou alegre quando fechou o primeiro contrato como acompanhante, mas não supusera, que o contrato a obrigaria, como era óbvio, a dormir no mesmo quarto que o árabe, e o que era ainda pior, ter que dormir na mesma cama e com as responsabilidades inerentes ao fato; sem saber o que fazer sentou-se na cama e começou a chorar, surpreendendo o comerciante, que embora contrariado, resolveu não devolver a mercadoria, propondo-lhe que ficasse com ele...Sem sexo. De fato o homem cumpriu a palavra e ela ficou tranqüila. Algum tempo depois, quando contava o caso as amigas, havia um quê de incredulidade. Passados os anos, como professora de sociologia, com todos os títulos possíveis, sendo "alguém", fez questão de esquecer a viagem à Bahia, reservando as confidências para o divã do psicanalista. Do árabe, guardou a lembrança de um anel de diamante, um solitário que fazia a alegria de suas tardes solitárias, à época em que suas tardes eram solitárias. Esquecia-me de dizer, que eu capelão-mor da Igreja dos Santos pré-apocalipticos, dei-lhe a absolvição, após sua confissão e arrependimento dos pecados, depois de fazer uma avaliação espiritual dos mesmos, chegando à conclusão de que se Maria Antonieta existiu, tudo é permitido. Amém!