Um conto de Natal

Talvez por milagre fora, não sabemos como, Lina apareceu-nos naquela noite de Natal; era uma cadelinha branca com algumas manchas amarelo-escuro, olhinhos pretos e muito brincalhona e serelepe.

Demos-lhe o nome de Natalin, mas, com o tempo, todos de casa acabaram chamando-a carinhosamente de Lina. Passávamos o tempo, eu e ela, correndo uma atrás da outra no quintal brincando de esconder e jogando bola.

Um ano passou rápido. Estava chegando outra vez o Natal e eu continuava sonhando com uma bonequinha que estava numa vitrine perto de nossa casa. Imaginava-me abraçada nela. Era um sonho que dormia só em mim.

Chegou a noite de Natal e ganhei o que meus pais sempre me davam. Algumas roupinhas novas, pirulitos, balas e frutas cristalizadas. Era o que podiam dar. Lina ganhou um osso enorme, desses que nunca se acaba de roer.

Eu sabia que Papai-Noel existia, mas nunca consegui entender porque umas crianças ganhavam tantos presentes, brinquedos, outras não. Naquela noite fui dormir pensando nisso.

De manhã, muito cedo ainda, nem bem tinha clareado o dia, Lina pulou sobre minha cama, me acordando; quando ralhei com ela para que saisse, senti que ela tinha alguma coisa na boca; acendi a luz e ela soltou no meu peito a bonequinha com a qual eu sempre sonhara!

Corriu para o quarto dos meus pais feliz da vida para mostrar o que Papai-Noel havia me trazido. Eles, muito admirados, perguntaram de onde tinha vindo a boneca.

-Papai-Noel deixou com Lina, eu disse, não entendendo a admiração deles.

Minha alegria não cabia no coração. Seria meu brinquedo favorito. E de Lina. Por muito tempo.

Quinze anos depois Lina se foi, deixando em nós muita saudade. Dormiu ao meu lado numa noite morna, estrelada de Natal.

Meus pais juram, até hoje, que não me deram a bonequinha naquela noite.

Ainda a tenho comigo.

Chaplin
Enviado por Chaplin em 19/10/2009
Reeditado em 04/03/2010
Código do texto: T1876031