A MORTE DO MEU AMOR

Minha amiga Alice Maria casou com Leoberto e foram morar na Itália.

Tiveram seus filhos, e por lá fizeram fortuna. Ele trabalhava numa multinacional.

Os filhos nasceram, cresceram se formaram.

Sempre que tinha notícias deles eram coisas boas.

Viagens maravilhosas, velejando, esquiando, grandes festas na mansão que moravam...

Um dia recebo um e-mail de Alice Maria.

Estarei voltando ao Brasil no próximo mês. Gostaria muito de sentar e conversar contigo como nos velhos tempos.

Tenho muitas coisas para te contar.

Uma delas é que meu amor morreu.

Por favor te conto tudo pessoalmente.

Abraços Alice Maria.

- Ufa...que notícia mais triste.

Fiquei imaginando toda sua dor, e como poderia ajuda-la neste momento difícil

As três semanas que antecederam a sua chegada, para mim foram um verdadeiro martírio. Nunca imaginei que Alice Maria fosse ficar viúva assim tão jovem. Leoberto sempre foi saudável

Ela chegou.

Marcamos um encontro numa casa de chá.

Quando vi Alice Maria chegar, fiquei com o coração apertado.

Graças a Deus, aparentemente estava muito bem.

Num longo abraço nada falamos.

Sempre achei que o silencio diz mais que muitas palavras em certas horas.

E assim começamos a conversar sobre o passado.

Os tempos de escola juntas, filhos, coisas assim.

E como tinha coisa para falar.

Queria que ela mesmo me contasse da morte de Leoberto.

Sabia de seu amor por ele.

Como estava demorando a tocar no assunto perguntei:

Como foi a morte de seu amor.

E ela meio que enrolando a língua disse:

-Vou falar das coisas que estou lembrando:

Da última noite na nossa mansão.

A casa com muitas flores, velas e os amigos chegando.

Uns falavam de mansinho outros falavam alto.

Uns contavam tragédias, outros falavam das doenças, e os mais irreverentes contavam piadas.

Como vieram para passar a noite, nosso mordomo anunciou que o jantar seria servido.

E lá naquela grande sala, cheiro de flor e de vela já estava me deixando mal.

E o Leoberto ali frio.

Os amigos cada vez que passavam perto repetiam, este é um bom camarada, vamos beber por ti. Essa noite marcará nossas vidas para sempre

Coisas de velhos amigos.

Eu passava vez por outra a mão em seus cabelos agora já grisalhos. Já de madrugada, aos poucos os amigos iam se despedindo.

Eu fiquei só.

- Não me contive e perguntei:

Ninguém ficou contigo para velar o corpo do teu marido?

-Que corpo?

Era festa de aposentadoria dele, depois que acabou a festa ele foi o primeiro a ir se deitar.

Quando falei morte do meu amor, quis dizer que, o que morreu foi o meu amor.

Ele está lá vivinho...

E eu estou aqui também viva e feliz.

-Ufa!

Comecei a rir, a gargalhar.

Tem coisas que nem Dr Sigmund Freud explica.

Mas Alice Maria explicou.