Contos Fantásticos III – Caminhada (Parte I)
Contos Fantásticos III – Caminhada (Parte I)
Meu nome pouco faz questão, o que importa foi o crime que cometi, sinto hoje a necessidade de revelar o que eu tive de fazer. Matar a si para viver, matar o outro para viver.
Era uma eterna noite fria, as lágrimas dos Astros estavam prostradas no mar etéreo, e eu como os outros caminhava por entre os espinhos prostrados no chão com o nome de verdade. Meus passos se davam escarlates e deixavam um rastro acre de todo o veneno que me queimava. Algo dentro de mim me dilacerava.
As luzes produzidas pelas casas abrigavam o medo dos homens e escondidos eles focavam-se em sua mediocridade. A luz dos olhos falsos me feriam e eu não conseguia prosseguir naquele vácuo que me cobria emocionalmente, era como se estivesse jogado dentro do abismo que possuo adentrante o ser. Eu via ao longe os elementais da fagulha dançarem sua vida e morte. O Tempo para eles é diferente. Seus corpos liberando-se da lenha e do fogo, dançando, rodopiando a vida ganha, e a liberdade, logo depois morrendo no vento e caindo cinza, viver é deveras uma dádiva fatal, e no fundo, talvez eu tenha pressa.
Segui meus passos até perto da fogueira, olhei nos olhos do deus do fogo e ele me cumprimentou chamuscando-me a calça, senti nos seus olhos Dor. Perguntei a ele o porquê de aquecer todo esse poo miserável que o fingia louvar na escuridão que habita a mente e o espaço, ele apenas lançou-me mais fagulhas e sorriu.
“Para construir precisa-se destruir”. Até hoje esta frase grita em meu DNA por entre as células que parecem arder, inserida no meu núcleo, rugindo como fogo, queimando e dilacerando os sentidos que finjo ignorar. Depois de dialogar rapidamente com o chamuscador, decidi continuar minha peregrinação sem destino, como um exilado fadado à andar eternamente e sempre ao longe de sei país; eu sentia-me fora de mim.
Com os pés já doloridos e cansado de vagar, sentei-me onde o tempo ia mais saudoso, as nuvens turvas, e o breu iluminório tinha me inserido em aspectos degenerados, e por de trás das árvores quem e resguardavam, ouvi o sopro do vento. Sua brisa frágil tapou-me os olhos e seu cântico me trouxe um sentimento que atravessou minha mente às avessas. Eu sentia-me destruído internamente. Tentei perguntar ao vento o por quê dessas lembranças, mas minha voz não saiu e apenas as filhas do sofrimento e da memória escaparam de meus olhos, explicitando um lamento que se agarrava firmemente em minha garganta. Um rosto alvo e brilhante se deu em meus olhos, ao meu lado eu vi a lua acima de mim, atravessando bravamente o fino véu de nuvens duras e algodoadas. Fiquei sentado e deixei-a beijar minha face, queria que ela descesse e me acarinhasse, mas dessa vez ela não se prostrou em meus joelhos, eu apenas a admirei (e amei) de longe. Sempre longe...
Levantei-me e exclamei para a deusa:
Por quê apareces se não vem descer e me acompanhar?
Ela riu-se e seu brilho fez-se mais audacioso.
Eu faço meu dever que é o de iluminar a noite eterna ante os mortais e ainda assim, manter 'inda que distante meus olhos em ti...
Pelo passado?
Pelo passado de todos os cantos.
Ela me revolveu um sorriso enquanto eu estendia minha mão para tocá-la, nossos olhos enlaçaram-se em plenitude. Ficamos presos na eternidade deste instante, sentindo levemente meu corpo se virar, de costas, eu fui embora enquanto ela brilhava.
Junho de 2009