Cap 14 - Quem é Kim
Por minutos fiquei a beira da piscina observando o reflexo das pessoas na água.
Muitas vezes o ponto de vista dos outros deforma sua imagem, deforma a maneira de enxergar o que realmente as pessoas são.
Será que eu estava enxergando aquelas pessoas ali de forma errada e deformada? Meu ponto de vista alterava o que cada um era de verdade? Ou todos realmente eram seres doces dentro de suas almas?
O cheiro de carne assada, frutas e o som de musicas alegres não condiziam com meu estado de espírito.
Balancei meus pés na água, a temperatura era agradável, pois a água era aquecida. E precisava ser, pois era outono e o vento frio do inverno já rondava a estação.
Falando em aquecida, ainda sentia meu rosto quente e o metabolismo acelerado pela ação que fora obrigada a tomar com Iori há alguns minutos antes.
Para acalmar, me levantei, tirei a camiseta curta que vestia, tirei o short, joguei tudo em uma cadeira próxima, arrumei a alça do biquíni negro com detalhas de desenho de fogo e caminhei até o trampolim. A piscina era olímpica. A profundidade me parecia boa para um mergulho nas minhas mágoas.
A plataforma ficava a uns 3 metros da água, não era muito alto para um trampolim, mas me daria uma pequena adrenalina. Eu precisava daquilo para refrescar a cabeça do que tinha ouvido na cozinha, do que tinha feito com Iori e do que tinha que fazer com Kyo.
Saltei olhando para a dança das árvores ao vento. O impacto na água foi leve, espirrando poucas gotas dentro da própria piscina. Sem tomar fôlego dei 4 voltas por baixo da água.
Quando coloquei a cabeça para fora haviam 3 pessoas me observando na beirada. Olhei para eles nos olhos. Não os conhecia e não estava disposta a conversar. Apenas observei a cerveja em suas mãos, a roupas triviais que usavam e a conversa machista que tinham.
Respirei fundo, sai da água e me sentei a beirada novamente envolvida com minhas idéias mirabolantes.
Minutos se passaram, até que senti um leve toque em meu ombro.
Eram mãos delicadas. Olhei na direção de onde elas vinham, acompanhando com os olhos a mão, o braço, o ombro e o rosto. Era um homem com um sorriso extremamente cativante que me entregava uma toalha.
De alguma forma a presença dele me acalmou as idéias. Agradeci sem jeito pelo gesto. Olhei para a roupa confortável que ele trajava. Era uma calça branca de tecido maleável e leve, supus que fosse algum uniforme de treino. Usava também uma camiseta branca impecável, com um pequeno emblema da Coréia bordado no lado esquerdo. Tinha cabelos curtos com uma franja que caia insistentemente em seus olhos negros.
Ele me olhava nos olhos. Ao mesmo tempo que mantinha um olhar suave, dócil, e um tanto quanto inocente, era decidido e me pareceu muito prudente.
- Me pergunto como mergulhas em uma piscina, esquecendo-se da toalha? - Seu sorriso estava mais forte do que nunca. E ofereceu sua mão para que eu me levantasse.
Olhei com vergonha para o homem ao meu lado segurando sua mão.
- Obrigada pela toalha. – eu ainda estava triste, apesar da distração momentânea.
Por instantes me senti deslocada e tive vontade de ir embora. Passeei o olhar ao redor demonstrando essa vontade.
- Que isso, não precisa agradecer. Aliás, quero um favor seu, como retribuição pela toalha, aceita?
Olhei curiosa pensando em possibilidades esdrúxulas.
- Que tipo de favor eu faria? – cocei a cabeça bagunçando o cabelo.
- Nada tão machista quanto o pensamento daqueles ali. - Diz apontando para outros 3 homens que conversavam próximos, os mesmos aos quais eu tinha passado perto.
Fiz uma breve leitura de sua mente. Ali haviam 2 pessoas da equipe dele, as quais ele treinara exaustivamente para saírem do mundo do crime.
Uau! Pensei comigo. Ali ao meu lado havia um justiceiro da paz. Gargalhei com a comparação.
- Sem problemas.... não seria pensamentos dignos de você, quem me deu uma toalha assim de tão bom grado!
- Não diga isso. Vi que ele ficava corado. - Mas, e então, me faria o favor ou não? – colocou as mãos na cintura e me olhou carinhosamente.
Acenei com a cabeça positivamente dizendo sim.
- Quero que mude essa carinha de desanimada, e que espante qualquer vontade de ir embora! Vamos é nos divertir aqui! - parecia muito empolgado, enquanto oferecia a mão para que eu o acompanhasse a algum lugar onde as pessoas pareciam animadas.
Enrolei a toalha no corpo e comecei a andar ao seu lado. Eu estava espantada com aquilo.
- Você faz sempre essas coisas com pessoas estranhas que nem sabe o nome? - pensei um pouco e perguntei - Qual seu nome?
-Kim... - sorriu encantadoramente para mim - Kim Kaphwan, mas eu sei o seu nome... é Nisa, certo? – sorri consentindo - Já ouvi falar de você! Trabalha com música, certo?
Pensei comigo: o meu nome já tinha corrido com as pessoas ali.
- Sim... isso mesmo.... – agora quem estava vermelha de vergonha era eu.
- Ora, não seja tão tímida, vamos dançar! – Kim sorria animado me puxando para um grupo de pessoas que dançavam algo bem animado.
Senti naquele momento que encontrava mais um amigo para compartilhar as coisas que eu vinha fazer ali.
- Pois é.... - falei por telepatia olhando em seus olhos e observando as reações dele - Se você tivesse passado o que eu passei há minutos atrás não teria me falado isso de que sou tímida..... - Apontei Iori com os olhos. Ele estava em um canto sentado e fumando.
Sorri analisando a personalidade de Kim. Ele não precisava ter poderes como os meus para fazer as mesmas coisas que eu estava fazendo ali.
- Ele me preocupa muito.... Ao mesmo tempo em que é durão... é frágil... –mostrando a ele de quem estava falando.
- Você está preocupada com Yagami? Ele se faz de durão sabe... Creio que ele não quer deixar que os outros vejam o quão bom ele pode ser. – Kim sorriu para mim respondendo apenas com pensamento - Isso pode ser o medo... Sua preocupação toda, e sua cara de desânimo, são por causa disso?
Disse sim balançando a cabeça em silencio.
- Ele quase perdeu o controle do que era.... ou do que é? – a duvida me apareceu na cabeça naquele instante – Precisei apelar um pouco para que ele não cedesse às provocações.
Sacudi a cabeça, tentando esquecer o tinha havido e falei rapidamente:
- ah deixa quieto Kim. São coisas sem importância pra você que acabei de conhecer!
- Que deixa quieto o que!! Agora que ajoelhou, reza! E não se preocupe. Posso até tentar ajudá-la, isso se quiser, obviamente.
Kim era gentil e espirituoso na forma de falar. Equilibrado em todos os sentidos: mente e corpo. Reparei na delicadeza e precisão de seus movimentos enquanto dançávamos um ritmo que até então eu não havia prestado atenção.
Sorri para ele. Estava me deixando bem comigo mesma de novo.
- você quer saber a historia toda ou só a parte em que eu me senti encrencada?
- Fale o que mais a afligi e depois você conta toda a trajetória.
Respirei, abri a boca, deixando a telepatia de lado e falei bem rápido:
- Acabei de evitar que Iori despertasse o sangue "envenenado” dele para o lado de Kyo, por cause de uma provocação feita por Chris.
Olhei rápido para Kim, que abriu a boca devagar e piscou voltando ao normal. E continuei:
- Mas acabei com algumas seqüelas - mostrei o braço vermelho do apertão que havia levado de Iori enquanto discutíamos em um tempo paralelo a este.
- Ai ai... o Yagami as vezes exagera sabe... – Kim tocou meu braço com a ponta leves de seus dedos - Vem, vou cuidar desse braço. Melhor não fazer movimentos muito " bruscos", sabe. – me levou ate uma cadeira, me fez sentar e se abaixou na minha frente olhando em meus olhos - E não se preocupe, te garanto que mexeu tanto com o Yagami quanto esperava.
Olhei curiosa com o comentário que ele fez sobre Yagami.
- Não se preocupe, não dói mais... e só mais alguns minutos passa essa vermelhidão. A dor que ele sente é mil vezes pior. – tentei disfarçar meus pensamentos, mas não agüentei. Segurei com as duas mãos nos ombros de meu mais novo amigo e perguntei.
- O que você quis dizer com isso? Eu mexi com ele?? Esta brincando, né? Ele quase me matou! – agora sim eu pensei no perigo que tinha corrido batendo de frente com Iori dominado pelo poder Orochi.
Tocava uma musica alegre e Kim falou rindo olhando para Iori. Vimos que ele olhava curioso para nós dois.
- Não estou brincando. – rimos ao encontrarmos com o olhar que Yagami lançava para nós.- Realmente você mexeu com ele... porém, nunca admitiria isso.. Seria quase como uma derrota.
Voltamos para a pista e nos juntamos com Shiro, Chris, Athena, Mai e Shermie (que ainda não apreciava minha companhia, mas não se retirou dessa vez)