O encontro não marcado
Os sábados são ótimos, mas quando você vai descansar, percebe que tem que fazer feira, ir ao supermercado, levar o eletrodoméstico para consertar... Tem também aquela consulta ao médico que foi marcada há tempos...
Este, a que me refiro, além dos compromissos básicos, havia um imperdível: Reunião de Pais e Mestres na Escola. Tudo bem, tudo bem... poderia ser pior, pelo menos não haveria aquelas apresentações infindáveis, em que só queremos ver nossas crianças, e que invariavelmente acabamos nos emocionando.
As crianças estavam preocupadas com o que os professores pudessem dizer sobre elas. Aquela Escola não me estava agradando, e estudava a possibilidade de transferi-los para uma melhor. No trajeto, eis que me deparo com o Colégio de minha meninice.
Lá passei quatro anos inesquecíveis, sobretudo o penúltimo, quando tive experiências que só se repetiram depois de anos, já com alguns (vários) cabelos brancos e o rosto marcado pelo tempo. Tinha tempo de sobra. O portão estava aberto. Talvez pudesse haver alguém para dar informações sobre transferências.
“ Crianças, vamos conhecer a Escola do Papai “ disse contente.
Saíram em disparada explorando o espaço. Ao passar pelo portão e me deparar com o pátio coberto, que se mantém como antigamente, apenas com a diferença de hoje as paredes serem recobertas com azulejos, primeiro um sorriso rasgou meu rosto, em seguida um nó na garganta.
Olhava ao redor, e no ambiente vazio, podia vislumbrar cenas passadas, colegas caminhando, o vozerio do recreio, situações vividas, professores, freiras, amigos, “seu” Romeu o fiscal... Alguns passos mais e via agora o pátio onde passávamos os intervalos e onde também fazíamos Educação Física. Este, antigamente era aberto, agora coberto, se transformou em um belo ginásio, com arquibancada ao redor. Revi a lanchonete, que foi mantida como antigamente. Procurei a janela, de onde contemplava o pátio e curtia a fossa de outros tempos, mas ela não existe mais, no local foi construído um prédio anexo.
Aconteceu muito rápido. Logo apareceu um professor que veio verificar o que desejavam os invasores. Estava tão absorto que disse meia dúzia de palavras sem nexo e saímos. Ele nos acompanhou até a saída e informou o melhor dia para tratar sobre as transferências. O portão de ferro gemeu ao ser fechado. Em minha mente, podia ainda ouvir uma legião de seres que permaneceram do lado de dentro e minhas lembranças serem lentamente guardadas em um velho baú.
Lembrei-me então de “ O Encontro Marcado “ de Fernando Sabino. Não havia planejado um encontro com meus amigos 20 anos depois, mas casualmente na data exata lá estava eu. Não revi nenhum deles, mas me deparei com todos seus fantasmas.