O devorador de sonhos

Noite serena na floresta de Hernas, situada no reinado de Simonas. A lua já era alta quando um bravo aventureiro se espreguiçava, buscando animo, para retirar seu companheiro da guarda que já havia se estendido por um logo tempo. Seu nome e Senyf, cavaleiro de muitas aventuras e poucas derrotas, já estava acostumado com seus acompanhantes, afinal estivera com eles por quase 3 anos. Sabia que marck não apreciava ficar de guarda e lhe pareceu um pouco estranho o mesmo não telo chamado na hora correta, porem já houve casos em que o pequeno ladino acabou por dormir em seu turno de guarda, talvez por isso Senyf não estava muito apreensivo com a situação.

Lá estava o jovem ladino com pouco mais de 19 anos recostado em uma arvore, parecia calmo, dormindo o “sono dos justos”, aquele pensamento lhe pareceu uma piada, afinal justiça não passava nem perto daquele jovem rapaz. Tantas e tantas vezes a imprudência dele os colocou em perigo, mas também tantas outras seu raciocínio rápido e seu pensamento afoito não lhes foram útil para fugir de intrigadas armadilhas e enrascadas.

O pensamento de Senyf estava longe em outras historias, em outros lugares e não pode notar que a sua frente nada mais estava do que uma carapaça vazia de algo que um dia fora Marck. Senyf voltando a si deu um passo a frente e tocou seu jovem amigo porem sua pele pareceu quebrar ao toque de suas mãos, não sabia o que era aquilo mais seu instinto lhe dizia para ficar preparado sacou sua espada bastarda e com um brado de ansiedade tentou acordar seus outros acompanhantes, Porem seu bradar parecia não ser ouvido pois seus 4 companheiros não se moviam, sua mente teve pensamentos turvos sobre aquilo – Não pode ser o que esta acontecendo aqui? – rápido como um flecha Senyf averiguou cada um de seus amigos, todos estavam de forma igual a de Marck, seus olhos se encheram quando olhou a Bela amazona morta sem direito a revidar aquele ataque desonroso e furtivo, ele sempre nutriu uma paixão por aquela corajosa mulher que se chamava Lílian.

Seu desespero irradiou não só pelos olhos, mas também pelo corpo, seus músculos pareciam querer explodir de fúria depois do que vira acontecer com seus amigos. O que poderia ter feito aquilo? E por que não fez o mesmo com ele? Esses pensamentos faziam sua fúria aumentar cada vês mais, olhou ao redor, tinha que haver pistas, nada do que ele conhecia poderia fazer aquilo de forma tão rápida e silenciosa, porem isso não importava mais, indiferente do fosse iria sentir a ira que brotava em sua coração e pagaria pelas vidas roubadas naquela noite.

Perambulou pela floresta por todo o restante da noite e nada, ao amanhecer deu o funeral apropriado a todos os seus companheiros, velou e orou por cada um deles, não saiu daquela floresta e ficou por lá, já haviam se passado 15 dias e nada acontecia, nem mesmo um animal feroz parecia percorrer aquela floresta. Seu corpo aos poucos se desfalecia, pois não dormia durante a noite e enquanto era dia tirava pequenos cochilos, sempre curtos, pois tinha pesadelos quando seus olhos ficavam fechados por muito tempo, ate mesmo quando apenas os fechava parecia surgir imagens e vultos, um desses vultos sempre o encarava como se estivesse se divertindo com a situação do Cavaleiro, às vezes Senyf tinha a impressão que este “ser” estava realmente rindo dele, aos poucos sua mente ia cedendo mais e mais, ele já sabia que iria acabar enlouquecendo se continuasse naquela floresta mais o desejo de se vingar e também o seu orgulho de Cavaleiro não permitiam, e por mais 20 dias permaneceu naquela floresta.

Era noite do 35° dia quando algo apareceu, Senyf não notou de inicio, pois achou ser mais um dos vultos de sua mente lhe pregando peças, mas algo lhe chamou a atenção afinal este movia os galhos das arvores e não sumia diante de seu olhar. Neste momento seus olhos se acenderam como duas bolas de luz que quebravam a escuridão da noite, sua fúria voltou mais forte do que nunca, pois ele sabia que este era o monstro que ele aguardou por mais de um mês, seus sentidos se apuraram devido ao acúmulo de adrenalina, seus ouvidos quase podiam distinguir os passos daquele ser que roubou não só a vida de seus amigos mais um pouco de sua própria humanidade. Senyf sabia que seu corpo não estava bem mais isso não lhe parecia problema, pois sua força de vontade moveria ate mesmo seu cadáver se fosse necessário. Pequeno e magro foi como descreveu a forma do demônio que o atormentou durante tanto tempo. Cada dia ele esperou, cada dia ele ficou mais irado, os sentimentos de saudade, amizade, companheirismo, amor e honra foram todos trocados por um novo sentimento o ódio. E este ódio o nutriu e impediu que morresse ou enlouquece-se, e agora estava na sua frente o causador desse sofrimento, seu semblante não era de medo ou mesmos raiva, era felicidade por ter direito a se vingar.

O corpo de Senyf estava magro e pálido, ele começou a se mover e notou que estava leve como se flutuasse, seus músculos semi-atrofiados ainda tinham força e por isso se movia rápido escalou uma grande árvore e saltou pelas outras, a sorte ela sua afinal a floresta era fechada demais, tudo ficava perto e a movimentação era fácil, o espectro de seu ódio não tinha notado sua presença e ele avançava rápido e firme pelas copas e galhos. Um pequeno deslize e seu peito se chocou contra um galho próximo, olhou rapidamente e notou que sua pressa o tinha visto, aguardou a investida do monstro com uma faca de caça em mãos, para sua surpresa o monstro não atacou ao contrario fugiu ao ver de relance a silhueta de Senyf, aquela fuga não estava nos planos de Senyf porem algo dentro dele gostou de ver o “ser” fugir como uma pequena presa de seu caçador. Os papeis foram invertidos e agora ele era o algoz e aquilo o deixava excitado queria ver o desespero antes do golpe final.

A pouca sanidade que sobrava em Senyf se esvaia a cada passo que dava em direção de sua presa, aquele não era mais o cavaleiro e sim o demônio, ele avançou mais rápido e feroz que nunca, estavam sobre uma clareira quando Senyf conseguiu alcançar sua presa eles bailaram no ar enquanto seus corpos visavam o chão, um pouco antes de tocarem o chão a faca de Senyf penetrou o corpo da criatura o fazendo delirar de prazer ao notar sua lamina empalando seu adversário e o fazendo contorcer de dor. Um baque seco contra a relva, Senyf vislumbrou novamente a faca empalada no abdômen da criatura, a mesma se afastava dele tentando inutilmente se proteger de seu algoz. Um raio percorreu o céu iluminando brevemente a criatura, um misto de surpresa e medo encheu o coração de Senyf aquela criatura se parecia com ele, era como se estivesse olhando para si mesmo, neste momento ele fechou os olhos e quando os abriu novamente se viu em uma estranha situação não era mais ele o algoz e sim a presa, na sua frente estava a imagem de seu corpo e ele estava estendido no chão com um faca em seu abdômen, sua mente parecia estar atônita enquanto seu bom senso dizia que havia enlouquecido, porem antes de definir o que estava acontecendo o seu outro eu se afastou ate as sombras e ele notou que o olhar dele eram os olhos que o atormentaram em seus curtos cochilos, sem entender o que significava aquilo fechou novamente seus olhos, mas não encontrou a escuridão, era como se estivesse com seus olhos abertos porem via a si mesmo agachado e sangrando com a lamina empalada em seu abdômen. Aquilo era insano e sua mente não parava de gritar – O que esta acontecendo aqui? Senhor o que esta acontecendo comigo? – mas sua boca não proferia nenhum som, mesmo desejando intensamente gritar, em um ato de desespero Senyf avançou ate seu eu caído e continuou tentando gritar porem nada saia de sua boca, estava a cerca de 3 passos de seu eu caído quando notou que tudo que ele gritava em pensamento apartir daquele momento seu sósia gritava com sua boca, sua mente estava enlouquecendo com aquela situação e num ato de angustia estrangulou seu sósia e esse não parava de gritar tudo aquilo que sua mente pensava e ele apertava cada vez mais e começou a sentir que sempre que aumentava a pressão de suas mãos era sua própria garganta que aparentava estar sendo esganada, soltou a garganta de seu sósia e correu pela floresta ate encontrar uma grande cecoia e lá ficou chorando e tentando esquecer aquilo que acabara de ver e sentir.

Senyf sabia que tudo aquilo era loucura e que alguma coisa estava fazendo aquilo, era o único pensamento lógico em que sua mente pode pensar por isso ele se apegou a esse pensamento e tentou voltar a lucidez, neste instante Senyf Notou algo acontecer, algo que não acontecia há 35 dias ele pode ver o sol. Era estranho ele tinha a impressão de ter passado muitas vezes pelo período do dia mais não se recordava de ver ou sentir o calor do sol, a luz e o calor embriagaram seu corpo fazendo sua mente se acalmar e pensar em tudo que vira e sentira fechou os olhos e não havia vultos, encontrou apenas suas pálpebras parcialmente iluminadas pelos raios solares. Quando abriu os olhos notou que estava realmente caído, mas não sangrava e seu corpo não estava atrofiado apenas um pouco cansado olhou ao redor e notou que estava na mesma floresta da qual usou como moradia por 35 dias, porem a visão era clara e límpida, a floresta era realmente densa, por isso os feches de luz pareciam lutar entre a relva, buscando cada espaço ate chegar ao solo proporcionando uma linda visão do esplendor da natureza.

Senyf sentia que finalmente havia acabado e que aquele deveria ser o paraíso, seu coração bateu forte quando viu a imagem de Lílian se aproximando do local onde estava, ela parecia triste e cansada, mas ainda era linda aos olhos de Senyf, seu semblante mudou ao vê-lo seu sorriso surgiu como uma fênix em meio ao sofrimento de seus olhos que aos poucos se iluminaram com afeição e carinho, ela correu ate ele e nada disse apenas o abraçou por um longo tempo, tempo esse que Senyf desejou que jamais acabasse, seus olhos se encheram e sua boca balbuciou as seguintes palavras:

- Perdoe-me, amada minha, pois não fui capaz de te proteger como devia, não sei por que estou aqui, pois minha honra se foi devido ao desejo de vinga-la, minha alma não merece o mesmo lugar que a sua, pois me tornei o monstro que devia caçar. Por favor, Perdoe-me!

- Não diga asneiras, seu bobo, todos nos estamos vivos e aflitos. Durante a noite quando Marck foi te acordar você parecia estranho e dormia como uma pedra, todos nos tentamos te acordar mais nada funcionava, eu não sei dizer o que aconteceu com você mais tenho a impressão que Galahan saberá te explicar, por enquanto apenas se recupere do que lhe aflige.

Seus olhares se encontraram e Senyf não perdeu aquela oportunidade dando lhe um longo beijo, não perderia mais tempo negando ou fingindo que nada sentia, agora se entregaria aquele desejo e muitos outros com sua amada.

- Vejo que esta bem melhor! – falou Marck com um sorriso sinico no rosto.

- Tenho que concordar com você marck, noites como essa mudam um homem. – Falava Galahan enquanto se aproximada dos dois pombinhos.

- Então Galahan você sabe o que aconteceu comigo?

- Você meu amigo, acabou sendo vitima de um monstro espectral que chamaremos de “Devorador de sonhos”, na verdade ele se alimenta de sentimentos, de preferência fortes como desespero, medo e ódio, ele estimula pesadelos e aos poucos destrói a mente do hospedeiro, e incrível como você suportou ficar tanto tempo sobre influencia dele, normalmente a pessoa atacada só sobrevive cerca de 2 horas e sua mente morre, mais você meu amigo, permaneceu quase 8 horas com ele, sua força de vontade e espetacular.

- Não meu desejo de vingança e que manteve lúcido, não sou digno de elogios pelo que aconteceu, isso me fez ver como sou fraco sendo perseguido e atacado enquanto dormia.

- Não diga isso Senyf você provou ser o mais forte de nos mais uma vez, apenas grandes magos arcanos conseguem destruir um Devorador de Sonhos, eu mesmo nada pude fazer. E você o venceu em seu próprio jogo, dentro dos seus pesadelos você foi capaz de lutar, só isso já e digno de muitos elogios, por tanto vamos comemorar na próxima cidade e vai ser por minha conta.

- Heeeeeeeeeeeeeee, e deste tipo de conversa que eu gosto vamos chamar os outros e sair dessa floresta maldita.

Novamente o grupo estava completo e a viagem tomou seu rumo para novas aventuras e novos inimigos, porem Senyf jamais iria esquecer aquela estranha noite que passou com o Devorador de Sonhos.

Wolney M. Borges