O Chacal e a Ninfa
Em um tempo remoto havia quatro guerreiros que nem eram conhecidos pelos seus nomes de origem que se perderam no tempo. Amizades que um dia o destino uniu e pôs sob fortes provações.
O 1º Guerreiro:
“O Senhor do lado escuro”, detinha o poder sobre as sombras era invencível à noite e durante o dia era soberano sobre qualquer sombra que fosse projetada. Junto Dele vivia a Senhora da Dor, mulher de extrema beleza temida pelo seu poder de causar a dor, mas “santificada” por muitos que foram curados por ela quando se utilizava do oposto do seu poder para curar as pessoas.
Juntos os dois eram felizes, mesmo com poderes assustadores.
O 2º Guerreiro:
“O Cavaleiro do Coração Gelado” era o senhor do frio, diziam que até seu olhar congelava. Fora um homem mal e cruel no passado, usando seus poderes para aterrorizar e fazer de dias felizes de primavera tão insuportáveis quanto a pior noite de inverno. Mas seu coração foi acalmado pela Senhora dos Ventos que outrora apareceu para salvar alguns aldeões da crueldade daquele cavaleiro, combatendo seu frio invocando primeiro ventos poderosos para afastá-lo e depois o envolvendo com uma leve brisa quente ate que ele percebera o quanto a face daquela mulher era linda com um sorriso doce, emoldurada em cabelos cacheados. Com algum tempo e amor ela mudou a vida dele.
O 3º Guerreiro
“O Lagarto”, chamado assim apenas pela sua aparência de pele rugosa homem solitário, magro sem cabelos e conseguia se esconder facilmente em qualquer ambiente. Muito furtivo e ágil, era dono de um humor simples, mas muito constante apesar de sua vida ser considerada arruinada por muitos, pois durante um tempo em que saíra para combater inimigos ao sul, toda sua família fora morta. Este já era acostumado com a solidão que já o acompanhava por anos. Era muito fiel aos seus amigos e tinha com eles um pacto de lealdade eterno.
O 4º Guerreiro
Simplesmente chamado “O Chacal” poderoso homem-fera, com sua aparência entre homem e animal. Era um daqueles que deram origem as historias dos lobisomens. Mas este viera de longe desde o oriente, do deserto. Ele era filho do próprio Anúbis que reinava na dimensão perdida entre os paredões do deserto e o reino dos mortos. Era sim um príncipe, mas preferiu correr o mundo ao invés de reinar junto de seu pai. E com o consentimento de Anúbis e a parte do poderes que lhe cabia, o Chacal foi em busca de novos horizontes.
Cruzou vários reinos, conheceu varias raças de seres, mas foi cruzando os bosques das terras altas, ao norte do planeta, em plena primavera, que seu destino foi selado e seu coração arrebatado.
Ainda de longe viu a ninfa que dançava sorridente dentre as flores solta com seus pés flutuando sobre a relva ainda molhada de orvalho. Uma belíssima tiara dourada lhe revelava sua diferença em relação as outras, uma diferença que só um príncipe como ele saberia distinguir tão rapidamente. Ele havia se atraído justamente por uma princesa. E por dias a cercou, viu seus movimentos, sentia seu cheiro, via suas travessuras, ele imaginava que sua aparência talvez a afastasse, mas decidiu se aproximar, e furtivamente chegou perto dela enquanto ela colhia flores e agachado e apoiado em suas mãos ele ficou a frente dela no meio das flores. Ela se assustou quando o viu, mas não pela sua aparência, talvez pelo misto de força, segurança e tranqüilidade que ele passava. Podia ver doçura e brilho em seus olhos e um sorriso entre suas presas. O silencio imperava entre eles, apenas olhares e receios. Com coragem ela tocou aquele misto de feições humanas e animais que era o rosto dele. Atração imediata, mas ele a deixou ali e correu dentre as arvores, mas todos os dias eles voltavam ao mesmo local. Um cerco lento, toques leves, o cheiro que ele sorvia dela, o cheiro de todas as flores, algo que não havia entre sua raça, coisas que não haviam no deserto, aquilo que seu coração lhe impelia a procurar e foram dele as primeiras palavras:
“Sai do conforto do meu reino e da minha posição, em busca de grandes coisas, mas foi em você, “coisa pequena”, que meu coração parou, não sou perfeito como você, e muito menos detenho a beleza de sua raça, e minha natureza as vezes é selvagem, mas meu coração bate firmemente por você e se pudesse lhe ter trocaria meu reinado junto de meu pai, que é soberano da justiça, e te tomaria para Mim.”
Ela se aproximou e o abraçou e disse:
“Já vi muitos príncipes e muitos guerreiros, e muitos me encantaram com a beleza e a bravura, mas nenhum foi como você que não quis impor sua posição e se aproximou de mim de forma igual me respeitando sem querer me olhar de cima, mesmo com tanto poder e dominância. Lembro-me do primeiro dia, você agachado me olhando. E assim me fez apaixonar-me por ti e te desejar como me desejas.”
“O meu pai detém um segredo que pode mudar o destino sobre qualquer um de minha raça. Meu pai pode me dar a forma humana, que é o mais próximo que posso chegar da beleza que você tem. Para aqueles da minha raça isso é um castigo, pois perdemos nossa força e poderes, mas para mim se isso me aproximasse de você seria uma benção de meu pai, mesmo sem poder mais voltar ao meu reino.” – disse o Chacal
Ela não disse mais nada, apenas se entregou àquele amor e por vários dias se amaram, mesmo querendo cercá-la de toda proteção, seu lado animal deixava marcas no corpo dela. Suas garras e presas por muitas vezes se fincavam na pele delicada da ninfa. Ele se ressentia com isso, mas ela o acalentava dizendo que isso a fazia mais dele ainda, que as marcas eram símbolos da posse dele sobre ela, coisa que uniam aquelas criaturas de raças tão diferentes.
Depois de alguns dias ele perguntou a ela o que ele deveria fazer pra tê-la para sempre e ela disse que deveria procurar seu pai o rei e que a pedisse para si que ela iria antes e falaria com seu pai e que na hora que o rei o chamasse ela estaria junto dele.
E assim foi no dia seguinte, o Chacal entrara no reino daquela ninfa que ele amava, mas mesmo diferente de todos, ele se lembrava do que o seu pai Anúbis lhe dizia: “Nunca perca sua alteza, seja útil e servil, mas nunca seja submisso.” e assim ele se apresentou ao rei que o ouviu em silêncio. E lhe disse que para tal coisa, para poder receber a filha dele, mesmo que já apaixonados e tendo se entregado ao amor, o Chacal deveria servir àquele reino em uma tarefa que só guerreiros poderosos podem executar e que assim mostraria mais que seu amor pela sua filha, mas também a lealdade àquele reino. E o Chacal lhe respondeu que já havia saído pelo mundo e deixado seu próprio reino, por aventuras e provar ao seu pai, a todo mundo e principalmente a si mesmo que pode honrar todos os valores que aprendeu durante a vida.
A Aliança dos Guerreiros
E assim o rei fez entrar naquele recinto outros cinco guerreiros e pela primeira vez estavam todos juntos aqueles que formariam uma aliança não apenas pela tarefa que deveriam cumprir, mas pela amizade que descobririam depois: O Senhor do Lado Escuro, A Senhora da Dor, O Cavaleiro do Coração Gelado, A Senhora dos Ventos, o Lagarto e o Chacal. Os cinco primeiros já se conheciam há tempos e estavam naquela missão em troca de um tesouro oferecido pelo rei, enquanto o ultimo, o Chacal estava ali também por um tesouro que não era nem ouro nem qualquer outro metal ou pedra preciosa, mas sim aquela que ele amava.
Os seis partiram para a missão, que provavelmente levaria vários dias. Deveriam escoltar um mensageiro até o reino dos elfos. E para isso cavalgavam durante todas as horas claras do dia entrando pela noite e descansavam apenas na entrada da madrugada, voltando a estrada antes ainda que o sol nascesse. Poucas coisas foram obstáculos pra eles. Apenas alguns salteadores e animais selvagens atravessaram seu caminho.
Aquela viagem durou uma semana, mas chegaram ao reino dos elfos garantindo a segurança do mensageiro e foram acomodados onde deveriam esperar para trazer de volta o mensageiro e a resposta que deveria levar.
Durante os dias que ficaram ali aquela amizade aumentou e durante uma conversa entre eles o Senhor do Lado Escuro exaltava a nobreza do Chacal se oferecer para aquela missão em troca do amor da princesa que ele já tinha conquistado, tanto ele quanto os outros disseram que estavam naquilo pelo tesouro oferecido pelo rei, mas que fariam o mesmo pelas mulheres que amam. Até o Lagarto que há tempos já era solitário concordava com eles. O Chacal lhes dizia que tesouro nenhum lhe importava, mesmo porque ele já era um príncipe, mas que aprendera que amizades e amores verdadeiros são mais importantes que qualquer tesouro e que isso ela já havia conquistado nos últimos dias, o amor da princesa e a amizade daqueles guerreiros.
No dia de partir o mensageiro chega junto deles com mais um ser que seguiria viagem com eles. Aquele último viajante estava com o rosto coberto de modo a não ser identificado.
O Cavaleiro do Coração Gelado logo se manifestara dizendo que a missão era levar e trazer o mensageiro em segurança juntamente com a resposta do rei dos elfos. O mensageiro disse que aquele viajante era a resposta que o rei da terra das ninfas esperava. E que o rei aumentaria a gratificação deles caso achassem injusto.
Os guerreiros rapidamente conversarem entre eles, concordando com a idéia de um aumento da gratificação, mas perguntaram ao Chacal o que ele achava já que não estava ali por riquezas matérias e ele apenas respondeu:
“Desde que esse novo viajante possa cavalgar tão rápido quanto nós e não nos atrase ou nos atrapalhe eu concordo.” – disse ele com uma estranha sensação.
Dali eles partiram pelo mesmo caminho que foram, já que era o caminho, mas rápido, porém de estrada aberta.
Tudo transcorria bem, até serem surpreendidas por algo que vinha do céu sobre eles, dez criaturas aladas, montados por guerreiros encapuzados que os cercaram.
“Pelo Ser Infinito, o que é isso?” – perguntou a Senhora da Dor já puxando de sua espada como os outros também fizeram.
“São caçadores de recompensa, trabalham por tesouros também, mas eles não tem ética e nem escrúpulos, provavelmente são Orcs ou outros humanos pelo seu tamanho físico” – respondeu o Lagarto.
“Apenas nos entreguem o mensageiro e este que vem com ele e não lutaremos”. – disse um dos encapuzados.
“Como se pudéssemos confiar em quem não mostra o rosto.”- respondeu o Senhor do Lado Escuro.
Aqueles seis guerreiros fizeram um circulo em volta dos seus dois protegidos e de certo não se entregariam sem lutar.
O Senhor do Lado Escuro invocou seus poderes sobre a escuridão já que o sol já estava se pondo e do outro lado o Cavaleiro do Coração Gelado se envolvia de um frio tão forte que se podia ver a umidade do ar se transformar em cristais de gelo em volta dele.
No meio da escuridão o Lagarto e o Chacal desmontaram de seus cavalos atacando a pé de forma rápida e furtiva pulando sobre os inimigos que ainda estavam montados sobre as criaturas aladas, que também tinham seus pescoços cortados para morrerem antes de poderem voar de novo. A escuridão e o frio cercavam os dois protegidos e impediam que os inimigos se aproximassem muito e também a Senhora da Dor podia atacar apenas tocando nos inimigos lhes causando dor intensa e os matando em seguida. Percebendo que outras criaturas aladas se aproximavam a Senhora dos Ventos invocou um vento que circulava no alto em volta deles impedindo dos demais pousarem. O Lagarto se aproximou dos dois guerreiros que fechavam aquele cerco com trevas e frio e disse-lhes que poderiam fugir pelos pântanos dos ogros que eram seus amigos em vez de ficar e lutar, pois logo estariam com poderes enfraquecidos e em desvantagem numérica e que ele conhecia um caminho no meio da floresta e chegando lá estariam em segurança.
E assim eles fizeram, na frente vinha ia o Cavaleiro do Coração Gelado e a Senhora dos Ventos abrindo caminho com vento e gelo seguidos pelo Lagarto que lhes ensinava o caminho e os dois protegidos. Seus inimigos não podiam se aproximar pelo chão e nem pelo alto. Logo atrás vinha a Senhora da Dor e o Senhor do Lado Escuro que atrapalhava a visão dos seus inimigos com sua barreira de trevas, e cavalgando no meio das trevas ao lado dele vinha o Chacal, que tinha seu olfato e sua audição tão aguçados quanto sua visão e assim podia cavalgar no escuro seguindo seus amigos da frente pelo som dos cavalos. Mas seus ouvidos também perceberam o zunido de algumas flechas cortando o ar, atiradas a esmo e que uma acertara o peito do Senhor do Lado Escuro que em seguida tombara de seu cavalo. Se não fosse a agilidade do Chacal ao conseguir desmontar ao lado do seu amigo e com suas garras cortar a garganta de um dos inimigos que estava com a lança em punho para dar cabo da vida do Senhor do Lado Escuro que já estava quase inconsciente quando foi colocado sobre o cavalo do Chacal que o levou junto com ele.
Quando eles conseguiram entrar na floresta a Senhora da Dor percebeu seu amado ferido de forma mortal quase entrou em pânico, mas consentiu com o Chacal que deveriam chegar a um local seguro.
Ao chegar aos pântanos o Lagarto arrumou acomodações as pressas e acomodou seu amigo ferido e lhe tirou a flecha, mas ele já havia perdido muito sangue e estava ora inconsciente ora em delírios. Os ogros juntamente com o Lagarto e o Chacal faziam de tudo para salvar-lo, conseguiram fechar o ferimento e torciam para que ele voltasse a consciência.
Do lado de fora o Cavaleiro do Coração Gelado apertava o mensageiro do reino das ninfas para que ele contasse o que estava acontecendo e porque estavam sendo atacados e o que era tão valioso que os caçadores estavam atrás. A raiva do Cavaleiro era tão grande que ele pegou o mensageiro pelos ombros e o corpo dele foi esfriando a cor da sua pele já havia mudado e em poucos minutos ele teria morrido se aquele viajante misterioso não tivesse se revelado como o príncipe dos elfos que estava indo para fazer um pacto com o outro reino e disse que provavelmente os caçadores o queriam para pedir resgate.
Mas aquilo não importava mais e sim a vida o Senhor do Lado Escuro. A Senhora da Dor estava sentada na cama ao lado do seu amado e o Chacal e o Lagarto costuravam o ferimento junto com ungüentos feitos pelos ogros, mas a expressão deles não revelava muito otimismo.
Ela chorava e para estranheza do Chacal ela colhia as próprias lágrimas em uma taça e depois lhe confessou que não chorava muito, mas que suas lágrimas era poderoso remédio contra envenenamento, mas que isso agora não iria ajudar seu amado, pois não era o caso e assim entregou ao Lagarto para guardá-las. Um silêncio mórbido imperou por minutos, a Senhora da Dor parecia muito angustiada e a voz do Chacal quebrou o silencio:
“Desde que conheci vocês, tenho aprendido muito e mesmo em tão pouco tempo vocês já me são muito queridos, tanto que não hesitei em parar para salva-lo. Sinto nele muita nobreza e desejo do fundo da minha alma que ele saia desta situação. Ele é um guerreiro muito poderoso e tem tudo para ser mais do que já é.”
“Sobre os poderes dele, ele sempre dizia que o seu maior medo é que mesmo com tanto poder ele não pudesse salvar alguém que ele ama.” - disse o Lagarto.
“Ele também dizia que é de cada um a responsabilidade sobre seus poderes, que cada um deve usar da melhor maneira sempre equilibrando a emoção e a razão, nunca deixar que sentimentos que estejam muito acentuados, formem a base de suas decisões, e eu sempre o apoiei, mas existem momentos em que o coração fala mais alto do que qualquer outra coisa.”– disse a Senhora da Dor que completou: - “Eu queria ficar a sós com ele.”
Nesse momento os olhares dela e de seu amigo Lagarto se cruzaram e ele a sentiu triste, mas muito firme e centrada no que queria e quando ele ia falar algo ela apenas disse. No meio de um sorriso muito expressivo:
“Por favor, estes podem ser nossos últimos momentos.”
Ele apenas abaixou a cabeça e saiu acompanhado pelo Chacal.
Do lado de fora pediu que ninguém mais entrasse que os deixasse a sós por algum tempo. E os demais contaram e eles sobre o motivo do ataque dos Caçadores.
Eles estavam chateados, pois aquela mudança nos planos originais resultou naquele ataque e agora na agonia do Senhor do Lado escuro.
O Chacal se aproximou do príncipe dos elfos e perguntou sobre o tal pacto e o elfo respondeu com um tanto de arrogância:
“Isso é um assunto de reis e não diz direito a um guerreiro mercenário”
O Chacal o levantou pela roupa olhando em seus olhos e mostrando seus caninos e lhe disse:
“E o que você acha que eu sou seu arrogante? Sou um príncipe como você e meu pai governa entre dois mundos; Ele tem poderes sobre o caos, mas governa com justiça, então tenha muito cuidado do jeito que fala comigo porque não sou nenhum mercenário e você não sabe os meus motivos. Além disso, os meus amigos não são mercenários eles apenas estão sendo muito bem pagos pelo serviço para o qual foram convocados e dentro daquele quarto tem um guerreiro agonizando por causa desta missão e não há nenhuma riqueza no mundo que pague a falta dele.”
O Chacal pôs o elfo no chão e lhe deu as costas com raiva e deixou junto com o Cavaleiro do Coração Gelado que disse ao príncipe:
“Bem, príncipe, você conseguiu deixar meu amigo com muita raiva e não é a toa que me chamam de Coração Gelado, não sou de muita clemência e generosidade, e você viu o que quase aconteceu ao mensageiro, então conte tudo o que está acontecendo.”
O príncipe contou-lhe que haveria um pacto entre os reinos que envolveria magia e experiências de guerra e que era só o que sabia e que ficaria sabendo todo o resto quando chegasse e que estava apenas obedecendo a seu pai.
O Cavaleiro do Coração Gelado queria saber mais e ia pressionar o príncipe até ele contar tudo, mas a Senhora dos Ventos o acalmou, dizendo para deixá-lo que era melhor irem ver como estava seu amigo ferido.
Eles bateram na porta do quarto, mas ninguém respondeu esperaram alguns instantes e decidiram entrar. A Senhora dos Ventos entrou na frente e o que viu foi o Senhor do Lado Escuro e a Senhora da Dor deitados. Ela ao canto da cama com a cabeça apoiada no peito dele e seus longos cabelos dourados e cobrir seu rosto. A Senhora dos Ventos os chamou pelos nomes, mas não atenderam, pareciam dormindo. Quando ela chegou perto viu que o Senhor do Lado Escuro dormia profundamente, sem febre e respirando bem, mas quando foi acariciar a face da sua amiga viu que algo estava estranho, não a sentia respirar tentou fazê-la levantar, mas era como se ela estivesse...
“Morta... Ela esta morta!” – exclamou a Senhora dos Ventos – “Mas como pode, ela estava ótima há pouca hora?”
Os demais pegaram o corpo dela e a deitaram no chão, então o Lagarto disse:
“Eu temia que ela tentasse algo assim, quando entramos , ela estava deitada sobre ele com a mão no peito, mas estava com a mão exatamente sobre o ferimento, ela usou todo o poder curativo que tinha, usou tudo até esvair a própria vida.”
Em uma mesa, onde estavam os materiais que eles usavam para cuidar do ferimento, havia um bilhete:
“Não agüentaria viver sem você, eu tinha que tentar fazer algo e sei que se fosse ao contrário, e se você pudesse, você também faria o mesmo por mim.
Se quando você ler isso eu não estiver viva, por favor, me perdoe... Te amo.
Quero que você viva e seja feliz e conquiste tudo o que seu coração desejar.”
“Não tenho palavras para descrever o que sinto.” – disse o Chacal
‘‘Acho que não há muito o que falar, ela fez o que achou melhor fazer, somos todos guerreiros e independente do “inimigo” é a morte o nosso fim, daremos a ela as honras de um funeral e nos preocupemos com nosso amigo quando acordar” – disse o Cavaleiro do Coração Gelado, em um misto de emoção e frieza.
Assim eles levaram o corpo dela para outro quarto e foi muito difícil acalmar o Senhor do Lado Escuro quando ele acordou e soube de tudo depois ele ficou em silencio do lado do corpo dela por horas até que o chefe da aldeia dos ogros veio lhe dizer que o funeral já estava pronto e puseram o corpo dela sobre uma grande fogueira que ardeu quase toda a noite.
Todos eles ficaram ali por vários dias, em luto até que a veio a noticia que os Caçadores já sabiam onde se escondiam. Não podiam mais continuar ali, pois poriam os Ogros sob um risco que não era deles e também deveriam terminar a missão, não mais pelo tesouro, mas porque o Chacal esperava pra rever a princesa. Então arquitetaram outro plano, enquanto O Senhor do Lado Escuro, o Lagarto e o mensageiro serviriam como isca levando um boneco de palha com as roupas do príncipe sobre um cavalo muito bem ensinado, fugindo por outro caminho para chamar a atenção dos Caçadores, os demais levariam o príncipe o máximo possível por dentro da floresta em direção ao reino das ninfas.
Era o plano perfeito, mas o Chacal se manifestou dizendo que quanto maior fosse o grupo que serviria de isca, mas convincente ele seria e disse que iria junto, por mais que quisesse voltar ao reino das ninfas o quanto antes possível, ele faria o melhor pelo grupo e era isso que ele achava o melhor.
Todos concordaram e assim foram em disparada. O grupo de isca seguiu pela estrada aberta enquanto os demais iam por dentro da floresta.
Os Caçadores alcançaram o grupo de isca que os levou para longe, e os cercaram e da mesma forma que antes e iniciaram uma batalha. Quando os caçadores descobriram que aquele boneco não era o príncipe, resolveram fazer todos de prisioneiros, sem mortes, e pelo alto, duas grandes criaturas aladas atacaram e uma delas conseguiu prender o Senhor do Lado Escuro em suas garras e levá-lo para o alto. Vendo isso o Lagarto pediu que o mensageiro que também era um bom arqueiro atingisse tais criaturas, mas qual não foi sua surpresa quando viu que o mensageiro mirava seu arco em direção ao Chacal que estava de costas para ele atingindo seu dorso com uma flecha e logo disparou outra no ombro do Lagarto que caiu. Achando que o Chacal já estava abatido, o mensageiro apontou outra flecha direto ao peito do Lagarto, e disse que depois de ter abatido o Chacal a sua missão já estava completa e não deixaria testemunhas. E apontando para o Lagarto não prestou mais atenção em nada a sua volta e não viu que o Chacal mesmo ferido estava de pé atrás dele sem demora lhe torceu o pescoço.
“Não é muito fácil matar um príncipe, não é Chacal?” – perguntou o Lagarto
“Ainda mais um filho de Anúbis, mas não quero pensar neste maldito traidor, temos que nos preocupar com nosso amigo e os caçadores.” – respondeu o Chacal
Não demorou muito e outras criaturas aladas apareceram e os capturaram também e todos eles foram levados para as montanhas ao norte, próximo ao reino das ninfas.
O Cavaleiro do Coração Gelado e a Senhora dos Ventos chegaram levando o príncipe dos elfos em segurança até o reino das ninfas. Foram recebidos e levados diretamente a presença do rei que os recepcionou e em seguida queria dispensá-los junto com o pagamento devido, mas eles disseram que ainda esperariam os outros e não iriam embora sem eles, principalmente o Chacal que não tinha nada a ver com o pagamento em ouro e ainda era convidado do reino.
O rei pareceu não apreciar a idéia, mas não queria atritos com aqueles seres poderosos e disse que ficassem quanto tempo desejarem, mas não interferissem em nenhum assunto do reino.
Na saída do salão eles encontraram a princesa que lhes perguntou sobre o Chacal, ela não o viu chegar junto com eles. Eles lhe explicaram o que havia acontecido e disseram que ele estaria ali em pouco tempo, talvez em horas, mas não foi o que aconteceu. Nem no dia seguinte e nem no outro não tiveram um único sinal deles, então ela implorou a seu pai que mandasse uma busca, então o rei a chamou em reservado dizendo que tinha condições para fazer aquilo e um tanto consternada ela voltou dizendo que havia aceitado as condições de seu pai, mas que não poderia contá-las aos dois guerreiros e que nenhum deles poderia ir na busca.
E assim aquela equipe de busca foi no rastro dos desaparecidos pelo caminho indicado pelos demais e em dois dias eles voltaram com o corpo do mensageiro e as armas dos demais que haviam ficado no local. Disseram que deram busca em toda área aberta inclusive seguindo um rastro de sangue que parecia muito com o sangue da flecha que eles acharam quebrada e que não parecia sangue humano, mas o rastro se perdeu e não puderam seguir.
“O Chacal foi ferido e todos sumiram. Pelo Ser Infinito, isso não pode estar acontecendo.” – disse a Senhora dos Ventos.
Ao ouvir aquilo o semblante da princesa mudou totalmente, podia se sentir a tristeza dela, o amargor da sua alma.
O Cavaleiro do Coração Gelado não estava conformado, sua natureza fria sentia algo estranho e movido pela sua intuição ele pediu pra ver o corpo do mensageiro.
“Ele teve o pescoço quebrado por alguém maior que ele. Obra dos Caçadores.” – disse um dos soldados.
O Cavaleiro apenas moveu a cabeça do mensageiro morto de um lado para o outro e disse:
“É. Pescoço quebrado.” – e os dispensou
“Te conheço bem, para saber que algo esta errado.” - disse a Senhora dos Ventos.
“Eles não estão totalmente errados, o pescoço foi quebrado sim, mas não pelos Caçadores, pois as mãos que quebraram aquele pescoço deixaram marcas de garra na face dele.”
“Mas por que o Chacal iria matar o mensageiro que deveríamos proteger? Sinto que ele é muito confiável apesar do pouco tempo que estamos juntos.”
“Eu também sinto isso, por isso sinto que há algo errado, vamos ficar mais um tempo. É o que meu coração pede.”
Eles pediram ao rei para que pudessem ficar mais um tempo ali ate saberem para onde partiriam ou tivessem noticias de seus amigos. E assim lhes foi permitido e que aproveitassem o tempo ali da melhor forma.
Alguns dias se passaram e eles esperaram ali por noticias, mas nada. Apenas rumores que um grupo de Caçadores espreitava a cidadela.
A esperança dos dois já se esvaía e para piorar a situação correu a notícia do casamento da princesa do reino das ninfas com o príncipe do reino dos elfos. Aquilo os desanimou mais e os desagradou por causa da lealdade que tinham pelo Chacal. Resolveram partir, mas antes de saírem encontraram com a princesa que achou melhor lhe explicarem o que havia acontecido: ela lhes explicou que essa era uma das condições impostas pelo seu pai, para que ele ordenasse a busca do Chacal e dos outros, mas que se eles estivessem morridos, ou que não voltassem em sete dias que ela aceitaria o casamento que seria naquele dia, para o bem do reino.
“Me arrependo eu mesmo de não ter ido atrás dos meus amigos. Há algo muito estranho nisso tudo, mas não vamos nos intrometer em problemas do seu reino, só espero que ninguém daqui tenha culpa nessa tragédia.” – disse o Cavaleiro do Coração Gelado.
“Peço que fiquem mais um pouco, assistam a cerimônia que será realizada na praça. A corte do reino dos elfos já esta aqui. Estou pedindo como princesa e como amiga, na verdade meu coração pede isso de uma forma tão intensa que desejo firmemente que não se vão agora.” – disse a princesa.
A Senhora dos Ventos pediu ao seu amado que ficassem, já tinham ficado tanto tempo, algumas horas a mais não fariam diferença.
A cerimônia do enlace correu nas ultimas horas do dia. Ao fim quando o rei ia anunciar o inicio das festividades, um certo alvoroço perto do altar. As sombras pareciam vivas como, juntando-se e de dentro delas saiu o Senhor do Lado Escuro e o Lagarto.
“Como ousam interromper-me?” – disse o rei.
“Apenas viemos reclamar aquilo que nos é devido.” – disse o Lagarto –” Apesar de todos os perigos e da traição.”
“Os pagamentos já foram entregues aos seus amigos, se algum de vocês morreu, ou não voltou, então dividam a parte dele.”
“Sinceramente e com todo respeito que devemos ao rei dentro do seu reino, nada paga o que passamos, principalmente envolvendo a traição do seu mensageiro que atentou contra a vida de nosso amigo Chacal.” – disse o Senhor do Lado Escuro
A princesa vendo toda aquela cena estava transtornada e emocionada, amparada pela sua mãe assistia tudo.
“E o nosso pagamento já esta muito bem guardado fora daqui.” – disse o Cavaleiro do Coração Gelado já feliz do lado dos seus amigos.
“Mas mesmo assim, não importa tanto, pois nenhum tesouro paga a honra de um guerreiro, e é por isso que o maior interessado nesta história toda esta aqui.”
Após o Senhor do Lado Escuro ter dito isso, o Chacal surgiu de dentro daquelas sombras, vivo. Ele se dirigiu ao altar e falou ao rei:
“Cumpri minha parte do nosso acordo, fui fiel ao seu reino, mesmo tendo sido traído por um dos seus. Jurei lealdade para com o senhor e o seu reino, na mesma proporção do amor pela sua filha. Independente do que aconteceu, não quero saber por que tentou me matar, ouvi bem o mensageiro dizer que fazia parte da missão dele, vim buscar a princesa e tira-la deste reino, não sou um guerreiro qualquer, sou um príncipe e diante de um príncipe um rei tem que honrar suas palavras.”
“Preste atenção, vou dizer apenas uma vez.” – disse o rei se aproximando do Chacal – “Eu nunca deixaria minha filha casar com uma criatura como você, quando percebi que você seria um problema para meus planos, que era ter uma união com o reino dos elfos através deste casamento, resolvi te mandar na missão e se não fosse morto em combate, que o meu mensageiro, que você matou, desse cabo da sua vida. Como pode ver, ela já se casou e você não pode fazer mais nada, sejam inteligentes, você e seus amigos, e saiam do meu reino ainda com vida.”
O Chacal nada mais disse, apenas olhava para o rei. Sua respiração acelerava junto com as batidas do seu coração, a massa muscular de seu corpo aumentava. O seu rosto se alongava e se transformava em um focinho, suas pressas saltavam para fora de sua boca e suas garras se alongavam. Era a TRANSFORMAÇÃO, o mais temido poder daqueles de sua raça. Temido porque seu lado selvagem aflorava e dominava seus pensamentos. Ele queria vingança, estava irado pela traição e por ter sido enganado e usado. Era um homem e uma fera, cego pela raiva.
Neste momento varias criaturas aladas mergulharam em um vôo direto para dentro do reino, em direção a praça. Eram aqueles chamados de Os Caçadores, mas sem os seus capuzes se podia ver suas faces. Eram humanos e tentavam evitar aquele pacto entre o reino das ninfas e dos elfos, pois era planejado que eles se tornariam a força de guerra mais poderosa das terras do norte e o coração do rei das ninfas estava corrompido.
“Senhor do Reino das Ninfas!” – gritou o líder dos chamados Caçadores – “Nunca fomos caçadores de recompensas, somos apenas um grupo interessado na paz, quando interferimos na missão destes guerreiros, apenas queríamos afastar o príncipe dos elfos deste reino, até que o Senhor recuperasse sua razão. Nunca houve guerras contra seu povo, e seu povo nunca foi minimizado pela sua falta de poderio de guerra, sempre foram respeitados. Da mesma forma, que baseado nas tradições mais antigas, não podemos impedir este enlace, entre sua filha e o príncipe dos elfos, é sobre estas mesmas bases que lhe dizemos que mantenha a paz, para que as Terras do Norte não se maculem de sangue.
Mas o senhor atentou contra a vida de um príncipe, mesmo que de uma terra distante e não tiramos a razão da ira dele, e acredite viemos aqui para proteger a sua integridade contra tal ira e tentar levá-lo embora.”
Mas nem estas palavras impediram o Chacal de ir contra o rei, com fúria, derrubando todos a sua frente. Os uivos que soltava eram angustiantes e desesperadores. Seus amigos conseguiam segura-lo, com muito esforço. Alguns dos chamados Caçadores foram ajudar. O rei mandou que alguém do seu reino fizesse algo e um dos soldados que estavam atrás do trono, atirou duas flechas contra ele, que caiu, e em convulsões voltava a sua forma original e já ficando inconsciente balbuciava:
“prata.. prata... veneno...”
“Desta vez o trabalho vai ser bem feito.” – disse o rei –” Se os ferimentos não o matarem, a prata mata. O mensageiro que também era um grande soldado deve ter usado a flecha errada.”
A princesa chorava agora acalentada pelo príncipe, que também se ressentira com tudo aquilo.
Mas o pior ainda estava por vir, pois os amigos do Chacal estavam irados e eles convocaram seus poderes, e sombras e gelo e ventos poderosos se anunciavam para investir contra aquele reino.
Mas o líder dos chamados Caçadores interviu dizendo que seria uma luta desnecessária, pois mesmo com tantos poderes e com o apoio do seu grupo de humanos, teriam que enfrentar um exército, era melhor que saíssem dali o mais rápido que pudessem e que tentassem salvar o Chacal.
E assim em um momento de trégua eles fugiram dali, cavalgando rápido sem olhar para trás, de volta ate a aldeia dos ogros.
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Levaram o Chacal para o mesmo aposento onde socorreram o Senhor do Lado Escuro e ali o deitaram. Ele estava febril, em convulsões. O chefe dos ogros perguntou o que houve e os demais lhe falaram sobre o que aconteceu.
“A prata é um veneno para tais criaturas, os ferimentos causados por armas de prata não se fecham e o sangue engrossa, só o que posso fazer é tentar dar mais tempo a ele.” – disse o chefe dos ogros- “No nosso pântano temos muitas sangue-sulgas, talvez elas possam fazer algo em relação ao sangue, talvez elas consigam sugar o veneno, mas não tenho muitas esperanças, não sei como ele sobreviveu até agora.”
Algum tempo passou e após os cuidados dos ogros o Chacal recobrou a consciência por algum tempo e pediu um espelho, e o que viu foi a pela de sua face rachada.
“Isso é um efeito da prata, ela esta dominando meu sangue, em breve meu coração não vai mais bombear direito.”
“Deve ter algo que possamos fazer por você.” – disse a Senhora dos Ventos.
“Acredito que não há muito o que fazer, só quero que depois da minha morte, digam a meu Pai onde estou sepultado.”
“E seu pai saberia como reverter isso? Você fala tanto dos poderes dele, ele deve conhecer uma cura.” - disse o Lagarto
“Sim Ele sabe, mas são muitos dias de viagem, eu não conseguiria e não poria vocês em uma missão sem esperanças. Logo o veneno vai se espalhar por completo.”
“Vamos descobrir um jeito meu amigo, vamos acreditar no melhor até o último minuto, vamos vencer ou retardar a ação desde venen...”
Antes de completar a frase o Lagarto se lembrou da agonia do Senhor do Lado Escuro e do choro da Senhora da Dor que recolhia as próprias lagrimas e que ela disse que suas lagrimas eram remédio contra envenenamento.
“Já a vi usar isso em outros casos de envenenamento, mas eram venenos de plantas ou animais, nunca a vi usar isso em envenenamento por metais, não sabemos dosar, podemos piorar a situação.” – disse o Senhor do Lado Escuro
“Vamos arriscar. Vamos dar a ele uma gota e ver como reage.”
Assim fizeram e pingaram uma das gotas daqueles lágrimas na boca do Chacal e aguardaram ate o dia seguinte, quando que pela manhã ele ainda parecia estável.
“Vejo que tiveram melhoras.” - disse o chefe dos ogros.-” Em outros casos ele já estaria morto.”
“Então continuaremos dando as lagrimas para ele, observaremos hoje, se ele continuar assim, vamos preparar a viagem e partiremos o mais rápido possível.”
No dia seguinte, resolveram partir. Saíram da aldeia dos ogros e na estrada aberta eram escoltados pelo alto pelos chamados Caçadores em suas criaturas aladas.
Tudo parecia transcorrer bem, até que uma angustia tomou conta do coração da Senhora dos Ventos e ela começou a chorar aparentemente sem motivos.
“ O que está havendo com você, amada?” – perguntou preocupado o Cavaleiro do Coração Gelado.
“ Não sei, mas algo esta para acontecer, tudo que passamos esta me corroendo. A agonia dos nossos amigos que se feriram e a morte da nossa amiga, a traição do rei das ninfas e tudo mais. Mas há algo ainda pior para acontecer e temo por isso. Estou sentindo o que a Senhora da Dor sentiu, e o que a ninfa está sentindo, até as imagens da família do Lagarto estão vindo em minha mente, mesmo sem eu nunca tê-los conhecido. Agora estou com medo de sermos separados também.”
“Não vamos ser separados e não vamos deixar nossos amigos.”
Eles viajaram o mais rápido que puderam e quando se aproximavam do mar, onde embarcariam em um navio de mercadores que os levariam ao oriente, foram surpreendidos pela formação de uma tempestade, o céu escurecera e raios cortavam as nuvens em direção ao solo, explodindo perto deles. Aqueles chamados Caçadores logo trataram de pousar suas montarias aladas envolta dos demais guerreiros.
“Pelo Ser Infinito o que é isso?” – disse o Senhor do Lado Escuro
“Eu não sei, nunca vi uma formação assim.” – respondeu o Cavaleiro do Coração Gelado
“Mas eu sei o que é.” – disse a Senhora dos Ventos com uma expressão de tristeza, sabendo que poderia ser o motivo de sua angustia e completou: – “É o meu pai, só pode ser, e pelo que vejo se for ele, pela formação desta tempestade, não deve ser nada bom o motivo dele sair da nossa terra.”
Mal ela acabou de falar, um tornado se formou dos céus até o chão, mas sem causar estragos e quando se dissipou, apareceu a figura de um homem de cabelos longos com mechas brancas e negras que se apresentou dizendo que não temessem.
A Senhora dos Ventos desmontou e ficou a frente dele, se inclinou e lhe beijou as mãos e disse:
“Meu pai, senti que havia algo acontecendo, e por mais que esteja feliz ao vê-lo , estou muito angustiada e preocupada.”
“Algo terrível aconteceu sim, a sua irmã mais velha, está doente, apesar de muito poderosos, não somos imortais. E ela está perto da morte, e além de você ter que ir vê-la, só você pode assumir o lugar dela como sacerdotisa, nosso povo precisa de você. Precisamos do seu poder para manter o equilíbrio. Logo, pode ser eu a cair também, e você vai ter que reinar, mas enquanto for a sacerdotisa você sabe como devera viver.”
“Sim, meu pai eu sei. Mas vivi outra vida durante estes anos que estive fora de casa, minha alma esta dividida.” – ela disse olhando para o Cavaleiro do Coração Gelado.
“Você sabe dos votos que terá que fazer, enquanto for sacerdotisa, e foi em prol de você que sua irmã assumiu isso, te deixando livre, mas ela não imaginava que morreria assim tão cedo, ninguém imaginava, e você sabe como se sente um pai tendo que sepultar um filho. E temos que passar a imagem de uma sólida casa para nosso povo.”
Ela apenas concordou e pediu licença ao seu pai para ir falar com seu amado.
“O que está havendo?” – perguntou ele
“Aconteceu o que eu temia, estou aflita e angustiada. Vou ter que me separar de você, minha família e meu povo precisam de mim, sinto muito.”
“Não, não pode ser, não vou permitir que isso aconteça, vou com você se for preciso.”
“Não amado, você não pode, pelo menos não neste momento. Preciso assumir a função de sacerdotisa, e sou importante para manter o equilíbrio, e tenho que fazer votos de dedicação exclusiva. Perdoa-me, por favor, um dia poderíamos viver nosso amor de novo, mas peço que não me espere e nem tente me procurar, apenas pela sua presença os seus poderes poderiam desequilibrar a ordem das coisas. Frio e ventos nunca foram uma boa união em uma terra que concentra energias do clima do mundo.”
“Isso não pode estar acontecendo, você praticamente me salvou do mal, me tirou de uma vida de perversidades, o que vai ser de mim seu o seu amor para me aquecer? Temo pela minha natureza cruel sem você .”
“Você aprendeu muito, mudou muito e mesmo sem o meu amor perto de você, veja que você tem amigos leais que nunca te abandonaram e confiaram em você e eles precisam de você agora, ajude-os a chegar a terra do Chacal e salve-o.”
Aquele cavaleiro sabia que não poderia evitar e resolveu apenas ficar em silêncio e beijar sua amada, e por poucas vezes se vira o rosto dele tão corado como se estivesse quente, mas bastou o fim do beijo e que ela se afastasse para se juntar ao seu pai, e o rosto dele se acinzentara. Era a tristeza que parecia consumir a chama de sua vida.
A Senhora dos Ventos contara os últimos acontecimentos para seu pai nos minutos que ainda tinha antes de partir. O pai dela se aproximou mais dos guerreiros e disse:
“Agora sei o que passaram e o que estão passando e sinto muito pelo o que esta acontecendo e por estar tirando ela de vocês. O que vou oferecer a vocês é o mínimo que eu poderia dar pela perda que estou causando. Depois que vocês embarcarem, eu cuidarei que um vento firme e preciso sempre sopre à popa da embarcação de vocês e assim ganharão mais tempo em sua viagem, e nenhuma tempestade os assolará.”
E assim, eles se foram e após embarcarem, a promessa do pai da Senhora dos Ventos se cumpriu e um vento os empurrava na rota certa sem parar, de forma que o navio nem precisava ser comandado pelo timoneiro. E muito mais rápido do que eles imaginavam já estavam ancorando. Eles desembarcaram, perguntaram ao Chacal, no momento em que estava acordado qual era o melhor caminho. O Chacal levantou do leito sobre o qual era levado e apontou pra uma taverna e que procurassem uma pessoa que levasse no peito um medalhão com o símbolo de Anúbis, pois seria um dos poucos humanos que sabia o caminho até o reino de seu pai.
E assim acharam tal pessoa que ao ver o Chacal o reverenciou e prometeu levá-los o mais rápido possível.
Juntaram mantimentos e água e prepararam suas montarias e partiram rapidamente. A viagem durou dois dias e só havia mais duas gotas das lágrimas no frasco.
Eles pararam em na entrada de um vale entre os grandes paredões de rocha daquele deserto, e um sorriso de alívio pode se visto entre os caninos do Chacal.
“Se já chegamos, demos sorte por ter chegado rápido.” - disse o Lagarto
“Meu amigo, ainda tem algum pouco das lágrimas?” – perguntou o Chacal tentando se levantar.
“Sim meu amigo, como eu disse por sorte chegamos rápido, e ainda temos uma última gota.”
O Senhor do Lado Escuro, não hesitou em entregar a última gota ao Chacal, que não a aceitou dizendo:
“Quero que tenha uma lembrança assim da sua amada, ela as derramou por você. Acho que ainda tenho forças para agüentar, agora é só anoitecer e a lua cheia brilhar sobre os paredões.”
Talvez pelas lágrimas da Senhora da Dor, talvez por estar perto de casa, talvez pela lua cheia, mas o Chacal parecia melhor e ele sabia que só havia um meio de entrar no seu reino. Ele tinha que tentar mais uma TRANSFORMAÇÃO, e assim transformado ele uivou tão alto que se poderia ouvir a longa distancia naquele deserto e caiu em seu leito dizendo:
“Agora é só esperar um pouco, logo virão nos buscar.”
Em instantes, se podia ver os vultos de seres saindo de dentro do vale e que se aproximaram podia-se ver que eram da raça do Chacal, eles eram os soldados que vigiavam o local. Eles se aproximaram e disseram:
“Ouvimos o uivo de um de nossa raça e vemos apenas humanos.”
Os guerreiros que esta frente da maca do Chacal abriram espaço e ele pode ser visto pelos vigias.
“Pelo trono de Anúbis! É o príncipe e não está bem.”
Na mesma hora uma corneta foi tocada a frente deles um portal se abriu em pleno ar, na entrada do vale, mostrando o reino escondido entre as dimensões, invisível aos olhos.
“Estes humanos são meus amigos e me salvaram a vida e um deles é um guia servo do nosso reino. E deve ser devidamente recompensado e meus amigos devem ser hospedados no palácio de meu pai.”
Assim eles foram levados rapidamente a presença de Anúbis que ao ver a situação do seu filho se transfigurou de preocupação e raiva, que o levou para o seu leito e preparou rapidamente tudo que seria necessário para a cura.
Os guerreiros amigos do Chacal foram bem acomodados e esperaram por horas até terem noticias de seu amigo, que foram dadas diretamente pelo próprio Anúbis que também queria conhecê-los melhor.
“ Perdoem se não lhes fui atencioso em vossa chegada, mas devem imaginar o que é o desespero de um pai ao ver o filho naquela situação, e quero agradecer a vocês por terem lhe salvo a vida. O que quiserem levar do meu reino isso vos será dado, além da minha amizade eterna.”
“Agradecemos a vós pela amizade ofertada, o que para nós é o mais importante. Mas se não fosse pelo seu filho, eu mesmo já poderia estar morto e também nosso amigo Lagarto.” – disse o Senhor do Lado Escuro
“Ele mesmo me contou tudo enquanto era cuidado, falava de vocês com muito entusiasmo e carinho. Contou da sua amada e como ela te salvou e a meu ver ela também contribuiu muito para que meu filho se salvasse. Foram as lagrimas dela que o mantiveram vivo na viagem, foram os ventos da despedida da Senhora dos Ventos que fez o seu barco chegar tão rápido. Estas são amizades e amores verdadeiros, que se doam até na ausência, até na despedida. Estas são coisas que me fazem sentir bem, dentre sentimentos ruins como raiva e desejo de vingança contra quem fez isso com meu filho.”
“Queremos então que o senhor saiba, que partilhamos dos mesmos sentimentos e desejos, e que seremos leais ao que decidirem fazer quanto a isso.. Estaremos com o Chacal e com o senhor no que decidirem.” – disse o Cavaleiro do Coração Gelado.
“Mas eu não quero decidir isso agora” – disse o rei – “Quando meu filho se restabelecer, vamos todos decidir juntos. Estamos na lua cheia, tempo em que nos fortalecemos mais. Ele precisa de tempo para se recuperar, mas antes da próxima lua cheia teremos uma decisão.”
Eles brindaram aquele momento com vinho e aproveitaram os dias seguintes pra merecido descanso e reflexão. Muita coisa tinha acontecido a eles nos últimos dias e os dias que viriam seriam intensos. Todos os quatro guerreiros se perguntavam por que tinham que ter passado aquelas perdas em suas vidas. Encontraram aquelas que eles achavam ser suas almas gemas e o destino as tirou deles.
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Vários dias se passaram e ao fim da lua minguante eles tomaram a decisão. Anúbis queria a vingança pelo o que fizeram com seu filho, já totalmente recuperado.
Seu exércitos sitiaria a o reino das ninfas. Mesmo com um exército magnífico, Anúbis mandou mensageiros aos reinos das Górgonas e dos Cíclopes para pedir aliança, afinal era amigo de tais reinos e já fizera aliança quando eles precisaram. Que eles estivessem prontos no ultimo dia da lua crescente no local especificado.
Iriam utilizar de portais dimensionais para atravessar todo o exercito dos desertos do oriente até as terras altas ao norte do planeta, sem terem que viajar, tamanha distância.
E assim na tarde do dia da primeira lua cheia, enquanto o sol ainda ia alto, tudo parecia tranqüilo no reino das ninfas até que , como um presságio ruim, as trevas e o frio se abateram sobre eles. O exército daquele reino logo se pôs de prontidão e o rei observava da torre mais alta do seu castelo ao lado do príncipe dos elfos.
“Acho que sei o que é isso.” –disse o rei- “Aqueles dois guerreiros mercenários devem estar querendo nos assustar. São tolos de tentar atacar o reino assim.”
“Acho que realmente não são tolos e é isso que me preocupa. Já mandei por todo o exército de prontidão. Sinto que isso é só o começo”
Algum tempo depois as trevas começaram a recuar permitindo que a cidade fosse iluminada e revelando os dois guerreiros há uns duzentos metros dos muros. Quando o rei iria ordenar que os arqueiros atirassem contra os dois ele ficou assombrado com o que veria.
A nuvem de trevas recuou e revelou o mal que se abateria sobre seu reino. Era o maior e mais poderoso exército já visto, que havia atravessaram os portais abertos por Anúbis. De forma silenciosa e furtiva, como era próprio daquela raça, eles se apoderaram dos campos a frente do reino sitiando a cidade com soldados, carros de combate, catapultas e bestas arpoadoras. Mais de trinta mil seres entre os do reino de Anúbis, os Ciclopes e as Górgonas estavam prontos para o ataque, todos em silêncio.
O Chacal se mostrou ao rei do reino das ninfas, tão saudável quanto da primeira vez que apareceu ali, e junto com o Lagarto, se aproximou de seus amigos e entregou ao Senhor do Lado Escuro um arco e uma flecha.
Aquele “Guerreiro das Trevas”, esticou o cordão do arco o máximo que pode e atirou a flecha contra a torre onde estava o rei das ninfas, acertando o parapeito onde ele estava apoiada.
E na flecha havia um bilhete que o rei alcançou e pode ler:
“Estamos devolvendo a maldita flecha de prata que você usou para tentar matar meu filho. Saia da sua cidade e venha falar comigo, ou senão, nem toda prata do mundo poderá deter minha ira. Você tem ate amanhã ao nascer do sol.
Anúbis.”
Mal acabara de ler ele olhou para aqueles campos e viu o próprio Anúbis se aproximar de seu filho e dos dois guerreiros. Era aparentemente um ser como seu filho, mas seus poderes eram maiores e na sua TRANSFORMAÇÃO ele aumentava sua forma física, e como todos de sua raça, ganhava a forma de homens-fera, fazendo de seu corpo um misto de homem e chacal, porém Anúbis era muito mais imponente do que qualquer um de seu reino.
Era o inicio do terror, quando ele se transformou, todos de sua raça fizeram o mesmo. E quando Anúbis uivou pela primeira vez, foi seguido por todos os seus e agonia e a angustia tomou conta dos seus inimigos. Era um ruído de intensidade tremenda, logo seguido pela marcha do exercito até perto de seu rei e ali acamparam. Com a lua cheia os uivos prosseguiram durante toda noite, cessando apenas com o nascer do sol.
Os portões da cidade se abriram e uma comitiva saiu de lá, portando uma bandeira branca,liderado pelo rei das ninfas e pelo príncipe dos elfos em direção a tenda onde Anúbis, seu filho e seus amigos estavam acomodados.
Dentro da tenda um silencio imperava ate ser cortado pela voz de Anúbis.
“Sinto cheiro de medo em você, rei do reino das ninfas, alias , não é só cheiro de medo,mas sim de traição. Você não imaginava que o que fizeste, achando que tinha “poder”, daria nisso. Agora seu reino e qualquer outro reino que venha te ajudar, está prestes a ser destruído. Você julgou meu filho e minha raça pela aparência e afastou sua filha dele. Talvez poderíamos ter feito uma aliança e deixado os dois serem felizes, mas tirando a tristeza do meu filho, eu fico muito feliz de nunca me unir a criaturas como você. Então o que eu tenho a te dizer, rei, é que deixe a princesa vir, mas não contra a vontade dela, apenas deixe e pouparemos seu reino.”
O rei do reino das ninfas ficou em silêncio e depois respondeu:
“ Se eu a deixasse vir, que garantias teria contra você e seu exercito? O que me garante que não vai me destruir assim que ela estiver com vocês?
“Entenda, não sou mentiroso e traidor como você , se quisesse já teria te destruído em pouco tempo, tenho catapultas armadas prontas para destruírem seus muros e suas torres. Nem se você juntar cinco de sues soldados pode deter um único guerreiro meu, e você já viu isso na fúria do meu filho. e acredite é só por um pedido dele que ainda não agi.”
“Bem Anúbis, não vou ceder assim tão facilmente, apesar de não ter um exército como o seu, tenho algo que você quer. Na torre onde eu estava ontem esta cativa a minha filha, pode parecer crueldade um pai agir assim, mas se você tentar algo contra mim ou meu reino, ela morre antes que possam por as garras nela.”
Os ânimos estavam mais hostis naquele lugar, os brilhos dos olhos de Anúbis e seu filho revelavam um ódio cada vez maior.
“Louco, demente, usando a própria filha como escudo.”
“ E se quer mantê-la viva, mantenha seu exército longe.”
Mais silêncio, desta vez interrompido pelo príncipe dos elfos.
“Anúbis, não quero que me confunda com o rei das ninfas, não compartilho da mesma opinião apesar de ter desposado a filha dele. Como ela ainda esta em seu reino, não posso tirá-la de lá, eu mesmo era contra tudo isso e só aceitei casar com ela em obediência ao meu pai. Enquanto príncipe, não tenho poder para anular esta aliança, somente o rei pode e se um dia eu for rei, consertarei esta vergonha. Se houver uma guerra, sou obrigado a lutar, mas prefiro a paz e se ajudar quero declarar que para mim este casamento não passa mais de aparências e que mais que ninguém hoje eu gostaria de ver a princesa junto com seu filho.”
“Como você vê, senhor do reino das ninfas, temos aqui um meio aliado, solidário a nossa causa, mas preso a vergonha da sua aliança com o pai dele.”
O rei do reino das ninfas estava agora acuado, sabia que Anúbis e o Chacal não iriam contra seu reino com a ninfa lá dentro então para tentar ganhar tempo disse que permitia ao Chacal ir ao seu palácio conversar com sua filha.
Anúbis pensou, olhou para seu filho que concordou mas disse que se seu filho não voltasse no tempo determinado, o reino das ninfas seria invadido
Continua...