O primeiro beijo de Juvenal: um cachorro bem esperto
Juvenal, como alguns já sabem, é um cachorro bastante experto. É tagarela e gosta muito de jogar conversa fora. Nesse dia, ele estava de conversa com uma nova amiga, a Juventina, uma cadela pretinha, que tinha chegado na casa de sua vizinha do fundo. Ele conversava com ela debaixo do portão.
Primeiramente Juvenal viu Juventina descer do carro. Ela deu um pulo do automóvel logo que sua dona abriu a porta de trás. Juvenal, ficou embasbacado, ele estava dormindo, com os olhos quase fechados, quando derrepente, viu a donzela sair mansamente do carro, dá aquele pulo com uma leveza nunca antes vista por ele. Ela tinha um jeito de laidy. Parecia uma princesa saindo rodeada de servos de seu castelo. Juvenal, expertou imediatamente, cheirou, pra sentir o perfume de sua nova amada. Naquele mesmo dia, mais cedo, no entanto, Juvenal a espionou por debaixo do portão, vendo se ela aparecia no quintal da casa, pra vê se ela dava bola pra ele.
Foi, então, que naquela manhã, após sua dona sair de casa, quando ela estava retirando o carro da garagem, Juvenal percebeu que Juventina estava na porta da entrada principal, próximo ao tapete que dá entrada à casa, vendo sua dona ir embora. Aquilo que todo cão amigo faz, espera seu dono ir embora, se despedindo diariamente, pra poder no final da tarde recebê-lo de volta. E, num relance de olhos, Juventina percebeu que do outro lado do portão havia um cão, que era o Juvenal, que, estava lhe espreitando com os olhos por debaixo do portão. Naquele momento, Juventina nem lhe deu muita atenção, pois ela só conseguiu ver seu focinho preto, grande e os olhos de cachorro grande. Ela nem percebeu a estatura do cão, mal enxergou seus olhos.
No entanto, Juventina ficou pensativa. Ficou imaginando como seria aquele novo vizinho. Será que ele era bonitão?. Juventina admirirava cães grandes e bonitos. Ela valorizava aqueles que tinham um pelo liso, que tivesse corpo magro e fossem altos. Juventina, quando era pequena, sempre ouvia sua mãe lhe dizer que quando crescesse, que deveria arrumar um amor à altura de sua raça, isto é, que lhe desse filhotes bonitos e fortes. A natureza animal, para Juventina, sempre tinha um aspecto de valor importante, principalmente na genética, por isso, Juventina nunca tinha se relacionado com qualquer cachorro. Já tinha recebida várias cantadas, na verdade, Juventina sempre achou os cães de sua idade, muito "meninões" porque não sabiam lhe cantar direito, queriam ir direto pra pergunta indiscreta: "quando você estará no cio?!".
Mas Juventina não gostava disso. Ela prezava o relacionamento duradouro e fixo. Não gostava de "ficar", isto é, a moda humana que também apregoa os novos cachorros. Juventina era uma cadela de respeito. Sempre preservou o amor e nunca havia tido relação sexual justamente por isso. Alguns beijinhos ela tinha dado no antigo namorado, o Jordão, que era um cachorrão da vizinhança, onde antigamente ela morava, mas Jordão, era muito agressivo. Era um rottweiler que não gostava de levar briga pra casa, e sempre arrumava, portanto, na rua. Era metido à encrenca, machão, e gostava de se esfregar com qualquer pitbul que encontrasse na rua. Ele até fazia muai-tai pra tentar boxear outros pitbul's pela rua. Juventina, terminou o namoro com ele justamente pelo seu excesso de raiva.
Mas, naquele momento, Juventina tinha ficado de olho, no olhar que estava lhe observando. Ela ficou curiosa. Queria saber, quem era aquele cachorro, se era macho, fêmea, se era cachorro pequeno, se era um filhote mamado, se era um admirador secreto... Hum...ela ficou com essa frase na cabeça, e se fosse um admirador secreto?, que pudesse lhe entregar flores no dia do seu aniversário, que lhe chamasse para dançar numa festa, que colasse na sua orelha e lhe fizesse cafuné durante a noite....Juventina ficou toda contente com aqueles devaneios.
Foi então que ela decidiu dá uma voltinha no quintal...passar lá na grama, perto do portão, só pra matar sua curiosidade...então, ela caminhou, figindo que estava procurando algum calango, figindo que queria caçar algum bichinho, só pra disfarçar mesmo. Com os olhos virados, ela viu que os olhos e o focinho grande ainda estávam ali plantados lhe vendo. Ela percebeu que o focinho estava se mexendo, ou seja, o cão do outro lado, tinha um certo interesse por ela, porque estava tentando inalar o seu cheiro...
Juventina se aproximou do portão e derrepente de súbito ela se chegou bem perto...e falou: oi...
Juvenal do outro lado, ficou atônito, não sabia o que responder...pensou que fosse um sonho...sua amada, detrás da outra porta conversando com ele. Ele pensou rapidamente, o que falaria pra ela, pensou em criar uma voz mais forte, ou seja, latir de maneira mais intensa, justamente pra ele passar a impressão de cachorro mais valentão...depois, viu que naquela brincadeira de pensar o que fazer, já se tinha passado mais de 5 segundos, o que é uma eternidade pra quem conversa com outro...aí, ele respondeu, mesmo sem jeito...oi...olá...oi...escutou?!...oi...
Juventina: rs..rs.rs.
Juvenal: você escutou?!...oi....olá....escutou?!
Juventina: rs..rs..rs...escutei sim...
Juvenal: por que não responde?! Você está aí ainda?
Juventina: estou sim....eu estava rindo do seu jeito...
Juvenal: ah...sim...desculpe, é que estou meio gripado...você sabe né...essa história de gripe suína, também tem tirado nossa tranquilidade... (Juvenal teve que mentir pra disfarçar seu nervosismo. Ele não queria passar a impressão de ansiedade que estava sentindo, então, reagiu daquela forma).
Juventina: e você, o que faz aí, perto do portão? Você está bem?
Juvenal: sim, estou, eu só estava cheirando a grama de sua casa, é que eu gosto muito (novamente Juvenal disfarçou seu sentimento de amor pela cadelinha bonita, que ele tanto adorava).
Juventina: ah, entendi, então, você gosta de gramas?! Hum...entendi.
E, nessa prosa, eles ficaram durante quase 1 hora. O tempo não passava pra Juvenal. Ele estava adorando está perto de Juventina. Tudo que ela falava, ele achava bom. Ela conversava das histórias de ração, veterinário, carteiro, viagens, e tudo ele gostava de ouvir. Ele vivia sonhando, perto dela, ia lá na lua, gostava de ouvir seus latidos suaves, suas histórias...
Derrepente, do nada, Juventina, vira pra Juvenal e fala: Juvenal, foi um prazer lhe conhecer, eu já vou embora, minha dona já está chegando e mais tarde irei novamente pra minha casa...
Juvenal, sem entender nada, pergunta: Mas, Juventina, aqui não é sua casa agora? E, ela responde não...eu vim aqui só ficar este dia, é que minha dona verdadeira teve que ir ao médico e pediu pra outra moça, sua amiga, a dona desta casa, ficar comigo hoje.
Naquela hora, Juvenal quase desmaiou. Seu coração foi à mil, ele não sabia o que fazer. Seu amor, ali, na sua frente, sua paixão platônica indo embora, esvaindo por seus dedos, ou melhor - por debaixo do portão - ele não poderia fazer nada...
Aí, Juvenal, cão vivido muito tempo com os homens, aprendeu vendo um filme de romance que tinha que fazer algo naquela hora. Pensou consigo mesmo, é agora!!!!, é tudo, ou nada!!! e virou pra Juventina, e lhe falou: Juventina, eu posso lhe deixar um beijo de despedida?!
Juventina, cadela experta, ficou todo aquele tempo com Juvenal, mas no final das contas, o que ela queria mesmo, é que ele lhe pedisse isso. E, como numa câmera lenta, ela se abaixou, jogou as pernas pra trás, esticou bem o rabo, pra ficar mais esbelta, e beijou Juvenal.
Juvenal, não precisa nem dizer né....ficou uma semana se lambendo, só sentindo o cheiro de Juventina...que foi embora, mas, uma vez por mês ela reaparece na casa da amiga de sua dona, e, claro, dá uma espiadinha em Juvenal...