Enseada - Retorno ao Lar...final.
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O mago trouxera-me do transe, pude perceber que o que me aguardava era bem mais que um simples passeio a uma praia quase deserta. Era uma responsabilidade adquirida muitos séculos antes, precisava cuidar de muitos e de mim mesma. Estava em meu destino como se houvesse sido forjado no fogo, da mesma forma como as espadas daquela batalha que hoje não era minha, mas um dia fora parte de mim e para resolver isso teria que recomeçar e concluir o que ficara por ser realizado.
Estava encontrando-me ali, via que minha vida tinha sido bem diferente em outra época. Agora eu sabia o real motivo de ter vindo repentinamente de tão longe para este lugar.
A garotinha ainda sentada a meu lado sorria, parecia feliz por ter-me guiado até ali. Eu tantas vezes havia sonhado com fragmentos de algo muito parecido com tudo aquilo, mas nem de longe poderia imaginar que tivesse realmente acontecido comigo.
Compreendi que as marcas do passado jamais seriam apagadas de meu viver. Conseguiria esquecê-las, retirá-las da memória, mas nunca de minha essência.
Cansada, levantei e voltei pela trilha que havia seguido horas antes. Precisava pensar em tudo aquilo, minha mente estava muito confusa.
Caminhando até a praia, sentei-me na areia observando as ondas que batiam na parede rochosa próxima a mim. O som delicioso formado pelas águas nas pedras foi aos poucos me deixando relaxada e sem me dar conta, estava novamente em transe. Foi tão espontâneo, nunca havia feito isso antes.
Transportei-me à aldeia onde teria que refazer nossos lares. Iniciei com o ritual de proteção para reerguer as colunas principais e poder trazer o que restara de nosso povo de volta.
Acredito ter passado longas horas assim, pois quando voltei a mim, senti o frescor da noite, as estrelas já estavam apontando o imenso céu e a brisa suave tocava meus cabelos esvoaçando-os livremente. Ao meu lado, sentada pacientemente a sorrir, a pequena garotinha.
Perguntei se ela estivera ali todo o tempo, no que respondeu assentindo, notei que este seria mais um momento de descobertas para mim. O que mais me esperava naquele lugar?
Aguardei que quebrasse o silêncio e me dissesse o motivo de estar ali, mas ela somente disse que deveria voltar no dia seguinte pela mesma trilha e sentar-me próximo ao carvalho. Ali minhas energias seriam purificadas e então poderia partir.
Notava em mim um ar de saudade naquele momento, como se já tivesse feito o mesmo caminho anteriormente. Deveria tê-lo feito realmente, aos poucos via juntar as peças como de um enorme quebra-cabeça.
Na manhã seguinte, antes mesmo de nascer o sol eu já estava pronta para seguir o caminho por dentre a mata. Sentia-me tão estranha, começava a perceber em mim uma melancolia. Estava naquele local há alguns dias e não demonstrava a menor vontade em ir embora. Não podia evitar a tristeza de ter que partir. E a hora inevitável estava para acontecer.
Cheguei até a velha árvore, contemplei-a de cima a baixo sem perder nenhum detalhe dela. Queria guardar cada lembrança do aconchego daquela sombra, cada minuto passado ali seria uma alegria para meus momentos de tristeza e saudade.
Não tardou e o druida e sua pequenina menina chegaram para o ritual de purificação. Com respeito pela natureza, pelas árvores que me cercavam e todos os seres visíveis e invisíveis que ali estavam, risquei um circulo deixando apenas um ponto sem fechá-lo, entrei em seguida e depositei lado a lado as pedras da lua e a da estrela e sentei-me no centro dele proferindo as mesmas palavras que aprendera durante aqueles dias de treinamento com a sacerdotisa, fechando assim o circulo ainda aberto.
O vento aos poucos ficava mais intenso, pássaros já não cantavam como antes. Pareciam pressentir que era necessário todo o silêncio naquele momento. Nenhuma interrupção deveria acontecer. O mago então tira aquela pesada capa e mostra seu rosto, para minha surpresa descobri que era o jovem rapaz da aldeia vizinha. Hoje se apresentava em sua forma real, sem disfarces, sem segredos. Enquanto isso acontecia, via à minha frente imagens daqueles dias de horror que havia presenciado, assisti ao triste fim de nossa sacerdotisa e compreendi que ele estaria em meu caminho daquele dia em diante. Estava ali para me ajudar, não só a me encontrar, mas também para me ajudar a reerguer uma história e uma tradição.
Somente no fim da tarde terminamos todo o ritual. Foi um dia inteiro naquela mata, saí de lá mais leve do que quando chegara àquela enseada. Com a ajuda dele, sentia-me capaz de voltar e seguir meu destino, desta vez sem deixar nada por terminar.
Agora sabia que voltaria para casa com minha alma leve e reconfortada. Muito havia aprendido nestes últimos dias e descobrira, também, que direção deveria seguir.
Poderia retornar à Irlanda com mais força do que quando decidira a viagem. E desta vez, não fugiria de meu destino.
Agora eu sabia as respostas que tanto procurava...Uma nova Banshee surgia!
Fim.
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Símbolo de Lua-Estrela Simboliza poder para transportar através do cosmos segundo magia Celta.
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