SEM ENTENDER

Era noite, Ana, deitada em sua cama, recostada nos travesseiros, tentava se concentrar na TV. Não conseguia, algo a incomodava. Em seu íntimo sentia alguma coisa fora do lugar, vagando. Não sabia exatamente o que era. Desligou a TV e, na negritude de seu quarto, mergulhou em seu eu buscando descobrir o que estava acontecendo. Quem sabe a treva não iluminasse seu caminho.

Puxou o rolo da fita do filme de sua vida. Nele, visualizou uma história de lutas e batalhas vencidas. Em sua vida, contabilizava sucessos. Havia conseguido tudo o que idealizara. Era um ser em plena idade, realizada profissionalmente; constituíra uma família ajustada e feliz. Sabia ser amada por muitos e invejada por alguns, pela sua inteligência e autenticidade. Encarava a vida de frente, sem esconder-se atrás de cortinas cinzas da hipocrisia. Aceitava-se como era. Não pensava em desagradar-se para agradar aos outros. Muito embora soubesse respeitá-los.

Conservava, desde a tenra idade, um traço herdado de sua mãe, que herdara da mãe dela: a vaidade. Nada de futilidade, conforme o dicionário referir-se a esta palavra. Mas sim, uma pessoa que cuida da alma, da mente e do corpo. Que planta flores no espírito e desabrocham na mente, perfumando o corpo todo. Era desinibida, tinha facilidade de falar em público. Já fizera tantas palestras, dirigira reuniões, encontros. Carregava consigo um currículo considerável. Era bem aceita em seu ambiente de trabalho. Sempre a colocavam para desatar os nós que apareciam no dia-a-dia profissional. E ela não se enganchava neles. Os desatava.

Tornou-se bastante reconhecida pela sua competência e responsabilidade. Só tinha hora de chegar ao trabalho. A saída dependia da necessidade da instituição. E agia assim pelo simples prazer que encontrava em realizar suas atividades com esmero. E por sentir necessidade de ajudar ao seu semelhante. Mesmo que sua contribuição fosse um pequeno grão de areia.

Entretanto, agora, que havia enveredado por outro caminho, abrindo mais um leque em suas atividades, se encontrava meio estranha. Atividade esta, que, para ela, era apenas um hobby. Algo que enchia sua alma e coração de prazer. Estava dando os primeiros passos no mundo de sonhos e encantos, tecido com letras douradas. Um dourado reluzente, que entrava em sua alma pelas frestas do olhar, assim com o sol entra nas casas pelas portas e janelas.

Descobrira espaço entre centenas de outras pessoas amantes das letras. Conquistando o apoio de muitos. Sentia isso nas palavras de incentivo. E seus dedos acostumaram-se ao dedilhar do teclado mudo, obediente!

Inicialmente, meio tímida e desengonçada, ia soltando palavras ao vento esperando que este soprasse de volta, em retorno. E, elas voltavam, esvoaçantes. Saiam em preto e branco, mas retornavam coloridas. Umas até entoavam cânticos melodiosos aos quatro ventos.

E, mesmo assim, lá estava Ana, revolvendo-se em sua cama, no escuro do seu quarto: inquieta! A noite corria solta. O sono fugira para outros olhos. Os dela estavam absortos na ânsia de compreender o que a estava incomodando. E, nada conseguiu.

Madrugada fria, em arrepios, Ana, embaixo dos cobertores, viu que ia desligando-se de sua inquietação. Cada vez mais distante se fazia o incômodo. Até que foi vencida pelo sono.

E sonhou, talvez, o seu mais lindo sonho: estava em uma biblioteca rodeada de pessoas queridas. Todas sorridentes, cumprimentavam-na e a aplaudiam. Quando pegou o lápis para autografar seu primeiro livro, acordou.

Seria este o seu incomodo? Medo do por vir. Algo que poderia lhe trazer sensações, até então, desconhecidas. Ou seria medo de se tornar o centro das atenções? Afinal, para quem veio de um lugar simples, não seria pretensioso demais realizar mais esta façanha?

Sem chegar, ainda, a conclusões explicitas, Ana continua acrescentado, ao seu hobby, o que aflora de sua alma. E, dela, jorra uma correnteza de amor, carinho, alegria, esperança, emoção, indignação, estranheza... Encontrando porto em folhas virgens. Que também, mudas, aceitam serem tingidas com as cores usadas por Ana.

Esta, por sua vez, ainda terá noites de desconfortos em busca da origem do incômodo que lhe revolve o interior. Mas sabe que tudo tem o seu tempo. E, o seu tempo, desta descoberta chegará como uma manhã de sol, clareando!

Meus queridos, estou sem visitar vcs... viajando... mas logo td normaliza... muito obrigado pelo carinho... dia azul... bjos!!!

Fátima Feitosa
Enviado por Fátima Feitosa em 18/08/2009
Reeditado em 19/08/2009
Código do texto: T1760127
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