Cap 6 - Conversando com a banda

Saímos do galpão onde ocorreu o ensaio. Subi na moto que eu havia estacionado logo em frente da porta industrial e a liguei. Em seguida ouço o ronco de outro motor. Era Yashiro e Chris saindo do galpão em outra moto. Agora ambos vestiam luvas e roupas mais quentes de couro, devido o frio que chegava.

Peguei a estrada logo atrás deles, pois íamos a uma lanchonete com karaokê onde nosso ilustre companheiro menor de idade, Chris, pudesse entrar. Encontramos um local, que segundo eles, tinha ótima comida e era aconchegante.

Realmente achei o pequeno restaurante muito organizado. Um local para poucas pessoas, sem mesas e sim com pequenos locais isolados por separadores de bambu corrediços com almofadas para sentarmos e suportes para a comida que chegava em barcas enfeitadissimas.

Após a refeição farta e muitas risadas, levamos Chris para casa. A rua onde paramos para deixar o garoto era de arquitetura bem diferenciada, parecia uma colônia de estrangeiros. Estava absorta olhando para o lugar ainda em cima da moto, quando senti o garoto me abraçar forte.

- Nisa, obrigada pela companhia de hoje! – reparei naquele instante que Chris tinha um leve sotaque e sorri agradecendo.

-Não foi nada! Adorei passar a tarde com vocês. Fazia tempo que não tinha momentos agradáveis. – fiquei segurando a mão dele o olhando.

Durante o dia todo havia procurado alguma coisa que explique o surgimento do demônio do qual ele é hospedeiro. Aquilo era uma maldade sem limites... o garoto era meigo, criativo e sensitivo. Era difícil imaginá-lo como um monstro. A voz de Yashiro cortou meu devaneio:

- Nem tão agradáveis assim, por que nossa integrante feminina te maltratou. – diz Yashiro tocando a campainha da porta olhando de rabo de olho para a gente.

Sorri sem graça.

- E você acha que isso é anormal?? – o menino falou com uma ruga na testa olhando para o altivo companheiro.

Balancei a mão segura na de Chris e sorrimos como quem não liga para nada daquilo. Pisquei para o menino e falei por telepatia: “vamos dar um susto nele?”

Com um balanço de cabeça e cara de arteiro, Chris aceita a proposta, sem estranhar a telepatia..

Nos teleportamos para longe do campo de visão de Yashiro antes que os responsáveis por Chris aparecessem na porta.

Chegamos a ouvir Yashiro conversando.

- Aqui esta o garoto, são e salvo. –aponta para trás onde não há ninguém.

- Onde... – olhando para todos os lados - Onde ele está, Shiro?? – pergunta a mulher à porta.

Enquanto os 2 procuravam-nos, teleportamos para dentro da casa e saímos pela porta da frente gritando. Fazendo ambos darem um pulo.

Olhei para a cara de bravo de Yashiro e começamos a rir. Ele ficava incrivelmente bonito com a face irritada.

- Foi só brincadeira!! – diz Chris batendo nas costas do amigo.

Após as apresentações nos despedimos.

- Você também é pentelha, não é, Nisa?? – diz Shiro sorrindo de canto de lábio segurando o capacete de sua moto ao meu lado.

- Por que você pergunta? Prefere mulheres mal humoradas? – pisco para Yashiro, o vendo ficar vermelho e permanecer em silencio. - Falei besteira?

Ele sobe na moto, me olha sorrindo antes de dar partida e fecha a viseira.

- Vamos a um lugar. Quero lhe mostrar algumas pessoas. – a voz saia abafada pelo capacete e em seguida saiu em disparada na minha frente.

Acompanho seu ritmo normalmente junto com minha moto. Tinha adorado alugar aquele modelo. Era muito confortável. So havia um empecilho: Eu só não podia derrubá-la. Pois não teria forças para levantá-la sem ajuda e sem apelação.

No caminho travamos uma conversa telepática. No começo Yashiro não gostou, mas se soltou ao longo das perguntas.

- Posso chama-lo de Shiro? – comecei o diálogo emparelhando ao seu lado e apontado para nosso capacete.

Ele estendeu o polegar em sinal afirmativo.

- Você parece um irmão mais velho do Chris, se conhecem há muito tempo? – emparelhei mais próxima a ele e o olhei de relance.

- Sim... praticamente o vi crescer em meio a essa multidão de exilados pela guerra. Mas o conheci mesmo na academia onde treinamos. – Shiro se empolga pensando em cenas de treinos e eu deixo sua mente viajar – O garoto tem potencial demais! Até conseguimos inscreve-lo no torneio “The king of fighters”. O que não foi muito fácil.

- Mas ele não é menor de idade? – perguntei intrigada. – Não é contra a lei?

- É contra a lei deixar uma pessoa na idade dele, com as técnicas que tem, fora do campeonato. É isso. – aponta a fachada piscante logo a frente. – Chegamos. Viagem agradável não?

Dei uma gargalhada.

Deixamos as motos em um estacionamento e entramos, sem ao menos apresentarmos identidades. Já era mais de uma hora da manhã.