Cap 7 - O bar

Observei o local atentamente. Havia um ringue grande ao centro do estabelecimento. As pessoas se aglomeravam em pequenos grupos espalhados pelo local, falavam alto e pareciam bem regadas a bebida. A iluminação era escassa, pois se resumia as pequenas luminárias entre as pilastras de sustentação arquitetônica.

As cores usadas na iluminação variavam entre azul e vermelho. Achei o clima interessante, mesmo por que rolava uma musica eletrônica empolgante de fundo, competindo com gritos das conversas, sons de copos e risos histéricos.

Olhei de relance para meu companheiro. Ele já não estava logo atrás de mim, como eu imaginava. Yashiro se encontrava em meio a três pessoas conversando e acenando com a mão para que eu fosse até lá.

Sorri, pois no meio do grupo estava uma menina jovem com cabelos longos e roxos, usando uma tiara dourada na cabeça, roupas bem femininas e discretas.

Até que enfim uma mulher! Eu estava achando que devia me tornar um homem para entrar na vida desses caras.

Enquanto caminhava devagar até eles passeava o olhar pelo pequeno grupo, encontrei ali o homem de moicano que vi no dia em que houve a interferencia dos hologramas, eu ainda estava no Brasil.

Me lembrei do cheiro do perfume que ele usava. Estava impregnado na minha memória. Levei o indicador até a testa e massageei de leve para aliviar a dor de cabeça que viria se eu deixasse.

De frente para mim estava o oriental que eu tinha passado a mão na cabeça no dia em que tudo estava congelado. Dessa vez ele trajava uma roupa negra com detalhes brancos nas mangas da jaqueta e barras das calças, também usava uma faixa branca na testa. Lembrei-me de seu nome. Era Kyo.

Yashiro toca em meu ombro mais falante que o normal e me apresenta:

- Como eu disse, essa é Nisa Benthon. A menina do yakissoba. – senti meu rosto ficar vermelho. O que mais ele teria dito sobre mim?

- Eu conheço você!! Não trabalha no mundo da musica também?? – diz em uma forma alegre a menina do grupo. – Sou Athena. – estende a mão em cumprimento.

Olhei de forma diferente e vi algumas imagens da vida dela. Realmente o que ela fazia eu já tinha visto.

- Espere... – coloquei a mão no queixo pensando de verdade-... também conheço você... Num é a menina do musical “Psycho Soldier”?

Ela deu um pulinho e riu. Ri junto com ela enquanto os rapazes gargalhavam. Menos Kusanagi.

Shiro toma um gole da cerveja que havia acabado de chegar falando em seguida:

- Este esquisito aqui é a pessoa mais sensível que já vi na vida, - aponta o do moicano – ele é o Benimaru.

Acenei com a cabeça e estendi a mão para cumprimentar. Ele faz o mesmo movimento cortês, entretanto, quando as duas mãos se encontraram, um estalo o empurrou de forma brusca para o outro lado do balcão onde todos eles estavam encostados.

Apoiei o tórax em cima da pedra que cobria o balcão e o vi em meio a algumas cadeiras bagunçadas. Ele estava atordoado e olhando pra mim de forma estranha. Pisquei os olhos e procurei uma resposta nos demais que estavam olhando curiosos.

- Você está legal? – olhando para Benimaru se levantando e batendo a poeira da calça branca e do tipo de camiseta cortada que deixava a mostra sua barriga.

- Isso é chamado de feitiço que se vira contra o feiticeiro. – diz Athena rindo com um copo cheio de uma bebida cor de rosa.

- Você tem muita gracinha nesse copo não é, Athena! – fala Benimaru pulando sem tocar no balcão e parando na minha frente.

- Que foi? – eu sai devagar para o lado de Yashiro. – Ele ta bravo comigo por que eu repeli a energia estática dele? – falei por telepatia com meu amigo Shiro.

- Beni luta usando eletricidade, você até agora foi a primeira a notar isso antes da peraltice de lhe dar um leve choque estático. – Shiro pensa de forma que eu possa ler claramente sua mente.

Minha boca abriu de espanto sem que eu percebesse.

- Desculpe Benimaru, não sabia que você iria para o outro lado ... – olhei para o balcão, para a bagunça das cadeiras e para a cara que ele fazia naquele momento.

O meu riso ficou preso na garganta.

Todos começaram a rirem juntos.

Estendi a mão para ele novamente, assim que ele fez o mesmo em seguida tirei-a da frente e dei um beijo em seu rosto. Sorri.

- Ah assim ta melhor!! Você ganhou o round. – gritou gesticulando com as mãos para mim num movimento de reverencia. Pegou um copo que o atendente do bar levara até ele, tomou um gole profundo do liquido negro (que mais parecia coca-cola) e saiu para dançar na pista.

- Que figura é esse cara! – sentei no banquinho ao lado do ilustre sério companheiro do grupo. – Deixe-me adivinhar seu nome... – coloquei a mão na testa dele - Kusanagi, não é?

Pisquei para Shiro que me olhava atento.

- Kyo Kusanagi. – diz ele sem mover a cabeça, ele apenas leva os olhos para os meus e responde.

Naquele toque veio pequenas cenas do sonho que tive no dia em que os vi pela primeira vez. Dentre as cenas, uma rajada de fogo azul e vermelho me fez estremecer enquanto ainda tocávamos olhares.

Fitei-o mais ainda, cerrando as sobrancelhas. Tentei caçar todas as informações daquelas pessoas que vinham em sua mente em poucos instantes. Mas aquele ali na minha frente, tinha uma barreira mental incrível.

Tenho que confessar, o olhar de Kyo era o mais triste, solitário e arrogante que eu vira até agora.

Ganha até da francesa da banda de Shiro.

Pedi licença para me afastar com certa vontade de chorar. Fui até o balcão pegar um coquetel sem álcool de cereja fresca.

Precisava descobrir quem era o homem que lutaria com ele na final contra o Orochi.

Na verdade eu já sabia o nome da pessoa...Yagami. Mas não sabia quem ele era de verdade.

Tomei um gole da bebida suave que tinha nas mãos. Ali também havia flores de cerejeira enfeitando o copo. Sussurrei comigo pensando nas possibilidades daqueles homens que vi:

- Num é bom saber do futuro... – voltei ao grupo ao lado de Benimaru.

Terminei a bebida conversando com os 4.

Benimaru pula novamente no meio das pessoas dançando e me chama para acompanhá-lo no som de um Psychodance.

Não pensei duas vezes, e fui para a pista com todo meu talento de dança. Foi divertido. Fizeram uma roda para nós dois. O cara era um ótimo coreografista!!

Eu me senti menor que nunca ao lado dele que era mais magro e esbelto que Shiro. Ri comigo mesma pensando que todos eles eram lindos demais para se espancarem em ringues..

“Encontrei mais um amigo gay” pensei comigo.

Sai da pista com uma garrafa de água nas mãos que os garçons me deram de presente.

Já era mais de quatro e meia da madrugada. Eu estava exausta.

Despedi-me de todos e sai do salão. Aquilo tinha sido demais.

Toquei na moto e pensei com meus botões se eu queria mesmo pilotar até a casa que eu aluguei. Balancei a cabeça negativamente olhando para todos os lados e procurando por quem poderia me ver.

Em segundos me teleportei para a garagem da casa que havia alugado dias antes.

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