ORANIAN BRANCO - O TEMÍVEL (L E N D A)

Odudua é pai de Ogum, que teve um filho chamado Oraniam. Odudua – o criador da terra – e Oxalá, que havia sido encarregadop por Olodumaré, senhor dos Imalés, para esse serviço, e não o fez porque bebeu demais vinho de dendê no dia da criação e dormiu durante vários dias seguidos, encontraram –se na terra. Oxalá ficou muito enraivecido porque Odudua tirou-lhe a honra da criação. Por orgulho e porque por causa disso ficou desacreditado perante muitos dos Imalés, que passaram a ser seguidores de Odudua. Declarou-lhe guerra na qual foi apoiado ainda por mais da metade dos Imalés que antes o seguiram abandonando seu antigo senhor e que vieram com ele do além.

Ogum, grande guerreiro que era, combateu em nome do pai Odudua os seguidores de Oxalá. Em certa incursão de guerra que Ogum fez contra Ogotum, guerreiro de Oxalá, trouxe para o pai sete escravas. Havia, porém, dentre elas uma que se destacava por sua extrema formosura. Ogum escolheu-a para si escondido do pai, entregando a este somente as seis escravas feias. Ogum e Lakangê – era esse o nome da escrava que escolheu para sua esposa – amaram-se muito, mas secretamente.Desse amor nasceu-lhes um filho que, com grande espanto, viram que era um fenômeno. Apresentou duas cores na pele do seu corpo: o lado esquerdo era totalmente branco, enquanto o lado direito era preto, como todos os do reino do seu pai Odudua.

Toto o povo comentou o fato inédito e curioso e, por isso, Odudua inteirou-se do segredo de Ogum e Lokangê.

O menino recebeu o nome de Oranian. Cresceu o tornou-se o grande guerreiro de Ifé, o reino do seu avô Odudua.

A guerra entre Odudua e Oxalá, por interminável, ficou cada vez mais difícil. Os malés haviam prometido a Oxalá matar Odudua. Este viajou para o reino de Olodumaré e lhe perguntou como deveria fazer para terminar com a guerra. Olodumaré, que havia encarregado Oxalá de cuidar das pessoas vivas, depois que este falhou como criador do mundo, disse a Odudua que só havia um sacrifício possível para que ele não morresse, mas que a guerra continuaria.

Ensinou então para seu consulente que deveria, inicialmente, fazer oferenda de duas facas bem afiadas e de um gorila. Cumpridas essas oferendas e colocadas aos pés de Olodumaré, Odudua perguntou o que mais deveria fazer, ao que este prontamente respondeu:

- Toma uma das facas e corta ao meio de cima para baixo o macaco, cuidando para ficar exatamente iguais as duas partes. Depois toma a outra faca e corta, da mesma forma o filho de Ogum, cuidando para separar exatamente o preto do branco. Depois de isso feito, cola o lado direito do gorila à parte branca de Oranian, procedendo da mesma forma com o lado direito preto. Com este sacrifício farás dois guerreiros, um preto como teu próprio povo, e outro guerreiro branco. O outro sacrifício é perdoar Ogum pelo roubo da tua escrava mais bonita, devolvendo-lhe o filho totalmente preto. O guereiro branco enviarás a Oxalá que o aceitará como oferenda e não te mandará matar.

E assim fez Odudua. Que acreditava ter sido um castigo para seu filho Ogum, ter-lhe nascido um filho de duas cores, por haver roubado e escondido a escrava do seu pai.

Depois de perdoado o filho, encarregou-o de levar até Oxalá a oferenda que Olodumaré lhe ordenara que fizesse. Oxalá aceitou e prometeu a Ogum que não mataria seu pai. Deu ordens que continuassem a guerra, mas não matassem Odudua. Em seguida nomeou o guerreiro branco que recebera em oferendo, o rei das terras imensas que ficavam à esquerda do dia – é como designavam o sul. Nomeou-o chefe dos exérxitos do território da África do Sul.

ORANIAN PRETO ficou sendo um valente e grande guerreiro de Ifé, cidade de Odudua, que tinha como sucessor Ogum.

ORANIAN BRANCO ficou, desde então, o mais sanguinário, temível e avarento rei da África do Sul.

Conta a lenda que, até hoje, os seguidores de Odudua, representados pelos seguidores de Oranian Preto, estão em luta contra os temíveis e cruéis descendentes de Oranian Branco, que se fizerem racistas, nas terras do APARTHEID.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 21/09/2009
Código do texto: T1822171
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