O fantasma da noiva

Maju Guerra

Todo sexta quando a mulher passa pela encruzilhada ao cair da noite lhe vem a tentação de ficar sentada na Pedra da Noiva. Gostaria de ver se o fantasma aparece como afirmam. Muita gente conta que já viu a defunta e não se assustou não, é fantasma bom. Como de assombração não se entende o necessário pra correr riscos, quem sabe um dia a mulher tome coragem?...

Pois contam que há muitos anos uma moça chamada Tininha, filha de Zeca Quitério, foi assassinada na pedra da encruzilhada. O pai dera a donzela em matrimônio ao Coronel Matoso, homem viúvo e muito rico, como pagamento de uma dívida que não havia jeito de arrumar dinheiro pra pagar. Caso de morte se não pagasse. O homem era dono de tudo que o olho alcançasse e não perdoava de forma alguma. Tininha estava de namoro com um rapaz por nome Tarsísio e os dois já faziam planos de se casarem. Ao saber que o coronel afirmara que era ela ou o pagamento do jeito que fosse, precisou escolher entre a vida do pai e o sonho de uma vida com seu amado. Como era moça de bom coração, decidiu pelo pai, seria contra a lei de Deus fazer outra escolha. Seu sacrifício era para o bem de toda a família.

Tininha às escondidas mandou uma carta para o moço explicando tudo e terminando o compromisso. Chorou por dias, o enxoval foi feito às pressas, até parecia que estava prenha. Na semana do casamento, ela ia casar no sábado, recebeu um bilhete do rapaz apaixonado implorando que fosse vê-lo uma derradeira vez, antes da cerimônia, na encruzilhada onde costumavam namorar. Ela aceitou e marcaram para sexta-feira às seis horas da noite, sua irmã Geninha se encarregou da troca de mensagens. No dia e hora marcados os dois se encontraram. Abraços, lágrimas, juras de amor. O coronel, contudo, bem informado como era, ficou sabendo do arranjo. Pegou os dois de surpresa e matou Tininha com um tiro certeiro. Falou para o rapaz tomar seu rumo porque pior que sua morte era lembrar-se da morte dela o resto da vida, e lá se foi o pobre humilhado e cambaleando de susto. O coronel guardou a arma e foi-se embora. Tininha ficou jogada em cima da pedra, depois conhecida como Pedra da Noiva.

O coronel chegou na fazenda e mandou um dos seus homens avisar a Zeca Quitério do acontecido. Mandou dizer também que a dívida estava paga, e que fizera o que fizera pra cortar o mal pela raiz, era macho que não tinha nascido pra virar corno.

A família da coitada ficou em desespero, nunca mais foi a mesma, velaram o corpo e fizeram o enterro. Dizem que o Zeca por puro desgosto se embrenhou pelas matas e não voltou nunca mais. Quanto ao Tarsísio, perdeu a razão e ficou pra sempre nas suas terrinhas após a tragédia. E a Tininha se tornou fantasma só pra ajudar as moças casadoiras. Toda sexta-feira à noitinha ela aparece na encruzilhada, bonita como sempre foi. A moça que quiser saber a resposta sobre noivo e casamento, deve deixar uma flor ao pé da pedra depois do meio-dia da sexta. Depois é só voltar no dia seguinte pela manhã. Se a flor estiver viçosa e cheirosa pode noivar e casar, é sucesso garantido. Mas se a flor estiver seca, o melhor é não arriscar, ou é união ruim, separação ou desgraça.

Maria Julia Guerra.

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