- Antessala - Em Segredo
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Em Segredo
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Ela era pequena o bastante para que á enfiassem dentro dos vestidos das bonecas de porcelana influenciadas pela moda vitoriana na atmosfera da mansão. Sofia era seu nome, uma criança dotada de uma beleza incomoda, que odiava seu corte de cabelo á la Louise Brooks e o modo como costumavam ignorá-la. Das poucas coisas que a menina amava os primeiros da lista eram seus sapatos de vinil – E secretamente Yoshua o amigo que lhe enviava cartas em francês, mas preferia não pensar que ele fosse o primeiro da lista. "Monómero de Cloreto de Vinilo – Polimero de Cloreto de Polivinilo" – Dizia a fórmula decorada da página 222 do Caderno e Enciclopédia de Ben Zion, um volume dividido em três partes com diversas curiosidades, estando entre as melhores; uma rã transparente da Amazônia e um menosprezado estudo sobre a fragilidade dos dogmas religiosos.
A menina sentia-se amada quando sua mãe trazia as dúzias de sapatinhos monocromáticos em caixas perfeitamente quadrangulares enfeitadas com lacinhos coloridos, presentes sempre iguais, Sofia corria para abri-las e ir logo causando os novos pequenos sapatos. Na lista de coisas amáveis – Em segundo lugar estaria sua mãe ou talvez a luneta do sótão, presente de seu tio Ben Zion o mesmo do caderno-enciclopédia, em terceiro estavam as borboletas presas na caixa debaixo de sua cama, em quarto ou quinto lugar, não sabia quem colocar.
A primeira vista no escuro a pequena Sofia Zion Yaffa-Nin não chamava tanta atenção, isso só acontecia quando se acendia a luz ou atravessava os portões da mansão para conseguir apanhar alguma borboleta fujona, o que acontecera somente uma vez, e Sofia não pisava os pés na calçado vraiment do lado de fora do portão, conseguira prender a borboleta entre as mãos depois das grades frias, ficou ali por algum tempo, tentando bolar uma maneira de não deixar a bela borboleta de asas laranjas com listras pretas e marcas brancas fugir, Sofia conhecia a borboleta, aquela era uma Danaus plexippus ou Borboleta-monarca como estava escrito na enciclopédia, possuía uma coleção grande de borboletas-monarcas, eram sempre elas que rondavam, pelo jardim em frente à varanda, mas aquela era para Yoshua, prometera para ele que mandaria a maior quantidade de borboletas pelo correio, tinha um número exato de 11 borboletas mortas acondicionadas em uma caixa de isopor em um saco de papel vegetal. No saco constava o nome da "região" onde elas foram capturadas: "JARDIM DA FRENTE" escrito com esferográfica. Mas a borboleta que se debatia nas mãos fechadas em concha da menina, não sobreviveria intacta como as outras, Sofia não á deixaria escapar, fechara a mão com força e o mais rápido possível puxou-a quase a prendendo na grade, quando ouviu a voz da avó Gal chamando-a. Sofia galgou os degraus de casa com o pressentimento de que encontraria a avó sentada ao piano, era quase onze da manhã, horário das aulas de piano - E não tinha coisa que Sofia mais gostasse depois de caçar borboletas no jardim e escrever cartas á seu amigo Yoshua, a terceira coisa era tocar piano, Gal era rigorosa e atingia um estado de rabugentisse muito rápido quando Sofia não conseguia acertar as teclas, dizia numa voz áspera como língua de gato "Sofia Mon Dieu... par Dieu... Comment peut pas... Même à la recherche de tablatures” Sofia com seu francês em desenvolvimento não conseguia entender tudo, sorria nervosa e repetia as teclas mostradas na Tablatura, a menina sabia e Gal também sabia que tablaturas não eram apropriadas para instrumentos como o piano ou o cravo, decorar 88 teclas não era tão simples assim.
“Sofia” Berrou a avó aparecendo do outro lado da porta de vidro, a menina enfiou a mão no bolso do vestido e soltou a borboleta esmagada."Onde você estava menina?”.
"Eu... Estav...”.
“Espero que não esteja caçando aqueles insetos asquerosos sabe o que dizem sobre as borboletas não pode ficar pegando-as com ás mãos... E se colocar os dedos nos olhos, e se coçar os olhos... Você Sabe menina!”.
“Sim, Vovó” •.
A avó olhou para ela e sorriu maliciosamente, estendendo a mão com um envelope "Chegou hoje de manhã, Yoshua parece estar se divertindo, escrevendo para você. Essa é a segunda carta que chega essa semana”. Sofia tentou agarrar a carta, mas a avó a ergueu dizendo rigorosa; "Só lerá, quando acertar toda a partitura, você se responsabilizou em aprender a tocar, para o dia da apresentação... Para o seu avô”.A apresentação como ela poderia esquecer?
Como sempre acontecia nos aniversários do avô, a única vez que o velho, saia do quarto para poder vê-la tocar o piano, e todos os amigos da família também estariam presentes, e Sofia só se responsabilizara á tocar para aquele bando de esnobes esquisitões, porque a avó prometera buscar Yoshua, queria muito conhecer o amigo, nunca havia visto Yoshua de verdade, sabia por intermédio da avó que ele era alguns anos mais velho, talvez dois ou três... E tinha cabelos cacheados cor de ferrugem e que morava com a avó amiga de longa data de Gal em uma comuna francesa que não conseguia pronunciar o nome, as cartas de Yoshua eram escritas em um francês perfeito, mas com uma caligrafia horrenda que somente a avó sabia decifrar, um dom interessante. Talvez o único dom, de todos os Yaffa Nin. Sofia muitas vezes sonhava com o dia do encontro, mas não conseguia ver o rosto de Yoshua, sempre tapado por alguma luz ou névoa, estava apressando-se nos estudos de francês para escrever uma carta que ele pudesse entender, a avó dizia que ele não falava nenhum outro idioma perfeitamente, talvez arranhasse no espanhol ou ladino idioma do avô.
As aulas terminavam quando o almoço estava para ser servido. A família seguia a tradição de nunca perder o horário do almoço, ás onze horas e cinqüenta minutos Louise, a mãe Sabina, os irmãos gêmeos Avi e Ami as tias; Clara e Branca e a avó se posicionavam em silêncio para os agradecimentos, á muito tempo nenhuma palavra era dita nas refeições feitas á mesa, em memória de Ben Zion que desaparecera depois de se aventurar numa viagem de balão sobre a Amazônia com o pai Boaz. Era Ben quem fazia o agradecimento depois do avô á muito tempo distante, o avô Boaz ficara debilitado e terrivelmente mal depois do desaparecimento de Bem, diferente do tio da menina o avô Boaz fora encontrado inconsciente em uma pequena comunidade, peruana, ao acordar os médicos constataram que sofrera uma lesão grave e perdera parte da memória. Boaz ficava trancado num quarto no fim do corredor do segundo andar, recebia cuidados das melhores enfermeiras que a avó conseguira encontrar, mas Sofia sabia que não eram enfermeiras que fariam o velho Boaz melhor, o velho entrava em desespero quando não estava entorpecido mergulhado nos sonhos ou talvez pesadelo, se debatia na cama e era assim que as presilhas e cintas entravam em ação, Gal o prendia na cama, uma cena que Sofia sempre tentava reconstruir em sua mente, sua mãe e as empregadas a seguravam no quarto, a menina entrava em um torpor atroz, parecia sentir tudo o que o avô sentia absolutamente tudo, cada grito de pânico do velho era interpretado no corpo frágil da menina que desmaiava pesadamente quando tudo acabava.
Esperavam até que o relógio badalasse reverberante doze vezes, em seguida se sentavam, era naquele instante que Avi e Ami olhavam para Sofia esperando que ela desse o sinal, um sutil toque na colher de sopa sobre a mesa ao lado do prato. Os gêmeos então pregavam a colher na ponta do nariz fungando e fungando, alegando que conseguiam sentir o cheiro do metal, Avi e Ami sofriam de uma diminuição do olfato que os médicos chamavam de anosmia, com as colheres na ponta dos narizes os gêmeos desencadeando rugidos de Gal que ordenava que os garotos respeitassem um momento como aquele, e os risinhos cansados das tias. Era assim que se seguia o almoço vítima de uma cacofonia absurda. Sofia mantinha-se quieta segurando o sorriso, e a satisfação que momentos de cacofonia sorrisos e gritos lhe propiciavam uma resposta afetiva vicária, ou seja, uma resposta afetiva apropriada à situação de outra pessoa, e não à própria situação. Era sua forma de se vingar de Gal por nunca deixar que ela lesse as cartas por si só, mesmo que demorasse uma eternidade tentando desvendar o que Yoshua escrevia.
Sofia costumava retribuir o sorriso das pessoas, era na imitação de outras pessoas, com movimentos posturais e de expressão facial que, quando produzidos, criava nela indicadores internos que contribuem para compreender e sentir a emoção em si própria. Não entendia muito bem o que fazia. Mas a agradava... Profundamente. Evitava olhar nos olhos das pessoas, evitava... Porque sabia que poderia copiá-la. Não só na aparência física. Gal satisfeita revelou o que escondia atrás das costas. A carta de Yoshua, ela rasgou no canto como fazia com as correspondências, água, luz...Crispou os lábios, em seguida sorriu, fitou a menina com um olhar que ela entendia, era o mesmo olhar que dava quando Sofia não compreendia algo por inteiro, o mesmo olhar que significava "mais uma caligrafia feia”.
"Chacun de ce qui est la sienne”
“A cada um aquilo que é seu".
Disse quando a carta já estava aberta.
Yoshua sempre começava suas cartas com algum verbete ou anedota, e Gal sempre tinha na língua francesa algo igual para dizer. Yoshua parecia conhecer muito bem cada cômodo da mansão, ou simplesmente saber verdadeiramente o que Sofia estava sentindo em determinados dias, se chovera ou se o ar estava seco o bastante para que as vozes soassem como se cordas arrebentassem nos pescoços das pessoas que conversavam nos corredores. Gal sorriu novamente e leu com sua voz áspera; Salut. Sofia mon cher... J'espère que ma lettre n'a pas disparu ... Plat, c'est quand cela se produit... "A caligrafia de Yoshua é horrenda" - Dizia Edith, mas sua voz ou sua expressão não eram a de desgosto o que parecia quase permanente em sua face. Nunca se recusara em ler para Sofia, com seu francês impecável, o curioso era que de tudo que a menina aprendia com a professora particular todas as quintas a única matéria que Gal pedia para a professora não se apressar em se aprofundar com Sofia era a matéria de língua francesa clássica e moderna dizia rigorosa; "Ensine o que a minha neta precisa saber para se tornar uma dama sofisticada... A língua francesa pode esperar" E de cabeça baixa a professora (senhora Bárbara Zuriaga) respondia num sibilo "Sim Gal".
Gal em cada estrofe lida traduzia o que o amigo da menina queria dizer com "Je travaille sur certains projets..." ou "Je travaille sur un atelier de mécanique”.
Apesar de nunca ter tentado ler uma única linha das cartas do amigo, ou simplesmente ter contado um segredo temendo que, quando ele respondesse Gal descobrisse ao ler para ela, Gal, mesmo assim sentia-se confortada com o que ouvia de Yoshua ele morava com a avó, mas ao contrário de Sofia não vivia numa mansão de quatro andares trancada, proibida de sair até a calçada da frente, era por meio de Yoshua que Sofia descobrira muito, ou constatara que eram coisas reais. E não somente aquilo que lia nas enciclopédias, surpreendeu-se ao saber que Veneza era uma cidade com "ruas feitas de água" Ou... Que crianças viviam juntas em salas de aula. Mas o que lhe tirara o sono uma vez era saber que homens trabalhavam num projeto para viajar até a lua. As cartas de Yoshua passavam de simples comentários, possuía informações e humor, ele contava como vivia com a avó ou como conhecera certas pessoas, como estava indo seu projeto de tornar-se um piloto e como era seu novo trabalho numa oficina mecânica. Edith terminava de ler depois de dizer imitando voz de menino; "De son fidèle ami Yoshua... J'espère que vos réponses... encore plus" Dobrava a carta e a guardava no avental, nunca entregava de imediato á Louise, que tinha uma casa de brinquedo onde guardava as cartas, mas que estava no quarto de Edith onde ela não tinha permissão de entrar.
Mas a menina tinha um plano.
Pendurada de cabeça para baixo, apoiando as pontas dos dedos finos no chão, a menina de penteado á lá Louise Brooks avistou o gramado gasto aproximarem-se rapidamente. A cabeça bateu no chão e ela caiu de lado. Estava no balanço não mais usado para fins digamos que infantis - Não mais fizera a escolha de usá-lo para aquilo... Aquela tarde; "Comumente se concede que semelhante escolha é feita quando estamos para atravessar uma ponte ou engolir de uma só vez o remédio de gosto amargo".
Sentou no balanço a cabeça latejante e ardilosamente maquinando... Como poderia entrar no quarto da Gal-olhos-de-água e pegar o que era de direito seu? Os olhos dela fixaram-se nas cortinas robustas da janela do segundo andar, o quarto de Gal, eram cortinas bonitas compradas por ela de um vendedor ambulante em uma viagem que ela fez quando ainda era moça casada... "Israel" fora uma viagem para a Grécia, e Sofia deparou-se com o Dejá vù de já ter estado ali sentada no balanço com seus sapatos caros de boneca que na verdade não eram de boneca (somente seus vestidos eram de boneca e eram bonecas grandes) sentiu já ter estado ali. Pensando na palavra robusta, ou melhor, coluna... Coluna robusta ou coisa do tipo.
"Colunas muito robustas, combina com o capitel relativamente pequeno, com o dórico e o jônico; colunas altas e delgadas podem também suportar um capitel grande, como o Corinto; elas têm menos a suportar, permitindo, pois, ornamentos variados..." Aquelas eram as palavras de Gal que lia um livro de um autor de nome grande, Sofia não conseguia pronunciar o nome, mas o primeiro a fez pensar na távola redonda, no rei Arthur e em sua espada mágica. Tirada de uma pedra – "Caso se queiram adotar para pesos grandes, como o Corinto;... Finas, então, já que elas têm de se tornar mais comprimidas, sua altura se tornará bastante elevada; se isso estiver em conformidade com o caso, pode-se adotá-las; se a..." Sofia o que? Gal interrompeu a leitura do livro, olhava para a neta que parecia interessada em outra coisa, os olhos da menina estavam pregados na capa do livro e com o dedo indicador ela parecia... "Está fazendo o que?” Rugiu a velha fechando o livro “contando?".
"Ao todo são 18 letras" Disse em voz alta "nome e sobrenome" A menina sorriu.
"O que pensa... Que está fazendo?” Disse ríspida como a avó que era.
Consideramos, portanto que depois da tarde de leitura de Gal e Sofia o castigo da menina foi ajudar o jardineiro com as roseiras de espinhos grossos, aparentemente parece ser um "petit peine" longe disse, o castigo de Sofia foi definitivamente ruim, pior seria fazê-la comer... Uma das flores, mas a avó apesar da tentação deixou que a ideia sumisse rapidamente ao olhar bem dentro dos olhos duros de Sofia. O jardineiro estava na família a mais de vinte anos, fora trabalhar na casa da família de Sofia depois da internação da tia Debra fato que a família de Sofia escondia, a menina costumava conversas com o jardineiro, mas ele sempre tocava no nome de Yoshua como se o garoto fosse namorado dela, o que a deixava incrivelmente irritada. O nome dele era Dionísio.
"A jardinagem Sofia é bastante impotente em face do desfavor da natureza, e, onde esta trabalha contra, suas realizações são Pifas...”. Sofia encarou o jardineiro. Ele pareceu se interessar pela atenção da garota continuou com o discurso sobre a jardinagem; Séculos e mais séculos... Trabalho de homens dedicados, o gosto puro e bom no cultivo, a vida como uma flor em um amor verdadeiro “. Ele sorriu – ”Como o seu e o de Yoshua”
“Amor meu e do... Ora”. Bufou a menina cruzando os braços. Dionísio continuou; "Antes predominava o antigo gosto ou gosto Holandês... Que emigrou da Itália e por lá ainda predominava, pelo pouco que os antigos dizem de seus jardins, temos que supor que eram do mesmo estilo”.
A menina continuou a encarar o jardineiro, os olhos dela eram fixos e vivos nele. O jardineiro que como numa ópera dramática continuava seu discurso sobre a história dos jardins, empolgava-se épico, "digno de epopéia”.
"Mas o mais importante de tudo... Na jardi...”.
"Pífias!" Exclamou Sofia irritada “São coisas pífias e não pifas... E não me venha dizer que Yoshua é meu... Ora, é meu amor”. Deu de ombro e marchou chutando vasos e pás pelo caminho.
O balanço rangeu e Sofia continuou sentada pensando e pensando havia se esquecido do plano, do que ela precisava da coisa-em-si . Sofia ainda tinha coisas na cabeça, que na verdade não tinham absolutamente nada que pudesse ajudá-la a poder resolver o problema."Quem quiser alcançar isso tem de estar em condições de considerá-los de maneira puramente objetiva, livre das relações com a..." Gal diria alguma coisa daquela venenosa Sofia podia vê-la dizendo a boca vermelha, os dentes corretos as maçãs nada rosadas, o rosto fino ofídico. Gal não era um exemplo de vovó reconfortante era mais para Bruxa da cabana de doces. Por isso, de um lado, o que em geral a divertia em planejar com os gêmeos como irritá-la ao máximo, aquela falta de medo, dava lugar a uma necessidade de temer Gal em certos momentos... Nas aulas de piano, por exemplo. Pode-se, portanto, sempre repetidamente dizer que a menina Nin era tão espelhada em Gal quanto qualquer outra forma que pudesse refletir na casa. Isso é de fato bastante notável!
A persona dentro da pequena Sofia ou como ela mesma descobriria numa aula sobre o teatro onde o verbo personare não tinha nenhuma importância até que ela pudesse ler o que estava escrito de verdade nas cartas de Yoshua. Ali estava o plano, como não poderia ter visto antes?Envenenaria Gal, não, não... Envenenar não... Qual palavra poderia usar... Dopar isso mesmo... Doparia Gal, como se tudo se derramasse, como se um vento fosse o causador do efeito dominó, vento fino, fraco, brisa fluente algoz dos mesmos dispostos de pé e que se debruçando um sobre o outro dá continuidade musicada, as respostas surgiram para Sofia...Doparia Gal com um calmante de sua mãe, roubaria a chave do quarto e entraria tudo planejado. A menina sorriu correndo em direção a porta de entrada correndo para longe de uma borboleta que atravessara o portão a seu encontro como se pedisse para ser colocada junto aos cadáveres de suas iguais. Sofia correu com um sorriso torto no rosto, o sorriso que logo revelaria a morte e o significado do tal verbo personare, sorriso que o homem de 18 letras no nome chamaria de alegórico ou em extremo de in abstrato, sorriso que acabaria com mais sorrisos... Acabaria, extinguiria qualquer outro sorriso no rosto da pequena Nin de vestido de boneca.
* * *
Aquela manhã a neblina surpreendeu á todos, era a primeira de anos, densa, branca e misteriosa escondendo o que podia se ver em dias ensolarados além dos portões da mansão era como se contribuísse com a misantropia latente da família. As tias se preocuparam em agasalhar á todos, mesmo sem necessidade, pois os cômodos eram todos quentes ou como o grão-salão; morno.
“Os aquecedores são úteis nessa época do ano” Disse uma das tias como se ela houvesse enfrentado o inverno rigoroso antes que ele “desse o bote”.
Sofia foras obrigada a vestir desconfortáveis luvas de couro e tocar piano com elas, além de quase sufocar com o grosso pulôver tricotado pela mãe ainda quando ela sofria de depressão pós-parto dos gêmeos, a menina só conseguiu se livrar das luvas quando Gal disse que poderia tirá-las, depois que a tia na verdade a mais neurótica fosse cuidar dos afazeres. Ao contrário do que Sofia gostaria que fosse sua relação com as tias, tudo que fazia era simplesmente acreditar e obedecer ao que elas pediam ou faziam, “São velhas loucas” ou “Estão cansadas demais para agirem como velhotas normais”. Diria Gal com toda seu humor ácido e tom mordaz. As aulas de piano haviam começado mais cedo, com Gal batendo na porta do quarto e berrando, pela primeira vez Sofia percebera que a avó não mais entrava sem bater no quarto e abria as cortinas, o costumeiro “Ritual do dia está lindo’”. Depois de ser empacotada pela tia, Sofia seguiu Gal com seus sapatinhos de boneca ressoando como música para os ouvidos da mãe que sabia que a cada passo da filha a suposta satisfação era manifestada. Sentou-se na banqueta e tocou, mas não como sempre tocou, tocou incomodada pelos dedos escorregadios e pelo frio intenso, mas tocou e agradou á todos nos arredores e dentro da mansão, como num último momento, esperando para sobreviver ao “ébrauler”.Os remédios ficavam guardados num armarinho muito alto onde Sofia só conseguiu alcançar se arrastasse um banco ou uma cadeira até o banheiro, mas mesmo que essa fosse a maneira mais fácil de fazer aquilo, não poderia já que Gal estava agora preocupada em fazê-la ensaiar para a apresentação de piano e Sofia não conseguia pensar em nada para escapar da avó.
“Vamos Sofia... Mais uma vez” – Muss es sein? Es muss sein!
Sofia Yaffa Nin sabia perfeitamente tudo sobre “muss es sein? Es muss sein!” Talvez só o que não soubesse fosse a tradução. Beethoven era um dos amores de Gal assim como, Piaf, Mozart, Shakespeare... E Aristóteles, mas Beethoven tinha um lugar dentro do coração da velha e dentro da mansão, o núcleo do quarto movimento do último quarteto opus 135 era como uma reza, uma oração, o famoso tema de Beethoven era uma das muitas histórias que os misantropos que frequentavam a residência dos Nin gostavam de contar. Sofia nunca havia deixado de ouvir nenhuma delas, mas não porque gostava da história, o contrário, pouco se importava com a história em si... Gostava de ouvir os amigos de seu avô conversarem em alemão. Gal promovia reuniões sempre que o velho Boaz, saia do quarto para tomar sol no jardim dos fundos, e lá onde não era lugar de criança, era o que sua mãe dizia, ela ouvia as anedotas maldosas sobre o que fulano ou beltrano costumava fazer com o que chamavam de política religiosa. Depois do jardim o grupo costumava agrupar-se na antessala que havia atrás das longas portas de correr branca da sala de visitas, e era lá onde Sofia não era mesmo bem vinda, onde a menina só conhecia por alguns segundos, quando a porta era aberta para que alguém entrasse e sempre que espiava via uma longa estante com milhares de títulos, mas a imagem logo sumia com o branco das portas que eram fechadas.
“Política é para quem não se resolve...” Dizia um dos amigos do avô Boaz. E todos riam como se houvesse algo de muito engraçado e subjetivo na palavra Política...Talvez em “não se resolve”, mas Sofia ainda assim continuava ali sorrindo como se tivesse entendido a anedota, torcendo para que falassem em alemão. O alemão é uma língua de palavras pesadas. “Es muss sein!”, de brincadeira passou a “der scher gefasste Entschluss”; “é preciso” Tornou-se uma decisão gravemente pensada. E então falavam, sempre quando a menina quase estava á se contorcer. Curiosa e furiosa. E do alemão para o ladino e hebraico da antessala.
Depois da aula de piano daquela manhã o frio e as luvas foram deixados de lado e a neblina pesada dera lugar a um sol amarelo e quente, um sol alegre, mas que de tão alegre o melhor seria que um surto de “Cri d’agonie” caísse sobre ele... Uma nuvem de chuva, quem sabe...Fosse mais confortadora.
“Madame Yaffa-Nin acho que hoje seria um bom dia. Para que o senhor Boaz deixasse o quarto” A vozinha de pássarinho de Samara a enfermeira que Gal contratara por alguns meses soou repentina na sala de música. A avó com seus olhos de ave de rapina. – Fitou Samara que engoliu em seco, mas continuou ali parada á porta esperando que dissesse algo, Sofia sentada na banqueta não podia saber o que Samara pensava, mas sentiu o desconfortável peso do olhar de Gal como se estivessem direcionados para ela. Samara crispou os lábios, mas não desviou os olhos, mesmo que Gal a discordasse tentaria novamente.
Edith não disse o costumeiro e ríspido “Não”, nem o simpático e debochado “Sim”, disse algo que assustou Sofia;
“O que você... Acha Sofia?” •
A menina não entendeu, “acha?” A palavra parecia feita de isopor com gosto de isopor e densidade de isopor.”O que eu acho?” Repetiu ela dentro de sua cabecinha adornada com o cabelo escorrido e impecavelmente preto petróleo. Sofia olhou para as mãos da avó depois para os sapatos brancos da enfermeira, como eram brancos e brilhavam ao refletir no chão de linóleo.”Eu... Eu acho uma ótima idéia” Disse ela olhando da enfermeira para Gal como se tivesse tentando adivinhar o que elas queriam como resposta.
“Então Samara leve Sofia, e você mocinha ajude Samara com o seu avô, eu telefonarei para algumas pessoas” Sofia correu e seguiu a enfermeira que lhe estendeu a mão magra de dedos cônicos. Sofia a segurou firme, enfermeiras quando estavam longe dos hospitais eram tão meigas e dóceis Sofia soltou um risinho, pensara aquilo como se alguma vez tivesse estado num hospital.
* * *
Sofia já estivera no quarto do Boaz, era um dos poucos quartos da mansão que tinha sete janelas de cortinas azuis, o quarto era redondo e a cama ficava num canto perto de penteadeiras com abajures e outras coisas usadas na medicina, alguns livros grossos de medicina natural e outros de literatura "alegrinha" eram como Sofia classificou quando pegou o Mágico de Oz de capa verde esmeralda.
"Vamos Sofia me ajude aqui” Pediu Samara abrindo as janelas desligando o aquecedor.
Sofia não olhou para o avô momento algum, tinha medo que os olhos dele estivessem abertos e que ele estivesse "olhando" para ela, algo que até então nunca tinha acontecido, mas ela não arriscava. Lembra-se pouco da presença dele nas reuniões de família, só de família quando todos se sentavam nos sofás para ouvir Gal tocando Bach no piano, por vezes ele levanta-se bruscamente e corria para a antessala e trancava-se lá até o dia seguinte, Sofia era pequena para entender o que acontecia, mas sabia que o avô tinha alguma coisa a ver com o desaparecimento de Bem Zion e que sofria com aquilo. A sala era bem trancada, e não se ouvia quase nada lá de dentro. Das poucas recordações afetivas que tinha do avô Boaz, Sofia lembrava-se de algumas palavras que ele lhe dissera antes de dormir, naquela tarde Sofia vira as antigas fotografias de sua mãe quando tinha alguns anos a mais que ela, ficou absurdamente confusa e irritada ao ver quão bela era sua mãe, tanto que preferiu esconder o álbum debaixo de uma das poltronas da sala de visitas, “Aqui ninguém encontrará jamais” pensou consigo mesmo. Ao deitar-se pediu que o avô lhe cobrisse e respondesse uma pergunta – Ele então pediu que ela continuasse, e Sofia disse com voz de grilo, fina e ritmada; - “Vovô você me acha linda como a mamãe?”. A pergunta causou uma vontade tremenda de rir no velho, que ao reconstruí-la não evitou alta e cansada gargalhada.
- “Acho que você seja... Tão... Bela quanto sua mãe foi com a sua idade minha querida” Respondeu o avô sentando-se aos pés dela “Sabe Sofia, ou te dizer algumas palavras que jamais esquecerá...” A menina apoiou-se nos cotovelos e também se sentou.
“Me fale então...”.
“Ouça com atenção minha querida... Muitas vezes o uso de algumas palavras banalizam a simplicidade e excelência de outras – A Beleza – Da moça bonita não existe mais, o que temos hoje... Para a infelicidade dos mais sensíveis, é a boniteza da moça linda – Mas para ser franco com você querida, a tal lindeza é superficial, não possui a mesma entonação do que beleza ou boniteza, não possui” Ele suspirou “É superficial, quase inexistente para quem vive com aquele fogaréu dentro do peito... Para mim mais vale o uso da moça bonita, mais antiga e filosófica aos ouvidos – Do que a incapaz e insossa moça linda. Que uma verdade seja dita diante de tudo – Nada é verdadeiramente lindo – Porque a letra bê...” Ele agachou-se até perto do ouvido dela “... Está antes no alfabeto”. Sofia sorriu, e o abraço, o velho retribuiu o abraço com palmadinhas nas costas da menina - “Sendo assim minha querida, você é a minha moça bonita”.
Quando todas as sete janelas do quarto de Boaz já estavam abertas, a brisa do jardim dos fundos invadindo parecendo procurar alguma coisa que se escondia ali dentro, Samara pediu que ela a ajudasse a sentar o avô na cama. Era só aquilo – Sentá-lo, nada mais, quem costumava levá-lo para fora eram os convidados quando Gal lhes pedia. Sofia pensou em dizer "não" e sair se desculpando, mas lembrou da avó. Então ajudou, Samara de um lado segurando-o pelas axilas, Sofia fez o mesmo, na verdade soube quem não ajudou muito, mas mesmo assim estava ali fazendo algo, o avô estava de olhos fechados, isso Sofia percebeu depois de vê-lo sentado.
"Ele está dormindo?” •
“Pode se dizer que sim... Eu o dopei hoje cedo...” •
“Dopou?”. Perguntou a menina achando estranha a conotação da palavra.
"Sim – Florais". Disse Samara quase que num sussurro. “Mas não comente com ninguém tudo bem?”.
Sofia não sabia o que eram florais, mas já havia ouvido Gal dispensar duas das últimas enfermeiras que tocaram no assunto.
"Mas... Vovó não...” •
“Sua avó não precisa saber...” •
Sofia sorriu confusa.
"Mas...” Sofia viu os remédios do avô numa bandeja debaixo do criado mudo."E os remédios?” Perguntou tocando com a ponta do sapatinho o móvel “Faz... algum tempo que seu avô não os toma”.
“Mas... ele precisa... certo?” •
“Precisar. É uma questão dele estar bem, ou não... Os florais não fizeram mal algum”.
“Até agora” Disse a menina ríspida como Gal.
"Esse são os remédios...” Samara pegou dois frascos amarelos com etiquetas que diziam "Dia" Em um e "Noite" em outro.
"Dia” •
“E esse ele tomava de Noite".
Mostrou o outro frasco.
"Quais os efeitos?".
"Os efeitos são os mesmos, um é menos brusco".
"Mais fraco?".
"Oui" Respondeu a enfermeira colocando os frascos no lugar.
"Mas minha avó...” •
“O que tem ela?” •
“Vai perceber que os frascos não estão esvaziando” •
“Bem... pensado, mas eu jogo alguns comprimidos no ralo da banheira e na pia”.
“Quais?” Perguntou Sofia olhando para os comprimidos. “Quais?” Repetiu a Enfermeira confusa. “Quais que você joga na pia?” Repetiu a menina olhando para a porta.
“Um pouco de cada frasco”. Murmurou Samara olhando para a porta “O que foi?”.
“Tenho medo que ela descubra e te mande embora como fez com as outras” Sofia sentiu um aperto no peito.
“Se você não contar” Volveu Samara esboçando um sorriso. Sofia sorriu em resposta, ali estava a solução para conseguir as cartas de Yoshua.
"Os efeitos?”. A enfermeira olhou para o velho voltou os olhos para a menina, “Efeitos?” Sofia fez que sim, com a cabeça.
"Como eu te disse” Continuou “Ambos... tem o mesmo efeito, mas um é mais forte que o outro o que ele tomava de noite era mais forte”.
“Posso ver?".
A enfermeira olhou para Sofia, mas não percebeu as intenções da menina de vestidos de boneca e sapatinhos de vinil. Pegou o frasco e derramou na palma da mão alguns comprimidos, eram grandes e esverdeados. Sofia ficou pensando na dificuldade que devia ser fazer o avô engolir aquilo.
"São grandes... Mas eu os dissolvo em água antes de dar para ele” •
Sofia. Arregalou os olhos interessados.
"Posso ficar com alguns?” •
A enfermeira sorriu dizendo; "Para que uma menina... Deseja remédios?” •
Sofia não pensou em uma desculpa, disse a verdade.
"Para dar para Gal tomar” •
A enfermeira soltou uma risada contida.
No mesmo instante em que a mesma Gal da conversa entrou no quarto, foi então que Louise pegou os comprimidos e os soltou no bolsinho do vestido Samara escondeu o frasco atrás das costas e o tapou.
"Como vão... as coisas por aqui?” •
“Bem... ele já está..." Sofia pegou o frasco que Samara estendeu para ela e o colocou rapidamente na bandeja antes que a avó percebesse.
"Ótimo, Daniel está vindo com Samuel e Rafael, encontrarão outros três convidados... e virão para cá” •
As duas ficaram olhando Gal assustadas.
"Você pode subir e se trocar...” Disse apontando para Sofia “Samara está dispensada por hoje”. Foi até a beirada da cama e olhou para o marido “Preciso de você aqui amanhã bem cedo”. Disse sem olhar para Samara.
“O mais cedo?”.
“Sim, o mais cedo”. Repetiu pegando alguma coisa da bolsa.
Sofia não viu se mais alguma coisa aconteceu, saiu do quarto correndo em direção as escadas, o plano estava formado, e as pílulas estavam em seu bolso, agora era só esperar a hora mais oportuna para colocá-los na bebida de Gal, sem ninguém perceber. Não demorou muito para que os convidados chegassem, mas a menina não conhecia quem eram aqueles outros três, ficaram nos degraus esperando que Gal a chamasse para descer e se juntar a eles no círculo de diálogos tediosos por vezes melancólicos, regados á uísque e limonada, biscoitos de gengibre e cigarros, uma hora antes rondara em passos silenciosos pelo corredor do quarto de Gal, mas não tive coragem o suficiente para tentar abrir a porta.
A voz de Gal irrompeu num gargarejo "Menina venha conhecer os nossos convidados", a menina rapidamente desceu os degraus e parou no último antes que seu sapatinho de vinil tocasse o chão do salão.
Os três parados altos esguios quase semelhantes em expressão (se não fosse os óculos redondos do outro e as sobrancelhas arqueadas da última á esquerda) não prestaram atenção nela, no instante em que esteve ali parada com o pé sem tocar o chão.”Sofia esses são – Caleb Gad Casablancas, Jacques Soutto-Mayor Sodré e Rebecca Garlipp Spina, os dois homens eram altos, mas não tão altos quanto a mulher, usavam roupas idênticas, ternos retos pretos com botões que pareciam feitos de prata, Caleb Gad era o mais moço que tinha os óculos arredondados de aros prateados e o que não havia percebido de imediato, um bigodinho fino Sofia lembrara de um pintor, mas não sabia o nome dele, o outro Jacques Soutto-alguma-coisa parecia um pouco mais velho e tinha um bigodão, parada ali Sofia sentiu alguma coisa no perfume dele que não era digamos que - vigoroso... Másculo como o outro irmão. Sofia sorriu. A mulher era alta usava coque e um vestido verde de veludo, seus sapatos eram pontudos – Não serviriam para nadar”.Pensou Sofia... Como se a convidada fosse entrar na água de escarpins. Ninguém disse nada enquanto a menina permaneceu ali parada, a não ser Gal que mostrava pela janela o jardim dos fundos para três senhores que ela reconheceu, Dan, Sam e Fael, dois deles (Dan e Sam) eram as caricaturas do gordo e do magro, já Fael não era igual á ninguém que ela conhecesse."Ah... E esse você Já conhece” Disse a avó sorrindo e apontando para os três senhores de terno e gravata. Dan, Sam e Fael sorriam fazendo um movimento com a cabeça.
Sofia naquela tarde não foi convidada á se sentar com os convidados, nem teve permissão para ouvir a conversa, era alguma coisa séria demais, disse Dan (O gordo) era o único que parecia tentar convencer Sofia de que adultos eram chatos e pedantes.
“E como vai Yoshua?”.Sofia havia se esquecido que Dan sabia de tudo que acontecia com Yoshua, na verdade ele havia comentado alguma coisa sobre cartas que recebia de uma amiga distante e Sofia contara em seguida sobre as cartas que recebia do amigo.
“Ele está bem preciso de uma caixa grande para mandar as borboletas".
“Daniel venha...” Berrou Gal lá de fora.
Sofia sentiu um aperto no peito, era a primeira vez de muitas que não passaria a tarde com os adultos, não ouviria Alemão, Ladino ou Hebraico. Subiu ao quarto e pegou um Atlas sobre a escrivaninha, era grande e de páginas plastificadas, tinha um cheiro gostoso que fazia cócegas na garganta. Decidiu contar quantos países existiam.
Nunca havia feito aquilo, e é claro que não faria olhando nos mapas, havia páginas e mais páginas com bandeiras. Onde apareciam alguns dados sobre os países havia uma anotação feita á mão, a caligrafia era fina e corrida onde estava escrito capital, havia um rabisco e do lado do rabisco (que antes era Tel aviv), estava o nome de Jerusalém.
“Menina!“.
Berrou Gal da varanda, Sofia estremeceu e largou o livro que caiu no chão num ruído seco, em seguida correu até a porta, Gal entrou apressada parecia alterada ou excitada, usava óculos pesados, masculinos trazia uma bandeja com copos longos vazios e ria respondendo o comentário de Dan sobre ela ter misturado vodca na jarra de limonada. De pé ao lado da avó Sofia esperou que ela dissesse alguma coisa, mas ao contrário, a velha não disse nada entregou a bandeja à menina e apontou para a cozinha. Sofia segurou a bandeja à avó abaixou-se pegou o livro colocou-o sobre a mesinha ao lado da porta e saiu.
Sofia não disse nada, caminhou equilibrando os copos na bandeja e ao atravessar o corredor espiou pela janela, estavam todos sentados no jardim dos fundos. Onde cadeiras eram dispostas ao redor de uma mesinha branca de jardim e da cadeira de rodas do avô, que paralisado feito um boneco na cadeira parecia sem vida ao lado dos convidados que riam e bebiam a mistura de limonada e bebida sem nome... De Gal. A menina viu a jarra de limonada sobre a bancada, colocou os copos sobre a mesma enchendo-os e tentou equilibrá-los novamente sobre a bandeja. A mão escorregou até o bolsinho do vestido onde estavam os comprimidos, tinha quase se esquecido deles... Mas estavam ali, num momento como aquele, oportuno.
"Sofia está difícil aí?" Daniel entrou na cozinha com sua presença gigantesca.
Os comprimidos afundaram no copo que seria destinado á Gal. "Eu estava tentando”.
"Deixe-me ajudá-la!"
Daniel pegou mais copos e entregou somente dois a Sofia dizendo com sua voz cantarolante.
"Vamos, querida, vamos... Gal está alegrinha hoje".
* * *