A Viúva do Monte Alegre

A Viúva do Monte Alegre

Por baixo de uma grande colina que se estimava não lá chegar, existia um pequeno monte feliz com cores de encantar, pequenos mamíferos por terrenos intactos passeavam e belas aves lá no alto observavam.

Pensava-se que naquele lugar ninguém vivia, apenas pequenos seres que faziam daquele monte a sua terra.

Para grande admiração, eis que se observou a presença de um animal que saltava de um lado ao outro tentando caçar um pequeno mas esperto rato do campo. Sim, sim… era um gato doméstico, como poderia andar por ali?

A aldeia mais próxima era bem, bem distante, por muito que se olhasse não se via um viajante. Se vivia ali um gato, haveria de aparecer gente para dele cuidar, certamente não se alimentava apenas de ratos.

Uma noite passada e nada acontecia, já era de esperar, aguardamos até ser dia.

Logo que o sol deu ar da sua graça, apareceu uma velha que olhava em todas as direcções, sorrindo ao ver o som dos passarinhos a desafiar o novo dia.

- Bom dia pequenos bichos que me visitam pela manhã, já nem os ninhos vos aguentam, tão pouco a mamã. Alegrai-me, que eu gosto de vos ver a cantar, é enquanto está fresco que saio fora para apanhar ar. Não sei se é verdade, mas já dizia o meu marido: “ quando cá morares sozinha, fecha a porta e deixa-te estar, os perigos estão à janela, não queiras servir de jantar, sai apenas pela manhã, enquanto o ar é bem frio, e os pássaros esvoaçam soltando o seu assobio.” E é por isso que aqui estou só por mais um bocadinho, e não tenho casa não, vivo lá em baixo, num ninho.

Os pardais como se percebessem rondavam a sua cabeça, transmitiam uma mensagem, mas a velha lá sabia o que eles lhe queriam dizer.

O dia passou calmo e a noite silenciosa trouxe o amanhecer àquela terra tão formosa.

Parecia ser habitual a saída pela manhã, e lá vinha a velha dar o bom dia à natureza que parava a olhá-la.

- Bom dia natureza, que me dás hoje a conhecer, para onde levaste os pássaros que sempre dou de comer? Responde lá enquanto é tempo que o sol está a aquecer, tendo o frio ido embora terei que me esconder. Não sei se é verdade, mas já o meu marido dizia: “ o calor da formosa estrela, é feiticeiro bem veloz, derrete toda a paisagem e não escapareis vós. Se te esconderes de baixo da terra serás toda queimada, e a vida que levas será recordação lembrada.” E eu prezo muito o que o meu marido dizia, por isso estou bem escondida de noite e de dia.

A natureza sorriu respondendo às suas palavras, o vento soprou suave, levantando os seus cabelos, as árvores sacudiam as suas verdes folhas, e a terra do chão era uma poeira varrida. Mas a velha lá sabia o que a natureza lhe dizia.

Mais um dia se foi embora, e a noite passou depressa, e logo pela manhã, a velha acenava ao seu gato.

- Bom dia gato Reco, que bom ar tens neste dia, se não fosse o meu tempo escasso junto a ti eu ficaria. Mas o tempo passa a voar, e se não me escondo, onde irei eu parar? Não sei se é verdade, mas já o meu marido dizia: “ cuidado com as distracções, o tempo não pára e procura as confusões. Não fiques na conversa um minuto ou pouco mais, o vento vem depressa, leva-te sem deixar sinais. Fica debaixo da terra neste monte da tristeza, não verás a guerra, nem a fome, nem a pobreza.” Tenho que ter cautela, não quero ir embora e deixar esta terra bela.

O gato miou com força, tanta quanto pôde, parecia dizer algo, saltou ao colo da velha e fixou as garras no seu sujo avental. Mas a velha lá sabia o que o gato lhe dizia.

Um dia ficou para trás, e com ele foi a noite, o sol já espreitava e a velha já andava lá fora.

- Bom dia Monte Alegre, que em ti habito desde que nasci, primeiro com a minha mãe, depois com o meu marido aqui vivi, gosto tanto, tanto de ti.

Os teus pássaros são tão alegres, a natureza tão amiga, tenho um gato tão bonito e uma casa bem escondida. Só tenho pena de não poder ficar cá fora todo o dia. Sabes, não sei se é verdade mas já o meu marido dizia:

“ Este monte é traiçoeiro, ninguém lhe pode falar, se não transforma-se em nevoeiro e bem pode desabar.” Isto eu bem acho que não é verdade, és tão bem disposto, sorris felicidade.

A velha deixou-se estar na conversa e o tempo a passar, o sol já brilhava forte e ela sem reparar, os pássaros sorriam, a natureza estava contente, o gato Reco corria pelo belo monte a dentro.

- O que fui eu fazer? Em poucos minutos vou desaparecer!

Fechou os olhos, e esperou vários minutos, logo percebeu que nada iria acontecer, olhou para o céu e começou a ler.

- Na luz do sol eu vejo que fui bem enganada, o calor é tão bom, torna a vida encantada. Monte Alegre foste tu quem me fez ver a luz do dia, não te esqueças meu amigo, és a minha alegria.

E termina assim o conto sobre uma viúva enganada, que foi a protagonista desta história encantada.

Lacrima Doro
Enviado por Lacrima Doro em 02/10/2009
Reeditado em 06/10/2009
Código do texto: T1843634
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