O polvo feio
Era uma vez duas meninas que estavam sentadas na praia, muito entretidas a construir um castelo de areia que o tio lhes tinha ensinado a fazer, quando de repente, veio uma onda e destruiu tudo, reduzindo o castelo a um monte de areia e espuma.
-Oh! - disse uma delas.
-Não fiques triste, vamos construir outro.
-Vamos antes molhar os pés? - desafiou uma delas.
-Não mana, a mãe avisou-nos para não sairmos daqui.
- A mãe neste momento não está a olhar para nós. - disse a correr para o mar.
De repente para a meio caminho e não tira os olhos dum grande rochedo. Dele vinha uma luz muito forte.
Anda mana! Afinal não vou molhar os pés. Vamos antes àquele rochedo.
De mãos dadas, as crianças aproximam-se do rochedo e avistam uma linda mulher de olhos verdes, na testa uma estrela cintilante, penteando os longos cabelos pretos , com um pente de ouro. A bela sereia sorriu para elas e as meninas não conseguiram desviar o olhar, enfeitiçadas com o seu resplendor.
Com uma voz doce e melodiosa, ela diz-lhes:
-Meninas, aproximem-se mais! Querem ver os peixinhos? Posso levá-las na minha cauda a dar um passeio.
As crianças hesitaram, mas em seguida recusaram o convite.
-Não podemos, a nossa mãe vai ficar preocupada. - disseram em simultâneo.
-Não tenham medo, eu sou uma sereia boa, chamo-me Sirena. Confiem em mim. Não vamos demorar. E a vossa mãe está entretida com os vossos avós e nem vai dar pela vossa ausência.
As meninas acabaram por aceder, contentes com a ideia de verem os peixinhos no fundo do mar e esquecendo o aviso da mãe.
A sereia olha-se ao espelho, sorri docemente, e ajudando as meninas a subirem para cima dela mergulha no mar sereno. As meninas iam encantadas montadas na sereia, com os olhos bem abertos para verem bem os peixinhos.
Os seus olhos espraiam-se e vêem lindos corais, anémonas, ouriços-do-mar, cavalos-marinhos e muitos peixes multicores. Ficaram maravilhadas com tanta beleza, que lhes lembrava o arco-íris. Empolgadas, fazem imensas perguntas à sereia que paciente e docemente lhes vai explicando tudo. Estavam tão entretidas que nem deram pelas horas passarem, até que o estômago de uma delas lembrou que estava na hora de comer.
-Tenho fome, quero voltar para a mamã.
-Tens razão, são horas de voltar. - disse a sereia.
E com um sorriso maléfico, deu meia volta e tomou rumo noutra direcção.
De repente, um majestoso palácio apareceu em frente delas.
- Os nossos pais não estão aqui. Eles ficaram na praia.
Malévola, a sereia responde:
-Esqueçam os vossos pais. A partir de agora ficam a morar comigo neste castelo.
As meninas começam a gritar pela mãe sem parar.
-Queremos a mãe. - dizem chorando.
Mas a sereia sacudiu-as de cima dela com violência e as meninas caíram no chão.
-Calem-se, calem-se! - ordenou furiosa.
As meninas olham para a sereia e quase desmaiam de susto. A linda sereia tinha-se transformado num ser horrível. Tinham sido enganadas pelo seu encantamento. Afinal a sereia era uma bruxa má.
As duas irmãs, agarradinhas uma à outra, não paravam de gritar.
-Socorro, mãezinha, socorro, avozinha! Venham-nos salvar. Queremos ir para a nossa casinha.
-Aqui ninguém jamais vos irá encontrar. Ficarão a minha mercê. – diz-lhes a má sereia com uma gargalhada terrível.
Fechadas nas masmorras do castelo, as duas irmãs começaram a pedir e a implorar ajuda, durante muito tempo. Mas não resultou. Ninguém apareceu. Elas ficaram tristes e desesperadas com a sua sorte.
Passadas umas horas Sirena voltou, com uma bandeja de algas, peixe e ostras.
-Quero tudo comido, vocês estão muito magrinhas. Têm que ficar bem gordinhas. – e saiu outra vez, batendo a porta com força.
Como estavam cheias de fome e cansadas, as meninas comeram tudo e por fim adormeceram.
De repente acordam assustadas, pois na sua frente estava um polvo gigante e muito feio. Encolhidas e a tremer de medo as manas agarram-se uma à outra. Mas o monstro, que estava a velar-lhes o sono, sorriu para elas.
-Não tenham medo da minha feiura. Vou levar-vos aos vossos pais, antes que a sereia bruxa volte. Confiem em mim. - disse docemente.
-Mas a sereia Sirene diz que ninguém consegue salvar-nos daqui. – soluçam as meninas.
-Eu consigo! Querem ver?
As manas abanaram a cabeça, num sim cheio de esperança.
Então o feio polvo aproxima-se delas devagarinho, muito devagarinho, e carinhosamente enrola os seus tentáculos à volta da cintura delas. E sai com elas por onde tinha entrado: pela janela, cujas grades ele tinha arrancado com a força dos seus tentáculos.
Embaladas e sorridentes com o coraçãozinho cheio de amor, regressam à praia. Agora já não têm medo da fealdade do polvo e despedem-se dele com carinho, agradecendo-lhe e pedindo-lhe para visitá-las de novo. E ele, com um sorriso meigo, promete voltar um dia.
As meninas sentaram-se um bocadinho a descansar na areia.
-Ufa, ufa, ufa, que grande aventura, os nossos amiguinhos nem vão acreditar. - disse uma das irmãs ainda trémula.
A outra retorquiu:
-Segredo nosso!
Nisto ouvem a mãe a gritar, aflita:
-Beatriz, Inês, onde estão?
As meninas saiem detrás do rochedo.
- Aqui, mãezinha, aqui.
E correram para os braços da mãe, rindo de felicidade!