Layla & Tommy – PRÓLOGO

Em um quarto qualquer de um hotelzinho barato, Layla acende um cigarro – outro cigarro – a noite está fria e monótona, tão sozinha... Quem? A noite ou ela? Ambas talvez, afinal, sempre foram parecidas. É como diz seu nome “Layla: bela como a noite” e hoje a noite está estranha.

O telefone toca. E como só há duas razões para o seu telefone tocar ela se anima – trabalho ou “ele” – ambos fariam da noite interessante. Ela nunca admitiria qual razão prefere, mas seu coração dispara ansioso e a lembrança de um rosto sorridente lhe vem à mente – “Tommy” – se fosse ele trazendo trabalho então, tudo seria perfeito! Será que estava com tanta sorte assim?

Parece que não. O identificador de chamadas mostra um número desconhecido. Ela atende desconfiada:

—Alô

Do outro lado da linha, uma voz masculina responde:

— Alô, Layla? Aqui é o Bullet. O... Thomas... me deu esse número para o caso... de... uma situação assim.

Ela senta. Reconhece o nome “Bullet” – o aprendiz – Thommy falava muito dele. Traga o cigarro, aflita:

— Tá, o que aconteceu com ele? Surtou de novo? Tá muito fudido? Aonde ele tá? FALA LOGO, garoto!

A voz do outro lado vacila. Instantes de silêncio depois, ele finalmente fala:

— Não, ele não está bem. Eu estou te ligando porque... – ela interrompe:

— Só me diz aonde ele tá que eu vou pra lá agora mesmo!

— Layla, o Thomas morreu.

Silêncio dos dois lados da linha.

Ela - que já tinha levantado nervosa, calçado os sapatos e vestido o coldre - cai novamente na cama.

O silêncio parece eterno.

Layla segura tudo aquilo que ameaça explodir de dentro de si, respira fundo, acende outro cigarro e tenta ser prática. A voz sai quase num sussurro:

— Aonde ele tá? – antes da resposta, ouve um longo suspiro do outro lado.

— Eu o levei para uma funerária de confiança, eles estão prepar... – novamente ela o interrompe, agora aos gritos:

— COMO ASSIM? NÃO! Eu não quero que NINGUÉM toque nele até que EU chegue. Estamos entendidos?

O garoto levanta o tom de voz:

— Eu não podia deixar ele ATIRADO NO CHÃO. Eu só fiz o que me pareceu mais certo.

— Tá. Tá bom! Mas agora ESPERA que eu tô indo pra aí! Só me diz aonde é a “porra” do “aí”

— New York – responde ele, novamente calmo.

— Hm... Tinha que ser! E aonde ELE tá?

Ele passa o endereço e as coordenadas. Ela anota e desliga. Não se despede, nem agradece. Joga o telefone longe e deixa vir à tona o turbilhão de sentimentos que estava segurando. Sobretudo a raiva...

... Raiva por tudo o que viveram e pelo o que deixaram de viver - devido ao trabalho, ao destino, à sorte ou azar - Raiva por tudo que sentia e foi calado por seu medo e estupidez. Raiva por tudo o que morria com ele. E principalmente, raiva da própria Morte que, enfim, lhe roubou o amante....

O furacão vem à tona, destruindo o quarto de hotel e rompendo o silêncio da noite. Grita ofensas aos deuses, blasfema contra as fiandeiras do destino e ameaça até a Morte, antes de cair em lágrimas, fingindo pra si mesma, temporariamente, aceitar a derrota. Afinal, fingir é a sua especialidade.

Layla levanta e se recompõe, começando pelo cigarro. Junta suas coisas. Percebe que tudo o que lhe resta cabe em duas malas - pela primeira vez isso lhe parece tão patético que ela ri da própria desgraça - deixa o quarto, pela saída de incêndio. E assim, vestindo sua melhor máscara numa noite nada bela, ela parte - em pedaços - rumo à NY...