O Cavalo Velho
Pastava esquecido por todos na grama ressecada e rala do barranco perto do Brejo. Era a sua aposentadoria. Na juventude era exibido para todos, pela sua força para montaria veloz ou para a carroça pesada que puxava orgulhoso em servir o seu dono. Sabia então que era belo, ouvia os elogios e entendia muito bem as conversas, inclusive que a obediência era a alternativa mais segura para sobreviver, ou seja poder se alimentar, não ser espancado nem morto. E o tempo passara, as suas forças também e agora tudo que tinha era um canto ressecado da Fazenda e as moscas que lhe atormentavam as feridas. Tempos que não via o dono, a última vez que tentou se aproximar fora afugentado com pedras enquanto o antigo companheiro o amaldiçoava “Sai fora Pangaré dos Infernos, porque não morre?”. A partir daí nunca mais e ia levando sua miserável vidinha perto do Brejo. Um dia enquanto procurava água para beber, escorregou numas pedras e caiu dentro de um Poço abandonado, bem fundo. Um dos empregados viu e relatou ao patrão. Como sempre, arrogante e cruel, o Dono foi taxativo “Ele não presta pra nada, vai dar trabalho tirar, enterra aí mesmo”. E assim começou a ser feito. Mas a cada pá de terra que caia na sua cabeça e no seu lombo, o velho cavalo se ajeitava dentro do buraco, não deixando suas patas presas de modo que acabava ficando em pé em cima do barro atirado. E assim foi indo. Os empregados entre uma fofoca e outra iam aterrando o Poço e só se deram conta quando a cabeça dele começou a aparecer pra fora do buraco. Apenas pra sacanear o Patrão continuaram aterrando até que deu pro cavalo sair. E provavelmente com as últimas forças que lhe restavam, dando um pulo o velho cavalo saltou pra fora. Dando uma última olhada em direção da casa do dono, saiu em disparada no rumo da Estrada e nunca mais foi visto.
Moral 1 - As Armadilhas aniquilam ou fortalecem.
Moral 2 - Dos inimigos ou falsos amigos: Nem as Notícias.