O Pisco Doirado

O Pisco Doirado

Pisco, pisco

Pisco Doirado

Vieste ao mundo

Para ser adorado

Julião, talvez nome de fera, era como se chamava um pequeno pássaro de penas doiradas. Este pássaro era um pisco, e os piscos são conhecidos por terem belas penas de cor alaranjada.

Julião voava de ramo em ramo logo que o Sol nascesse, fazia curtas pausas para olhar a paisagem, depois descia até à margem do rio para se alimentar e para soltar algumas palavras com quem o quisesse escutar. Este jovem pardal era tão belo e tão bom, sorria para todos, piava, piava, piava… e assobiava quando estava feliz, que bela melodia!

Mas nem tudo o fazia sorrir. Por muito que se esforçasse não se relacionava com os outros piscos, ele não sabia porquê, embora muitos já lhe estivessem explicado. Num dia tão normal como qualquer outro, o pisco, assim que o Sol nasceu, não voou de ramo em ramo, nem parou para olhar a paisagem, tão pouco foi lá abaixo, ao rio. O que teria acontecido?

Decidido a ouvir uma explicação, o Pisco Doirado voou até à aldeia, procurou os outros piscos, e perguntou-lhes:

- Eu sei piar como vós, sei até assobiar como vós, voo rápido e levemente tal como vós, mas no fim penso, ao olhar para todos, que não sou como vós e não percebo porquê!

- Olha, aí está a razão para tal distinção, repetindo “vós” sem parar, serás difícil de aceitar! – Respondeu o Pisco Trapalhão.

Ao Pisco Doirado, corria-lhe mal o dia, e agora já nem a “voz” lhe saía. Pronto para esclarecer a dúvida de Julião, eis que falou o Pisco Refilão:

- De plumagem doirada, nada nos podes valer, não te esqueças que temos uma reputação a defender, de penas laranja é bem mais apropriado, se também as tivesses, a Pisca Pipita já terias conquistado…

Julião sentiu-se angustiado e não tardou a encontrar o refúgio adequado. Sempre que se sentia triste, o pequeno pisco voava para o seu esconderijo, ali recuperava e só voltava a voar quando a mágoa se estivesse a apagar.

Ele amava a Pisca Pipita desde o dia que a conheceu, mas para ele o amor dela não tinha o tamanho do seu. Nada melhor que um ninho abandonado para reflectir sobre as mágoas passadas e as que hão-de vir, um amor não correspondido era o assunto ideal para terminar ali com um inacabado final. Na hora de tomar uma decisão, eis que se aproxima, no ar, uma Cegonha Real. Nervoso e assustado, o pisco ficou imobilizado.

Pisco, pisco

Pisco Doirado

Se não voas agora

Vais ser apanhado

E ser apanhado por uma ave de tão grande envergadura, não seria, certamente, uma feliz aventura. Mas a cegonha poisou e o Pisco Doirado nem um olho piscou, e ainda sem reacção foi isto que escutou:

- Que passarinho tão encantado, é a primeira vez que vejo um pisco doirado! – Exclamou a cegonha.

- Não me vai fazer mal, estimada Cegonha Real?

- Tão belo e encantador que és, jamais te daria com os pés, vestido de plumas de ouro, guardarás em ti um grande tesouro.

O Pisco Doirado ficou tão contente, que voou feliz contando a toda a gente, que era feliz à sua maneira e em apenas um instante, estavam todos à sua beira. Conquistou novos amigos e até a Pisca Pipita a ele se ligou, e esta história termina tal como começou.

Pisco, pisco

Pisco comum

Igual a qualquer outro

Diferente de nenhum

Lacrima D'Oro

Lacrima Doro
Enviado por Lacrima Doro em 06/10/2009
Código do texto: T1851877
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