Silverado, um western que virou romance

Estava comodamente assentado numa poltrona do Cine Palace. Ante-penúltima fila horizontal do agrupamento central de poltronas. Eram ao todo, três agrupamentos. Nome do filme? Silverado (western, adoro western). Com quatro balas de menta no bolso e uma na boca, fiquei a relembrar os últimos acontecimentos. A tempos atrás, alguns amigos riam-se de mim, explicando-me que western era filme para preguiçosos mentais. Diziam não ser necessário quase nenhum esforço inteligente para compreendê-lo, era só pancadarias e tiroteios. Era filme apropriado para imbecis, diziam-me. Eu não os retrucava, porque era exatamente isso o que procurava para relaxar-me das tensões diárias. Imaginem só, o que os engraçadinhos falavam na minha lata: "filme para imbecis!" Era de matar! Ou de morrer! Como queiram! Mas, no íntimo, eu sabia tratar-se de um excelente relaxante natural sem contra-indicações. Até concordo com o argumento de que não se deve aparentar inteligência e, sim, simular burrice. Por quê? Talvez por querer demonstrar humildade ou quem sabe, para camuflar-me como fazem as raposas políticas. Não é que eu tenha a pretensão ou presunção de julgar-me inteligente, mas, entendo que ocultar esse fato, seja uma forma de proteção contra possíveis surpresas desagradáveis da vida. Coisas de mineiro, vocês sabem como é!...Saboreio agora, a segunda bala. Sentia-me um pouco solitário, absorto em meus pensamentos. Lentamente fui saindo desse transe letárgico e, olhando à volta, vi muita gente bonita, bem trajada e falante. Um casal de jovens, cinco poltronas a minha direita, abraçavam-se e beijavam-se apaixonadamente. Mais ou menos, três metros a minha esquerda, vários colegiais riam e se divertiam. O ambiente estava morno e agradável. Repentinamente, assenta-se ao meu lado direito, uma bela morena de aroma delicioso, cabelos negros longos e de corpo escultural. Ao sentar-se olhou-me ligeiramente e sorriu-me um sorriso alvo e maravilhoso. A partir desse momento, pareceu-me estar internamente ligado a uma tomada de alta tensão, que irradiava-me intenso calor e energia. Iniciamos uma conversa alegre e aos poucos, fomos nos conhecendo. Seu nome era Ingrid (lembrei-me de Ingrid Bergman, em Casablanca). Estávamos bem entrosados, quando apagaram-se as luzes e iniciou-se o filme. Toquei suavemente o meu braço ao dela, junto aos braços das poltronas. Era deliciosa a maciez de sua pele. A cerca de 10 minutos, havia lhe dado uma bala de menta. Os seus longos cabelos, a pele macia e perfumada, excitavam-me. Não resistindo, aproxime meu rosto ao dela de modo que, os seus cabelos tocavam-me a face. Ela de olhos fixos na tela, pressentia a minha proximidade e respiração acelerada. Virou-me lentamente o seu belo rosto, permitindo-me apreciar seus lábios carnudos e os grandes e lindos olhos verdes. Não mais conseguindo conter-me, beijei-a suavemente nas faces. Ela se mostrou receptiva e foi então, que abracei-a com carinho e beijei-a novamente, só que desta vez, mais suave, longa e ardorosamente os lábios, sentindo-lhe o hálito de menta. Enquanto na tela era exibido o western, nós interpretávamos um maravilhoso filme romântico no escurinho do cinema. Ficamos envolvidos numa atmosfera de beijos e carinhos durante um longo e agradável tempo, até que, subitamente, o filme findou e as luzes acenderam-se. Meio que pegos de surpresa, refizemo-nos bem rápidos e de mãos dadas, entre sorrisos e passos lentos, dirigimo-nos à saída. No dia seguinte, meus amigos perguntaram-me se eu havia assistido ao filme que estava sendo exibido no Cine Palace, pois, viram anunciado nos jornais, que tratava-se de Silverado, western. Riam-se e caçoavam de mim. Como bom mineiro que sou, respondi que sim e dei logo um jeitinho de finalizar a conversa por ali. E, como bom mineiro que sou, não vou contar p'ra vocês o resto da minha estória. Uai sô! afinal, mulher bonita, adora guardar segredos de amor.

Jaime Rezende Mariquito
Enviado por Jaime Rezende Mariquito em 18/10/2009
Reeditado em 20/10/2009
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