CRISÁLIDA - parte III

Assim que amanheceu, Roger saiu de casa e foi rumo ao cemitério em que estivera no dia anterior. Uma força parecia estar sendo exercida sobre ele, com o misterioso intuito de levá-lo ao túmulo daquela garota. Diante da sepultura ele ficou paralisado por alguns instantes, até sair de seu profundo devaneio.

Thamires. Esse era o nome da menina.

A foto na placa de bronze revelava uma menina de expressão triste, de olhar baixo. Seus cabelos eram escuros e longos, seu nariz era pequeno e possuía uma considerável quantidade de sardas em seu rosto. Agora Roger tinha certeza: tratava-se da mesma garota que ele vira um mês antes, mas que no entanto, morrera há duas décadas.

Um arrepio lhe percorreu a espinha. Ele sabia que era improvável, mas estava acontecendo algo extremamente bizarro. Não hesitou e foi até a administração do cemitério, onde buscou respostas para as suas sufocantes perguntas.

— Bom dia, o que deseja? — indagou um velhinho simpático que encontrava-se na recepção.

— Será que o senhor poderia me dar uma informação? — perguntou Roger.

— Sim, claro.

— Bem, eu vi num túmulo a foto de uma amiga conhecida, mas lá existe uma placa de bronze indicando que ela morreu há uns 20 anos atrás... Será que o senhor poderia verificar se a data está correta?

O velhinho fitou o rapaz por alguns instantes, achando estranho o questionamento dele.

— Não acho que a data esteja errada, pois considero muito difícil a família ter cometido tal erro. — o velho fitou Roger mais uma vez. — Mas vou verificar para você. Que túmulo é?Qual o nome da sua amiga?

— Thamires — disse Roger. Nesse momento o velho lançou um olhar espantado ao rapaz.

— Thamires do que? Qual o sobrenome? — inquiriu ele rapidamente. Parecia estar afoito.

— Sabe, o estranho é que não havia o sobrenome...

— Você não a conheçeu de fato — disse o homem, interrompendo-o. — Essa menina realmente morreu há muitos anos atrás. Ela foi assassinada.

— Assassinada? — indagou Roger.

— Sim — disse o velho, abaixando o tom de voz. — Foi um episódio muito estranho. A menina foi encontrada estraçalhada em uma praça, e não haviam documentos que pudessem identificá-la. Os peritos verificaram as impessões digitais dela, mas não havia registro algum. Era como se a garota não existisse!

Roger sentiu o coração bater mais rápido.

— Estavam prestes a enterrá-la como indigente — continuou o velho —, quando uma família reivindicou o corpo. Disseram que não a conheciam, mas que queriam enterrá-la na lápide pertencente a eles. Na época todos estranharam a atitude da família, e ela até chegou a ser investigada, mas no final das contas o desejo deles acabou realizado. A garota foi enterrada com um nome ficticio (mesmo que perante a lei tenha sido considerada indigente), e desde então não se viu a tal família novamente.

— Mas que família era essa? Qual o nome? — indagou Roger, curioso.

— Bem, se não me engano... — o homem se abaixou e buscou numa gaveta um fichário, onde buscou um nome. — Ávila — disse ele finalmente. — O túmulo está em nome de Lúcio Ávila. Era um povinho estranho, que quis fazer o enterro à noite; jamais vi algo do tipo!

— E onde a família mora?

O velho o olhou desconfiado:

— Afinal, rapaz, porque está tão interessado nessa família?

— Olha...

No momento em que Roger tentava inventar alguma desculpa, o telefone da secretaria tocou e o velho foi atendê-lo. Nesse meio tempo, o rapaz se debruçou sobre o fichário, e passeou com o olhar pela página aberta até parar sobre um endereço. Sem pensar muito, Roger arrancou a folha e saiu correndo dali, enquanto ouvia ao fundo o velho gritando e xingando-o.

Quando já estava distante do cemitério, Roger parou para tomar fôlego. Deu uma breve olhada no papel e logo depois se dirigiu ao endereço indicado.

O coração de Roger gelou, quando ele descobriu onde a família Ávila morava...

Jean Carlos Bris
Enviado por Jean Carlos Bris em 12/09/2009
Reeditado em 12/09/2009
Código do texto: T1806465
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